Ao assumir o Ministério de Minas e Energia (MME), em 2016, o deputado federal Fernando Coelho Filho, então com 32 anos, precisou se cercar de personalidades da área para reconquistar a confiança dos investidores, que fora abalada pela tentativa desastrosa do governo Dilma Rousseff de reduzir a tarifa de energia em 2012. Ele chamou Pedro Pedrosa para a secretaria-executiva da pasta e Luiz Barroso para a presidência da Empresa de Planejamento Energético (EPE). O primeiro era o presidente da Abrace, associação que conta com as empresas que mais consomem energia no País.

O segundo era o braço direito de Mauro Veiga, um dos consultores mais respeitados de todo o setor. Completava o time Romeu Rufino, que embora já estivesse na presidência da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), sempre foi visto como alguém independente ao Executivo. Os três foram responsáveis por levar uma mensagem ao mercado: a partir dali, as regras seriam respeitadas e o setor seria uma prioridade do governo. Eles cumpriram a promessa. E os investidores responderam. Em dezembro de 2017, um leilão de fontes renováveis, por exemplo, vendeu R$ 13,9 bilhões em novos projetos. Pela primeira vez em 16 anos, o setor terminou o ano como o maior destino dos investimentos estrangeiros no Brasil, com US$ 12,5 bilhões em recursos.

Com os ajustes, a área de energia voltou a ser referência de planejamento em meio ao caos da infraestrutura no País. “O principal é a clareza de regras: segurança e estabilidade jurídica”, afirma Alexei Macorin Vivan, presidente da Associação Brasileira de Companhias de Energia Elétrica (ABCE). “A entrada do Pedrosa melhorou tremendamente essa questão. É um ponto que não pode se perder.” A declaração trás uma mágoa com políticas intervencionistas do governo Dilma, que desequilibrou, numa canetada, as contas de quase todas as empresas. Seis anos depois, o ministério agora sob o comando de Moreira Franco conseguiu reequilibrar o setor. Dessa forma, as empresas se valorizam e os leilões voltam a receber a atenção de investidores.

Especialistas tentam avaliar como o exemplo pode inspirar aprimoramentos em outras áreas da infraestrutura, onde o risco de leilões vazios é permanente. “O primeiro passo é melhorar as agências reguladoras”, diz Cláudio Frischtak, da consultoria Inter.B. “Historicamente, elas têm sido usadas como elemento de barganha política. Se o governo quer melhorar o ambiente de infraestrutura – e o mercado tem muito interesse nisso – é preciso de uma agenda séria.” Para Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), o Brasil possui poucos concorrentes na área de infraestrutura e, se ganhar a confiança dos estrangeiros, pode conquistar o dinheiro deles também. “Dinheiro não falta no mundo para sustentar obras pesadas.”


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