O destino de milhares de trabalhadores em todo o mundo está nas mãos deste senhor de vasto bigode que aparece na foto acima. Seu nome é Dieter Zetsche (foto), ele é o chefe executivo (CEO) do Grupo Chrysler e foi colocado nesse posto pelos chefões da Daimler, que comprou a marca norte-americana, para tentar de todas as formas livrá-la do atoleiro financeiro. Em janeiro, Zetsche suspendeu as atividades de seis fábricas em vários países e anunciou o corte de 26 mil postos de trabalho. O objetivo das medidas era estancar um prejuízo de US$ 500 milhões no ano passado e que poderá chegar a US$ 2 bilhões neste ano. Entre as fábricas lacradas pelo alemão está a de Campo Largo (PR), que produz picapes Dakota. Lá, 250 trabalhadores permanecem de braços cruzados desde 19 de abril. O prazo para o término das ?férias coletivas? encerra-se em julho e o suspense em torno da decisão do Grupo DaimlerChrysler está deixando os metalúrgicos paranaenses com os nervos à flor da pele. Primeiro, pelo motivo óbvio da iminente perda do emprego. Depois, porque eles e a rede de revendas da Chrysler consideram injusta a supensão das atividades no caso brasileiro. A tese é uma só: o Brasil é exceção e não a regra e como tal não poderia entrar na dança de cortes e fechamento de fábricas. De acordo com Mauro Saddi, presidente da Associação de Revendedores Chrysler, no ano passado pouco mais de seis mil Dakotas foram vendidas no País. ?Só não venderam mais porque não produziram. É um carro fabuloso para se comercializar?, diz Saddi. Some-se a isso o potencial das picapes no Brasil e a turma do Paraná é enfática: os alemães estão sendo mal orientados e podem cometer um erro.

Os motivos que fizeram a Daimler perder dinheiro com a Chrysler, na visão de Saddi, em nada tem a ver com a deficiência na política de vendas ou com dificuldades de aceitação do modelo. O erro, segundo ele, está na forma como a empresa conduziu seu projeto no Brasil. A crítica parece fácil para quem está fora dos escritórios da companhia, mas alguns pontos de vista de Saddi são procedentes. Inaugurada em junho de 1998, a fábrica de Campo Largo produzia apenas a cabine da Dakota. Todo o resto era importado. Quando o dólar dobrou de valor, em janeiro de 1999, o custo da picape acompanhou o ritmo. Mas, assim como quase todos os veículos nacionais, teve de segurar o valor de venda em real. O modelo mais barato sai por R$ 27 mil e o mais luxuoso, de cabina dupla, fica em R$ 59,9 mil. Preços mais ou menos compatíveis aos das S10, da GM. Só que a S10 tem 80% de peças nacionalizadas.

Outro fato contribuiu para os pro-blemas em Campo Largo. Dois meses antes da inauguração da fábrica, os alemães da Daimler compraram a Chrysler e foram cortando cabeças na montadora. ?Os executivos norte-americanos sabiam quanto tempo mais ficariam. Foram incompetentes, não prepararam a nacionalização do produto e começaram a tomar prejuízo?, afirma Saddi. O revendedor acredita que uma correção de rumo, com a produção de componentes no Brasil, seria suficiente para transformar a Dakota numa das líderes do mercado, como é nos EUA. Aliás, na avaliação de Saddi, toda a linha Dodge e Jeep poderiam fazer por aqui o mesmo sucesso que fazem lá. Ele cita como exemplo o modelo PT Cruiser, misto de jipe e carro antigo. ?Custa R$ 79 mil e temos mais de 120 clientes na fila?, garante. ?Os 50 exemplares que são importados por mês já chegam vendidos.?

As alternativas apresentadas pela montadora para a planta de Campo Largo foram muitas, mas nenhuma definitiva. Chegou-se a cogitar a fabricação de um carro com a marca Mitsubishi, que também é dos alemães. Falaram na produção da perua utilitária Sprinter, que é feita na Argentina. Insinuaram até a possibilidade de vender as instalações para uma outra montadora, a Nissan, por exemplo, que lançará seus modelos no Brasil em 2002. Mas a marca japonesa optou pela fábrica da sua controladora, a Renault, em São José dos Pinhais (PR). O departamento de comunicação da DaimlerChrysler informa que as alternativas estudadas indicam a continuidade das operações em Campo Largo. Até porque o empreendimento recebeu a prorrogação por dez anos do recolhimento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS) do governo do Paraná. Com os carros já vendidos, isso significaria uma dívida de R$ 100 milhões. A Prefeitura de Campo Largo, além de dar o terreno, isentou a empresa de recolher IPTU e Imposto sobre Serviços (ISS) por dez anos. O ambiente parece propício para a recuperação da marca no País.