Foi no período da grande crise mundial, em 1929, a partir da queda da Bolsa de Nova York, que os americanos Batson Borger, Glen Matson, James Marshall e John Lee fundaram, no Rio de Janeiro, as Lojas Americanas. Passados nove décadas, e hoje controlada pelo trio Jorge Paulo Lemann, Marcel Hermann e Carlos Alberto Sicupira, a gigante do varejo vive um novo começo, a partir da crise sanitária provocada pela pandemia da Covid-19. Nesse contexto, o foco da companhia tem sido o comércio eletrônico, impulsionado pelo aumento de transações pela internet desde o ano passado e, principalmente, marketplace. Desde o início da pandemia, o número de sellers na loja virtual da companhia dobrou. Hoje, são 104 mil lojistas vendendo produtos na plataforma virtual da Americanas, com 49 milhões de clientes ativos. “A Americanas está sempre se reinventando. Ela tem na história o DNA da inovação”, disse à DINHEIRO Valmir Andrade, diretor de marketplace da companhia.

O avanço da companhia em um segmento que vinha sendo comandado por Magazine Luiza, Mercado Livre e, mais recentemente, também pela Via, ocorre justamente no momento em que a empresa faz uma espécie de rebranding. Em abril, a empresa, que se chamava B2W, passou a se chamar Americanas S.A., com a clara intenção de usar o nome mais forte da marca e incorporar as operações de B2W Digital e das Lojas Americanas. Na última semana, a loja virtual da empresa passou a se chamar Americanas Marketplace.

Na teleconferência com acionistas durante a divulgação do balanço do segundo trimestre, o CEO da Americanas, Miguel Gutierrez, falou sobre as ações adotadas para ajudar na aceleração da entrada de sellers, como diminuição de taxas de comissão e campanhas de frete grátis em algumas praças. “Taxa é um dos instrumentos que o mercado tem trabalhado com agressividade comercial. Acreditamos que temos muito a fazer sobre isso”, afirmou. Entre abril e junho deste ano, o crescimento do GMV dos parceiros no marketplace foi de 30,1% em relação ao ano passado.

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“A Americanas está sempre se reinventando. Ela tem na história o DNA da inovação” Valmir Andrade, diretor de marketplace.

No primeiro semestre deste ano, a empresa registrou receita líquida de R$ 12,1 bilhões, alta de 37,9% sobre o mesmo período do ano passado. Parte desse resultado também tem relação com a sinergia obtida a partir do avanço das aquisições nos últimos 18 meses. A mais recente compra foi a rede de lojas Natural da Terra, em agosto deste ano. “Não tem solução de mercado para resolver tudo. A gente precisa construir soluções para os desafios que a gente se propõe”, disse Andrade.

O horizonte da companhia para os próximos dois anos é arrojado: o plano é de chegar a 150 mil lojistas na plataforma de marketplace até 2023. “Não quero o lojista para me fazer mais forte. É o contrário. Estou criando um ecossistema que tem vários serviços e quero oferecer tudo isso ao lojista.” A Americanas também tem investido em logística para atender o crescimento da demanda. Com 24 centros de distribuição em 12 estados, a previsão é inaugurar mais quatro até o fim do ano.

SUMMIT E justamente para atrair ainda mais sellers e ajudar os lojistas a entender a engrenagem das vendas pela internet, a empresa realiza, no dia 15 de outubro, um evento chamado Americanas Summit, que trará cases e conteúdos sobre como ajudar a desenvolver o negócio. “Acontece às vésperas da Black Friday e do Natal e a gente entendeu que precisava preparar esses lojistas.”

EXPANSÃO DO E-COMMERCE Até 2023, companhia pretende alcançar a marca de 150 mil sellers na plataforma digital de vendas. (Crédito:Divulgação)

Para o especialista em marcas Eduardo Tomiya, a mudança de nome pode ser um fato decisivo para o crescimento dos negócios. “Foi uma decisão importante trazer a marca mais conhecida do grupo, em um momento que as principais companhias têm facilitado acesso às plataformas de vendas”, disse.

Valmir Andrade também comentou sobre a polêmica em torno da rivalidade entre companhias brasileiras e chinesas. Em agosto, o CEO do Magazine Luiza, Frederico Trajano, disse à DINHEIRO que era necessário mais rigor na fiscalização dessas plataformas, para que não vendessem produtos sem nota fiscal. “O marketplace não é terra de ninguém na Americanas. Somos 100% a favor de toda a legalidade. Não há meio termo. Quem entra na nossa plataforma sabe disso”, disse Andrade.