Buscar a resposta para uma das questões mais intrigantes da humanidade, “o que está além dos limites conhecidos do universo”, pode te deixar com dor de cabeça, segundo o astrofísico PhD Paul M. Sutter.

O professor universitário, apresentador do podcast Ask a Spaceman (algo como “Pergunte a um homem do espaço”) e autor dos livros Your Place in the Universe How to Die in Space (“Seu lugar no Universo” e “Como morrer no espaço”, em tradução livre), publicou um artigo em que explica alguns conceitos na tentativa de entender o que existe, e se existe, do lado de fora do cosmos.

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“Para responder à pergunta sobre o que está fora do universo, primeiro precisamos definir exatamente o que queremos dizer com universo”, afirma Sutter. E explica: “Se você entender que significa literalmente todas as coisas que poderiam existir em todo o espaço e tempo, então não pode haver nada fora. Ainda que você imagine que ele tem tamanho finito, o que está fora também faz parte do universo”.

Mas o cosmos também pode ser infinito em tamanho. Nesse caso, você nem precisa se preocupar com esse enigma: o universo, sendo tudo o que existe, é infinitamente grande e não tem borda, então não há fora para sequer falar.

Sutter lembra que, com certeza, há uma parte externa ao nosso trecho observável do universo: “O cosmos é tão antigo, e a luz viaja tão rápido. Portanto, na história do universo, não recebemos luz de todas as galáxias”. A largura atual do universo observável é de cerca de 90 bilhões de anos-luz.

Os cosmologistas não têm certeza se o universo é infinitamente grande, ou apenas extremamente grande. Para medir seu tamanho, eles observam sua curvatura. “Se o universo é perfeitamente plano geometricamente, então ele pode ser infinito. Se for curvo, como a superfície da Terra, então seu volume é finito”, afirma o PhD em Física.

As medições atuais indicam que o universo é quase perfeitamente plano. Então seria infinito? Não é tão simples: “Mesmo no caso de um universo plano, o cosmos não precisa ser infinitamente grande. Considere, por exemplo, a superfície de um cilindro. É geometricamente plano, porque as linhas traçadas na superfície permanecem paralelas e, ainda assim, tem tamanho finito”, explica o autor. Então o universo pode ser completamente plano, mas fechado em si mesmo.

A questão maior, na verdade, é se existe lado de fora. “Mesmo que o universo seja finito, isso não significa necessariamente que haja uma borda ou um lado externo. Pode ser que nosso universo tridimensional esteja embutido em alguma construção multidimensional maior”, explica Sutter. Isso seria completamente plausível em alguns modelos exóticos da física, mas, atualmente, não há como testar.

“Eu sei que é de dar dor de cabeça, mas mesmo que o universo tenha um volume finito, ele não precisa ser embutido em algo”, diz o pesquisador no artigo.

Ao imaginar o universo, é possível pensar em uma bola gigante cheia de estrelas, galáxias e todos os tipos de objetos astrofísicos interessantes, o que provavelmente levaria a imaginar como isso seria visto de fora – da mesma maneira que um astronauta observa a Terra de longe. Mas, segundo o autor, o universo não precisa dessa perspectiva externa para existir.

“É totalmente consistente do ponto de vista matemático definir um universo tridimensional sem exigir um exterior para esse universo”, afirma Sutter no texto. É como se, quando imaginamos o universo como uma bola flutuando no meio do nada, estivéssemos pregando uma peça em nós mesmos que a matemática não exige.

“Pode parecer impossível existir um universo finito sem nada fora dele, mas não é”, finaliza. Mas calma: também pode ser que nosso universo realmente tenha um “exterior”, apenas não há nada na matemática que afirme que é necessário.