Mesmo com um ano de 2019 cheio de incertezas, desconfiança, perda do poder de consumo, 64 milhões de brasileiros endividados (mais de 40% da população adulta do país), desemprego acima de 11%, recessão desde 2014 e outras tantas dificuldades enfrentadas pelos brasileiros, o sistema de consórcio mais uma vez registrou, até novembro, crescimento nos negócios, atingindo R$ 121,50 bilhões, 26,1% acima dos R$ 96,32 bilhões de 2018, segundo a ABAC (Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios). A entrada de novos participantes somou 2,63 milhões (jan-nov/2019), 11,4% maior que os 2,36 milhões do ano anterior.

Pela ótica do Banco Central, as expectativas para 2020 são excelentes, além de extremamente favoráveis para o sistema. A organização aponta demandas crescentes, com destaque para a ascensão do PIB, lado a lado com as tendências de alta do Consumo das Famílias.

Em paralelo, é possível notar a Formação Bruta de Capital Fixo, que inclui o segmento industrial com máquinas, equipamentos e construção civil, geradores de ampliação das atividades econômicas de base, uma das fontes para retomada de empregos. Para o consórcio estes números mostram inúmeras oportunidades, visto que o segmento de máquinas, equipamentos e aquisição de frota podem agregar ainda mais para os números crescentes do sistema.

A conjuntura financeira surge simultaneamente como um obstáculo e uma oportunidade para o consórcio. A inflação apresentada pelas fontes oficiais não é homogênea em todo o país e sempre difere daquela praticada pelos varejistas que, por sua vez, possuem seu ambiente influenciado por outros fatores. É de se esperar que a inflação se apresente nas prateleiras do comércio, já na prestação de serviço seja superior ao aumento nos preços de venda, o que inevitavelmente gerará uma perda de valor e de poder de compra no dinheiro que está aplicado na caderneta de poupança. O brasileiro ainda não está treinado a fugir dessa desvalorização natural “própria” de economias em desenvolvimento. Ele ainda acredita que a poupança é um meio seguro para proteger enquanto realmente já faz pelos três semestres que deixou de ser.

As administradoras enxergam o cenário econômico com positividade. A queda dos juros é um dos grandes responsáveis pelo clima otimista. Afinal, juros mais baixos representam parcelas mais acessíveis e, consequentemente, uma parte da população que ainda não cogitava adquirir bens desperta para a possibilidade de investir na aquisição, com destaque para a casa própria, que surge como o principal bem de interesse. No entanto, com o aumento da procura, não há credito disponível suficiente para atender a demanda. Resultado: o banco restringe a liberação, sendo mais criterioso na análise, o que pode impactar em um acesso ainda mais difícil por conta da burocracia. Neste cenário, o consórcio surge como uma opção acessível para a obtenção de crédito.

Se em 2019, a modalidade de veículos leves e motocicletas responderam por mais de 2 milhões de adesões e a categoria de serviços se destacou de forma interessante, a expectativa para 2020 é ainda maior. Mesmo segurando a troca do carro ou a compra do imóvel receoso pela economia, o brasileiro investiu, e muito, em experiências.

Quando o assunto é venda, a forma em que o consórcio será consumido também é pauta. Sobre a influência do e-commerce no segmento espera-se crescimento na adesão por parte dos clientes. Essa tendência já é apontada pela pesquisa de tecnologia bancária, ano base 2018, realizada pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos), que destaca que os consumidores de serviços financeiros já estão realizando a maior parte do que lhes é oferecido usando apenas o mobile banking. Quando somamos as transações realizadas usando mobile banking com as transações realizadas por meio do computador pessoal, esses dois canais já representam mais de 70% do total de transações realizadas. O movimento é esperado também pelo cliente de consórcio, visto que sua distribuição ganha escala e capilaridade.

As expectativas influenciam para que uma das grandes apostas das administradoras de consórcio seja o investimento comercializado no meio digital. Assim como os bancos, as administradoras têm buscado soluções com mais tecnologia, oferecendo taxas menores aos clientes que já buscam 100% do atendimento on-line.

No entanto, ainda é necessário ter cautela porque esse mesmo consumidor ainda enfrenta insegurança na efetivação da compra realizada totalmente pelo meio on-line. Para explicar esse elemento é preciso trazer os dados de uma segunda pesquisa – a Raio-X do investidor edição de (2019) realizada pela ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades do Mercado Financeiro e Mercado de Capitais) –, que aponta dados importantes acerca do comportamento do brasileiro enquanto poupador ou investidor.

A poupança ainda continua sendo citada como investimento preferido pelos brasileiros para investir ou poupar. De acordo com o Raio-X, o brasileiro possui o aplicativo e ou website da instituição financeira como o terceiro meio mais utilizado para buscar informações acerca de onde deverá investir. Em relação ao canal para realizar esse investimento, em primeiro lugar na preferência encontra-se o corretor ou gerente da agência, e em segundo lugar encontram-se as ferramentas digitais (aplicativo ou website).

Com tantas oportunidades, a grande ameaça para as administradoras de consórcio se perpetua ao longo dos anos: o imediatismo. Apesar de se preocupar com o planejamento financeiro, a grande maioria dos brasileiros ainda compra sem se planejar e, principalmente, se a economia no comparativo consórcio x financiamento for pequena, existe forte tendência de escolha pelo financiamento.

Por outro lado, é inegável que a economia será promissora e, a partir destes dados, é possível projetar cenários para o ano de 2020. Serão inúmeras oportunidades para que o sistema bata mais um recorde. Afinal 2020 projeta demanda para todos os segmentos – imóveis, automóveis, serviços, máquinas e equipamentos –, o que possibilita que o consórcio cresça a um ritmo acelerado, conquistando diariamente novos consumidores.

*Lorelay Lopes é Head de Negócios do UP Consórcios, fintech criada pela área de inovação da Embracon