A resposta mais honesta que analistas britânicos oferecem a quem questiona o que irá acontecer no processo de saída do Reino Unido da União Europeia é: não é possível saber. A novela do chamado Brexit se estende há mais de dois anos, desde o referendo que selou a vontade de uma maioria de cerca de 17 milhões de eleitores de abandonar o vínculo do país com o bloco comercial. Os prazos vão vencendo e a pergunta continua no ar. O que fica cada vez mais claro é a crise política que se formou em torno da indecisão sobre a maneira como a ruptura deve ocorrer. A rejeição da proposta desenhada para uma saída menos abrupta representou a maior perda de um governo no Parlamento desde 1918. Na terça-feira 15, 432 parlamentares votaram contra o acordo, ante 202 votos a favor. O resultado quase custou a cabeça da primeira-ministra, Theresa May. A líder britânica, porém, conseguiu vencer mais uma votação sobre a sua permanência no cargo, no dia seguinte.

May promete consultar a oposição para saber como irá proceder nos próximos dias e deve voltar a apresentar alguma sugestão nesta semana. Os cenários possíveis daqui em diante são: uma saída sem acordo, uma nova tentativa de votar o mesmo plano, a elaboração de um novo desenho ou um novo referendo. Na prática, isso é tão abrangente quanto dizer que a proposta do Brexit pode cair por terra ou uma ruptura abrupta do bloco, sem transição. O prazo original para a saída é 29 de março. Sem nenhum acordo até lá, o cenário é o mais nebuloso, pois no dia seguinte o Reino Unido deixaria de pertencer à União Europeia.

Por um fio: a premiê Theresa May sobreviveu a uma votação contra sua permanência no cargo

Haveria uma paralisa completa e um impacto econômico de 6% do PIB, o equivalente a quatro anos de crescimento, com consequências por todo o globo. “A probabilidade de o Reino Unido deixar o bloco em 29 de março sem um acordo está diminuindo, uma vez que o Parlamento já deu sinais que pretende evitar este cenário”, afirmam os analistas do banco UBS, em relatório. A rejeição no Parlamento foi provocada por pontos que são considerados fontes de persistente influência europeia após a saída. O principal deles é um impasse sobre a criação de barreiras físicas na fronteira entre a Irlanda do Norte, pertencente ao Reino Unido, e a Irlanda, membro do grupo europeu. A região foi palco de conflitos no passado e a fronteira aberta faz parte de um acordo de paz.