Em pouco mais de uma semana, o Itaú Unibanco anunciou três parcerias ou aquisições para ampliar sua atuação. Nada muito surpreendente para um banco do porte do Itaú. No entanto, os negócios divulgados têm algo em comum. Todos eles foram fechados com empresas além do sistema financeiro.

A maior transação foi um acordo bilionário com a empresa de sistemas de gestão Totvs, em uma joint venture para distribuir produtos e serviços financeiros do Itaú para os cerca de 40 mil clientes que usam os serviços da Totvs. A empresa de sistemas fundada nos anos 1980 por Laércio Cosentino vai entrar com uma operação já existente denominada Techfin, além de pessoas e conhecimento técnico, e terá 50% da joint venture. O Itaú terá os outros 50% por meio de um aporte inicial de R$ 610 milhões, mais outros pagamentos que podem chegar a R$ 450 milhões em cinco anos, condicionados a que algumas metas sejam atingidas. A associação foi anunciada na segunda-feira (18).

Não foi a única transação. No dia 11 de abril, a Rede, empresa de processamento de pagamentos do Itaú, e a Dooca, uma plataforma de criação de lojas virtuais pertencente à empresa de TI Locaweb, anunciaram uma parceria para servir as pequenas e médias empresas que já fazem parte da base de clientes de Rede e Dooca. Posteriormente, a intenção é atrair novos fregueses para os sistemas. Finalmente, na terça-feira (19) o Itaú divulgou a compra de 12,82% do capital social da plataforma Orbia, um marketplace dedicado aos empresários do agronegócio controlado por Bayer, Yara Brazil Fertilizantes e Bravium Comércio. No comunicado divulgado aos acionistas, o Itaú informou que a Orbia é o “maior marketplace de agronegócio do Brasil, com destaque para insumos e outros serviços agrícolas”.

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“Teremos mais visibilidade das operações dos clientes e poderemos ser mais assertivos na concessão de crédito e no oferecimento de serviços” Marcos Cavagnoli Diretor de Digital Cash Management e Open Finance do Itaú.

JORNADA DO CLIENTE Sistemas de gestão, tecnologia, agronegócio. A princípio, nenhuma dessas atividades tem relação com o dia a dia de um banco, concentrado em conceder crédito e processar transações. No entanto, as transações anunciadas pelo Itaú Unibanco sublinham a convergência crescente entre bancos e companhias que processam informações. “Um dos primeiros lançamentos da joint venture será um painel de gestão financeira, que terá uma visão mais apurada das finanças do cliente”, disse o diretor de Digital Cash Management e Open Finance do Itaú, Marcos Cavagnoli. A intenção, disse ele, é tornar mais suave a jornada no cliente, que hoje tem de alternar a consulta entre sistemas de gestão e os portais dos bancos. “De cada dez gerentes financeiros, 11 reclamam disso”, afirmou Cavagnoli.

O mesmo raciocínio vale para a Rede. Segundo o diretor Rodrigo Carneiro, o produto foi montado em parceria com a Locaweb pensando no varejista que quer iniciar ou ampliar suas vendas no ambiente virtual. “Notamos essa necessidade durante a pandemia, com muitos clientes que possuíam apenas vendas no meio físico e tiveram de diversificar seus canais devido às medidas de restrição”, disse Carneiro. Apesar de a Rede já oferecer algumas funcionalidades de comércio eletrônico e de a Locaweb já ter algumas soluções de pagamentos, a parceria visa facilitar a vida do cliente. “A ideia é reduzir o atrito na contratação dos serviços”, afirmou.

Redução de atrito, facilitação de serviços, suavização da jornada. Na prática, os movimentos do Itaú mostram a importância crescente, para os bancos, de ter mais informações sobre as atividades empresariais de seus clientes. Segundo Cavagnoli, a parceria com as plataformas de gestão vai proporcionar um conhecimento além das entradas e saídas do caixa. “Teremos mais visibilidade das operações dos clientes, como fluxos de vendas, operações e transporte, e poderemos ser mais assertivos na concessão de crédito e no oferecimento de serviços”, disse ele. “Isso vai além do que atualmente é a prestação de serviços bancários.”