Finalmente, depois da troca de afagos mútuos, da admiração incontida do presidente brasileiro por seu colega dos EUA (quase um alter ego para explicar os rompantes que dá), eles estarão frente a frente na próxima semana. Trump e Bolsonaro, juntos, já foram capazes de sacudir as entranhas da política com seus estilos de gestão heterodoxos — de mais a mais, bem parecidos entre si. Ambos incorporaram as redes sociais como ferramenta para governar. Chocaram o mundo com esquisitices em série e parecem agora prontos para dividirem impressões e propostas de como enfrentar os problemas (que imaginam) de interesse comum.

Bolsonaro parte para o encontro sob um vendaval de críticas por ter descartado o plano de uma comitiva mais técnica e empresarial, que poderia trazer negócios promissores ao País depois de longa e custosa temporada de distanciamento do parceiro norte-americano. As queixas nesse sentido vieram dos próprios empresários simpatizantes que se sentiram desprestigiados. Bolsonaro, por sua vez, entende que essa primeira audiência conjunta – espera que várias outras se sigam – servirá apenas e tão somente para afinar intenções. De todo modo, estarão no cardápio das conversas alguns acordos setoriais decisivos que, se evoluírem, trarão benefícios gerais. Entre eles, o pacto de salvaguardas tecnológicas que, na prática, podem ser diminuídas para facilitar o fluxo de comércio entre os dois países.

Outro ponto provavelmente em discussão será o das facilidades no plano das exportações e importações em larga escala. Não está ainda detalhado em que termos esse benefício ocorrerá, mas ele foi incluído na pauta das conversas. É sabido que, tanto no Brasil como nos EUA, as empresas são cadastradas para que assim possam diminuir as burocracias exigidas no fluxo de operações de suas mercadorias. Nos EUA, o cadastro recebe o nome de batismo de “Trusted Traders”, ou algo como negociadores confiáveis. O grande pulo do gato para comerciantes é ser incluído nessa, digamos, lista VIP. O que quer o Brasil, segundo assessores de Bolsonaro, é um acordo que vise o reconhecimento recíproco entre as duas economias das empresas cadastradas em seus respectivos sistemas.

Seria um passo firme na direção de se estabelecer uma aliança de livre comércio — meta, por enquanto, empurrada para o longo prazo. Um bloco de mercado comum, incluindo Brasil e EUA, necessariamente esbarra no Mercosul, que tem regras rígidas para o acerto de acordos paralelos independentes. Negociar uma exceção demandará ainda exaustiva diplomacia. O objetivo fim, de todo modo, não está descartado por nenhum dos auxiliares do governo Bolsonaro envolvidos com o tema. De uma maneira ou de outra, a conversa entre os dois chefes de Estado, marcada para a segunda-feira 18, representará uma guinada decisiva de relações que estiveram mornas nos últimos anos.

(Nota publicada na Edição 1112 da Revista Dinheiro)