Entrou em vigor na segunda-feira (7) o teto de preço para o petróleo bruto russo imposto pela União Europeia e o G7.  O objetivo é estrangular a economia russa por conta da invasão na Ucrânia. Os 27 países europeus do bloco, além do G7 e da Austrália concordaram em fixar um preço máximo de US$ 60 (R$ 312) para a compra do barril do petróleo do país. 

O mecanismo é mais uma resposta à Rússia após a invasão da Ucrânia, em fevereiro. Uma segunda etapa desse bloqueio acontecerá em fevereiro de 2023, quando ele valerá também para produtos refinados, como gasolina e diesel. Especialistas explicam que ela pode funcionar geopoliticamente, mas que economicamente ela pode significar alguns problemas.   

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“Os países ocidentais estão bem cautelosos nas reações contra o governo russo por conta de sua dependência de insumos deste grande player mundial. Por isso, o preço máximo estipulado não está muito fora do valor de mercado atual em algumas regiões, até por isso que Ucrânia e outros aliados reclamaram por ser um movimento muito tímido”, explicou a especialista em gestão e business pela FIA, Carol Curimbaba. 

Risco de desaquecimento no inverno

A medida vai colocar ainda mais tensão entre a Europa e a Rússia, já que os russos anunciaram que não desejam vender o barril a esse preço. Atualmente, o óleo russo, que é de um tipo diferente do negociado pelos Estado Unidos, é vendido por cerca de US$70 o barril. O professor de finanças da PUC-SP Augusto Caramico explicou que a Europa vai precisar de fontes alternativas de petróleo em um cenário onde o preço da eletricidade já está elevado e tende a subir com o começo do inverno.    

“Esse teto do preço é mais um dos instrumentos que a União Europeia tem para tentar limitar o lucro da Rússia com o petróleo, mas a Europa não pode ficar sem petróleo e gás, porque ela vai entrar no inverno. A população não tem petróleo, não tem calefação, não tem gasolina. A França chegou a ficar sem gasolina e diesel”, explicou, dizendo que a medida também foi pensada para conter a inflação que está em alta no continente. 

OPEP + não tem interesse em aumentar a produção

A possibilidade de um impacto na oferta do petróleo russo pode chegar a 2 milhões de barris diários, de acordo com agências de energia. Isso quer dizer que a distribuição pode ficar bastante prejudicada no mundo inteiro. 

Uma das saídas poderia ser uma maior produção nos países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), porém isso não parece estar no radar desses Estados. O analista de Energia e Macroeconomia da Hedgepoint Global Markets, Heitor Paiva explica a situação da organização.

“Hoje a OPEP produz cerca de 5 milhões abaixo da própria meta, porque existem três membros sofrendo sanções: Rússia, Irã e Venezuela. Esses países não recebem investimentos estrangeiros e não têm a capacidade de se autofinanciar. Quem poderia aumentar essa oferta, porque tem uma capacidade ociosa, são os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita. Só que as declarações recentes mostram que eles não querem por estarem preocupados pela queda no preço. Nem os Estados Unidos nem a OPEP+ podem salvar o mercado atualmente”, analisou.

Impacto inflacionário pode chegar ao Brasil 

Apesar de a medida ter sido tomada pelos países da União Europeia mais a Austrália, o impacto dela pode atingir grande parte do mundo, já que pode alterar o preço global do Petróleo.

A sanção vem, por exemplo, no momento em que a China está revendo a sua política de covid zero, o que pode significar que o país pode se abrir a partir de 2023 e demandar mais petróleo. Paiva explica que esse cenário pode pressionar ainda mais a inflação global, inclusive no Brasil. 

“Foram os problemas de oferta que levaram o barril do petróleo a mais de US$100 esse ano e a inflação no Brasil a 10% em 2021. Isso pode gerar um impacto inflacionário que pode sair do controle e isso vai acontecer no mesmo momento que a China está reabrindo e vai demandar mais petróleo”, analisou.

“Se tivermos uma estiagem no Brasil ano que vem e precisarmos importar gás liquefeito no mercado, nós vamos pagar mais por esse gás porque a Europa já vai estar comprando. O segundo ponto é a questão do diesel, nós não importamos petróleo, mas se em fevereiro o embargo do diesel russo acontecer nesses mesmos moldes, países que importam diesel no mercado internacional podem sofrer já que essa oferta também vai diminuir. Hoje, o Brasil importa cerca de 30% do diesel, dependendo do mês, isso é bastante representativo. Se a Petrobras continuar com a política de paridade internacional de preços, ela pode ter que passar esse aumento para o consumidor”, encerrou.