O povo brasileiro é reconhecido internacionalmente por suas habilidades na música e no futebol. Fazemos um Carnaval que é a festa popular mais admirada do planeta e somos o único país a ter vencido cinco Copas do Mundo. Esses são os clichês que predominam quando o assunto é o “talento” dos brasileiros. Quanto à qualidade do ensino e à capacidade de produzir conhecimento, o Brasil costuma ser avaliado de forma bem menos positiva. É vergonhosa a posição que ocupamos no ranking do PISA, o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes. Somos a 59ª nação em leitura, a 63ª em ciências e a 66ª em matemática. Detalhe: participam do exame apenas 70 países.

Nesta semana, outra avaliação global revelou a dramática situação brasileira quanto à capacidade de desenvolver, atrair e reter talentos para o mercado de trabalho. Divulgado em Singapura, o IMD World Talent Ranking 2018 avaliou 63 países a partir de dados fornecidos por mais de seis mil executivos. Em 2017, o Brasil ocupava a 52ª posição. Caiu para a 58ª neste ano. O desempenho brasileiro piorou tanto no que se refere ao investimento público em educação e à qualidade do ensino primário e secundário (medido pela relação aluno/professor) quanto ao que cabe à iniciativa privada: a implementação de estágios e a capacitação de funcionários.

Trata-se de uma questão crucial para uma economia que, após sair de um prolongado e danoso ciclo recessivo, precisa se expandir rapidamente para poder gerar emprego, renda e impostos que tirem os estados da calamidade fiscal em que se encontram. Incapaz de desenvolver, atrair e reter talentos, o Brasil terá dificuldade para responder às urgências econômicas e sociais que se impõem na agenda dos próximos anos. Enquanto amargamos o 58º lugar no ranking mundial de talentos, Suíça e Dinamarca lideram a lista pelo quinto ano consecutivo. A Noruega, que avançou quatro posições desde 2017, agora aparece em terceiro. A melhora norueguesa se deve basicamente à maior eficiência nos gastos públicos em educação. O mesmo ocorreu no Peru, que subiu cinco posições para ocupar, neste ano, o lugar que era do Brasil em 2017. O bom desempenho peruano
também se deve às melhorias dos gastos governamentais no setor, à redução da fuga de cérebros e à disponibilidade de executivos com experiência internacional significativa.

No Brasil, a evasão de talentos é um dos sinais de alerta sobre o quanto as áreas de ciência e tecnologia foram negligenciadas. Especialmente após a aprovação da PEC do teto de gastos. Embora fundamental para equilibrar as contas da União, a Emenda Constitucional que instituiu um novo regime fiscal reduz a capacidade do governo de estimular o conhecimento. Diante dessa limitação, cabe mais que nunca à iniciativa privada criar condições favoráveis para desenvolver setores que serão estratégicos para o Brasil. Só assim será possível ganhar competitividade para protagonizar uma liderança global compatível com o tamanho, a economia, a população e os recursos naturais que o País dispõe.

(Nota publicada na Edição 1097 da Revista Dinheiro)