Desde criança, o paulista Henrique Dubugras e o carioca Pedro Franceschi eram diferentes dos seus amigos. Enquanto os colegas faziam traquinagens típicas da idade e conversavam sobre os desenhos que assistiam na TV, eles falavam sobre programação de computador. Antes de completarem 20 anos, os encontros com outros jovens continuavam fora dos padrões da faixa etária. A natural preocupação por encontrar o primeiro emprego ou a compreensível cabeça quente por causa de alguma prova da faculdade não fazia parte do papo dos dois. Eles estavam mesmo preocupados com as reuniões que iriam fazer, as metas que teriam de bater e as contratações que precisavam efetuar para a startup que criaram. Cabeças privilegiadas que geraram conquistas precoces. A mais recente delas veio na terça-feira (5), com a presença de Henrique, hoje com 26 anos, e Pedro, 25, no 36º ranking anual da Forbes das pessoas mais ricas do planeta.

São os dois mais recentes bilionários brasileiros na famosa lista da revista americana, com fortuna avaliada em US$ 1,5 bilhão cada ­— algo em torno de R$ 7 bilhões. O outro brasileiro que superou a marca de um bilhão de dólares em patrimônio e teve seu nome incluído pela primeira vez entre os afortunados é Sasson Dayan, do banco Daycoval, com US$ 1,3 bilhão. Ao todo, são 62 pessoas do Brasil que fazem parte do clube do bilhão. O mais rico deles é Jorge Paulo Lemann (US$ 15,4 bilhões), acionista controlador da gigante cervejeira AB Inbev e detentor de participações em conglomerados internacionais.

No mundo são 2.668 bilionários que possuem US$ 12,7 trilhões, com Elon Musk (Tesla e SpaceX) na liderança da lista pela primeira vez por conta da bagatela de US$ 219 bilhões. À revista Forbes, Henrique Dubugras comemorou o feito com os pés no chão. “Acho que é fácil para as pessoas pensarem que já somos bem-sucedidos. Nós somos e não somos. Estamos obviamente felizes com o que alcançamos, mas há muito mais por vir.”

PRODÍGIO O carioca Pedro Franceschi desbloqueou um iPhone 3G aos 12 anos. Aos 15, fez a Siri falar português. (Crédito:Divulgação)

INÍCIO Henrique Dubugras e Pedro Franceschi são sócio e amigos. Mas nem sempre foi assim. Os dois se conheceram no final de 2012 pelo Twitter, durante uma discussão sobre programação. O debate acalorado saiu dos rasos 140 caracteres e foi parar no Skype. Das divergências o papo evoluiu para as afinidades. A paixão pela tecnologia falou mais alto e eles viraram amigos. Afinal, dois prodígios juntos podem ser mais bem-sucedidos do que separados.

Levaram para a amizade e para os negócios o dom que já mostravam antes de se conhecerem. Henrique, aos 16 anos, criou o Estudar nos EUA, aplicativo de educação e dicas de como acessar o ensino americano. Em um mês, ficou entre os dez mais baixados na app store. E venceu uma maratona de programação em Miami. Já as peripécias de sucesso de Pedro foram ainda mais prematuras. Aos 12, foi a primeira pessoa do mundo a desbloquear o iPhone 3G. Aos 15, fez a Siri, a assistente de voz da Apple, falar português.

Juntos, em 2013, logo após aquelas discussões no Twitter e no Skype, Dubugras e Franceschi resolveram unir suas forças e fundaram a primeira empresa, a startup Pagar.Me, dedicada a facilitar pagamentos on-line a comerciantes. Com 150 funcionários comandados por dois meninos, foi vendida para a Stone em 2016 — o valor do negócio não foi relevado. Em setembro daquele ano, a dupla mudou-se para a Califórnia com outra ideia na cabeça. Rapidamente captaram o investimento necessário para abrir no Vale do Silício a fintech Brex, em março de 2017, antes de deixarem o primeiro ano da faculdade em Stanford. A empresa fornece cartão de crédito corporativo para startups. O diferencial é a agilidade, características de seus fundadores.

Em 2018 seu valor de mercado era estimado em US$ 1,1 bilhão. No total, em cinco anos, captou R$ 1,2 bilhão. No início deste ano, a companhia recebeu seu mais recente incentivo, de US$ 300 milhões, em uma rodada de financiamento liderada pelas empresas de investimento Greenoaks Capital e TCV, o que lhe garantiu uma avaliação de mercado de US$ 12,3 bilhões. Dubugras e Franceschi detêm participação de 28% na Brex, o equivalente a US$ 1,5 bilhão para cada um, montante que garantiu a estreia da dupla na lista de ricaços da Forbes. Nesse ritmo, Elon Musk que se cuide.