Gabriel Jaramillo riu por último – e melhor. Sete anos atrás, o presidente do Santander no Brasil bancou a compra do Banespa por R$ 7 bilhões para garantir um lugar entre os maiores privados do País. O lance ousado – quase R$ 5 bilhões a mais que a oferta do segundo concorrente, o Unibanco – revelou-se barato aos olhos de quem estava entrando para valer no mercado bancário brasileiro. “Estávamos certos”, diz Jaramillo a qualquer um que o lembre do histórico leilão. Musculoso, o Santander deixou para trás seu maior rival na América Latina: o BBVA, que comprou o Excell Econômico, quebrou a cara e acabou saindo do Brasil. Agora, o executivo está realizando o sonho de muitos banqueiros. A compra do Banco Real, praticamente fechada na semana passada por R$ 30 bilhões, fará do Santander o segundo maior banco privado do País, à frente do Itaú. Jaramillo, mais uma vez, mostrou que não está para brincadeiras. Será ele o próximo presidente da Febraban? Quem sabe.

Jaramillo já tem credenciais para liderar a entidade dos bancos, geralmente presidida pelos gigantes privados nacionais. Atualmente, Fábio Barbosa, atual presidente do Real, ocupa o posto que já foi de Roberto Setubal (Itaú) e Alcides Tápias (ex-Bradesco). Difícil imaginar um estrangeiro à frente da Febraban. Mas Jaramillo, 58 anos, está mais brasileiro do que nunca. Nasceu na Colômbia, mas naturalizou-se cidadão tupiniquim. Sua esposa, Marta, e as duas filhas, também. É torcedor do São Paulo Futebol Clube, adora pescar e dirigir seu New Beetle nos fins de semana. Ama livros de história e está lendo O Banqueiro do Sertão, de Jorge Caldeira. Mas são os negócios que o colocam lado a lado com seus pares locais.

Sob seu comando, o Santander unificou a marca, as operações e os sistemas das instituições compradas nos últimos anos. Banespa, Geral do Comércio, Noroeste, Meridional e Bozano, Simonsen foram engolidos pelo Santander. Desde 1999, quando trocou Bogotá por São Paulo, o discreto Jaramillo preparou o terreno para dar um novo grande salto, a compra do Real. “A vocação para o crescimento faz parte do DNA do Grupo Santander”, afirma. É verdade: em menos de oito anos, de um banco médio, passou a líder de mercado. Os espanhóis superaram as pretensões do Bradesco e do Itaú ao comprar a matriz do Real na Holanda, o ABN Amro, por US$ 100 bilhões, num consórcio com os bancos europeus RBS e Fortis. Na semana passada, os acionistas do ABN Amro deram sinal verde para a transação e abriram caminho para o Santander levar o Real, o italiano Banca Antonveneta e as operações de crédito ao consumo na Holanda. Após a incorporação do Real, o Santander terá ativos da ordem de R$ 280 bilhões e sua participação de mercado irá dobrar, passando para 12%. A rede de agências e postos de atendimento bancário chegará a 3.700. O banco ganhou estatura para competir diretamente com o Bradesco pela liderança do mercado brasileiro. Somente o Banco do Brasil, controlado pela União, supera os dois concorrentes privados – fato que o executivo não hesita em criticar. “Não há razões para manter essa alta participação pública no setor financeiro. Isso mudará com o tempo”, previu Jaramillo em entrevista à ISTOÉ, em 2006. O tempo irá dizer se ele, de novo, está com a razão.