Mohsen Fakhrizadeh, o cientista iraniano que morreu na sexta-feira em um ataque atribuído pelo governo do Irã a Israel, era um homem praticamente desconhecido que ganhou notoriedade póstuma.

Teerã prometeu vingar a morte de Fakhrizadeh, que em janeiro se reuniu com o guia supremo iraniano Ali Khamenei, de acordo com imagens oficiais divulgadas após sua morte.

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Depois do ataque, o ministro da Defesa, general Amir Hatami, apresentou-o como seu vice-ministro e diretor do Departamento de Pesquisa e Inovação, com um “trabalho de destaque no âmbito da defesa antiatômica”.

Em abril de 2018, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, apontou Fakhrizadeh como o diretor de um programa nuclear secreto militar, algo que Teerã nega.

Qual era o papel do físico nuclear de 59 anos, que se deslocava em um carro blindado e com escolta?

– “Os que falam não sabem” –

Para Karim Sadjadpour, da Fundação Carnegie para a Paz Internacional (um centro de estudos americano), serão necessários meses ou anos “para avaliar todas as consequências da morte de Fakhrizadeh”.

“Os que realmente compreendiam o papel que ele desempenhava nas atividades nucleares do Irã não falam, e os que falam não sabem”, tuitou.

A imprensa americana afirmou que ele era o “alvo número um do Mossad” (serviço de Inteligência externo israelense) e “cérebro do programa nuclear iraniano”.

“Sabíamos que foi ameaçado de assassinato diversas vezes e que era seguido”, disse o general Hatami.

Fakhrizadeh foi citado em dezembro de 2015 em um documento da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que considerava que ele dirigiu no início da década 2000 “atividades de apoio a uma possível dimensão militar” do programa nuclear iraniano.

Em março de 2007, Fakhrizadeh foi objeto de sanções do Conselho de Segurança da ONU ao lado de outras “pessoas envolvidas no programa nuclear, ou de mísseis balísticos” do Irã. A resolução 1747 o identificou como “pesquisador do Ministério da Defesa e ex-diretor do Centro de Pesquisa Física (PHRC)”.

As sanções foram suspensas após a entrada em vigor do acordo sobre o programa nuclear iraniano assinado em Viena em 2015 entre Irã, China, Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e Alemanha.

– “Soleimani das ciências” –

Depois da decisão do presidente Donald Trump de retirar os Estados Unidos do acordo de 2018, as sanções emitidas em 2008 por Washington contra Fakhrizadeh foram retomadas, com base na resolução 1747.

O vice-presidente iraniano, Ali Akbar Salehi, também diretor da Organização Iraniana de Energia Atômica, afirmou que Fakhrizadeh tinha doutorado em “Física e Engenharia Nuclear” e trabalhou em sua tese com Fereydoun Abbassi Davani, ex-diretor do organismo, alvo de uma tentativa de assassinato em 2010.

Ao recordar de Fakhrizadeh na imprensa estatal como um “amigo próximo, com uma colaboração profissional estreita de 34 anos”, Abbassi Davani disse que trabalhou com Fakhrizadeh durante a guerra entre Iraque e Irã (1980-1988).

“Trabalhou em todas as áreas para apoiar as atividades nucleares do país, principalmente no enriquecimento de urânio”, disse Abbassi Davani, que o considerava um “gerente competente e um cientista de prestígio” que pode ser elevado “no campo das ciências ao mesmo nível de mártir” do general Qasem Soleimani. Este último foi morto em ataque executado por forças americanas em janeiro deste ano.

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