O administrador de empresas com pós-graduação em Economia André Massaro é o convidado do terceiro episódio do MoneyPlay Podcast, programa criado para jogar uma luz sobre o mundo das finanças, apresentado pelos educadores financeiros Carol Stange e Fabricio Duarte.

Na entrevista, Massaro, que também é professor de finanças na B3 Educação e autor de cinco livros sobre finanças e investimentos, conta como foi o início de sua carreira, o trabalho como trader e como é trabalhar com educação financeira.

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Massaro conta que, no fim de sua graduação, havia duas possibilidades de especialização – Marketing ou Finanças. “Mas eu era burro demais para fazer Marketing”, brinca. Para ele, o profissional de Marketing tem a capacidade de se colocar na pele do cliente, do comprador, o que que ele tinha dificuldades, então Finanças era a única escolha possível.

Depois da experiência como executivo em uma pequena multinacional, Massaro virou trader (investidor do mercado financeiro que busca ganhar dinheiro com operações de curto prazo) e viveu dessa profissão por quase seis anos. Nessa época, um evento marcante foi quando ele teve sua primeira perda de cinco dígitos em 2006.

“Atuava sem método ou técnica, então fiz quatro operações consecutivas que me geraram a perda. Apesar de já ter muita experiência em finanças como profissional, estava começando e é diferente quando é seu o dinheiro”, afirma. “Só percebi no fim do dia e fiquei atordoado por algum tempo, mas nunca cheguei nem perto de quebrar.”

Educação financeira

Essa história definiu o que ele faria dali para frente. “Virei um sujeito obsessivo com gerenciamento de risco e por isso virei o investidor cético”, diz. Mas o início da nova profissão não foi fácil. “Achei que seria tranquilo, mas vi que estava enganado, pois no mundo das finanças pessoais, o que menos tem é finanças”, justifica.

Para o professor, 99% dos problemas financeiros das pessoas não se resolvem com dinheiro. “Se colocou dinheiro e o problema não sumiu, ele foi só um analgésico: tirou a dor, mas a doença continua”, compara. Ele vincula quase a totalidade dos problemas financeiros a questões psicológicos, falhas lógicas de raciocínio, comportamento e até problemas morais.

E, para um profissional de educação financeira ter sucesso, Massaro acredita que ele precisa ter mais forte seu lado educação do que o de finanças. “O que não falta no mundo é gente que tem todo o conhecimento de finanças e, ainda assim, vive com a vida bagunçada.”

O motivo? “As pessoas querem respostas rápidas, facilidade, dicas, mas isso não é problema financeiro”, afirma. “É como alguém que quer emagrecer 30 kg em duas semanas e está disposta a qualquer coisa, desde que alguém diga o que ela quer ouvir.”

E quando alguém pede esse “atalho” a Massaro, sua recomendação é simplesmente negar. “Quem dá dica, não sabe. Quer investir, estude, aprenda, saiba fazer suas próprias análises”, orienta. Se insistem, a reposta do professor é dura, mas bem-humorada: “pergunte ao seu cachorro.”

Para escolher seus investimentos, Massaro segue o pensamento crítico – técnicas para avaliar argumentos em busca de falhas lógicas. Para ele, boa parte dos problemas financeiros acontece por falta de ceticismo, tanto de quem gasta por conta, quanto de gente que acredita em coisas que lê em redes sociais.

“Tem gente perdendo a economia de uma vida inteira por causa de dicas de quem age como se a bolsa fosse um cassino”, alfineta. “Há uma grande quantidade de pessoas e cursos picaretas se travestindo de educação financeira, como vendas direta de produtos e serviços que grande parte das vezes são irrelevantes ou mesmo danosos para a pessoa.”

Por que falhamos?

Mesmo com tanto acesso a informações as pessoas ainda têm dificuldade em guardar dinheiro. A resposta, segundo Massaro, está em nossos antepassados do paleolítico. “Não fomos feitos para pensar no longo prazo. E não é só com dinheiro, mas com tudo.”

O professor afirma que grande parte das coisas que as pessoas querem fazer dá errado porque há objetivos conflitantes no curto e no longo prazo. “Milênios de evolução nos forjaram como seres que pensam no curto prazo, no prazer imediato”, completa.

Para Massaro, a ferramenta mais simples e efetiva para gerenciamento de risco é a diversificação da carteira de investimentos. “Todo mundo vai errar em algum momento e a diversificação limita o impacto de um erro, ‘espalhando’ os investimentos de forma estratégica.”

Ele lança mão de um exemplo prático para mostrar a importância de variar os investimentos: “uma pessoa que tem cinco ações de bancos na carteira, mesmo que de instituições diferentes, está diversificando, mas uma diversificação ruim, pois são empresas similares. Na prática, é como se estivesse investindo em uma coisa só.”

Para o professor de finanças, uma carteira segura no Brasil teria, pelo menos, duas ações de empresas diferentes de 10 setores variados. Mas ele ressalta que eficiência e gestão de risco não combinam. “Um investidor que gerencia o risco é necessariamente ineficiente”, afirma.

“Eficiência é maximizar o ganho, mas se você pega uma ação com 99,9% de confiança que ela vai subir e coloca tudo nela, mas se o mercado ficar no 0,01%, você quebrou”, explica Massaro. Ele compara a um seguro de carro: não é eficiente ter, pois você poderia aplicar o dinheiro em outra coisa, mas gerencia o risco de um sinistro.

Confira também os outros episódios do programa aqui.