Na primeira página do prospecto para atrair investidores para uma revista semanal a ser lançada, uma frase chamava a atenção, escrita em negrito. “Nenhuma publicação se adaptou para o tempo que homens ocupados podem gastar para se manterem informados”, diz. A sentença poderia servir como uma declaração de intenções de qualquer veículo de imprensa atual. Mas foi a promessa da revista americana Time, criada em 1923 por Henry Luce (1898-1967) e Briton Hadden (1898-1927). Depois da morte do amigo, Luce transformaria a publicação no primeiro império multimídia, com cinejornal e rádio, e fundaria as revistas Life, Fortune e Sports Illustrated. O impacto da Time, com o seu resumo aprofundado dos fatos da semana, influenciaria a criação de Newsweek, nos EUA, Der Spiegel, na Alemanha, L`Express, na França, Panorama, na Itália, ISTOÉ e Veja, no Brasil, e as suas equivalentes para o mundo dos negócios, a americana Business Week e esta ISTOÉ DINHEIRO.

Anticomunista ferrenho, a ponto de combinar a defesa da democracia americana com o apoio a Mussolini, Franco e Chiang Kaishek, Luce levaria seu ideário para as suas publicações e foi chamado de “o mais influente cidadão da América de sua época”. Nos EUA de hoje, muitos considerariam que, agora, o título pertence aos irmãos Charles e David Koch, com os seus investimentos para divulgar valores economicamente liberais e socialmente conservadores. Por isso, não é de se estranhar que a grande notícia por trás da venda, anunciada no fim de novembro, do grupo Time para a editora Meredith, que publica títulos para o público feminino como a Family Circle e a Better Homes & Gardens, não foi a fusão criando um grupo de US$ 4,8 bilhões de receita. Mas, o fato de que o negócio foi garantido pelos US$ 650 milhões investidos pelo fundo Koch Equity Development, controlado pelos irmãos. A Meredith vai pagar US$ 1,84 bilhão e refinanciar US$ 900 milhões da dívida de US$ 2,8 bilhões da Time. “Essa é uma transação transformadora para a Meredith”, afirmou Tom Harty, executivo-chefe de operações da empresa compradora. Ele também declarou que o fundo dos Koch não terá assento no conselho ou “influência nas operações administrativas ou editoriais” da companhia.

Influente: sede da Time em Nova York, o centro do primeiro conglomerado multimídia (Crédito:Drew Angerer/Getty Images/AFP)

A Koch Industries, um grupo industrial de energia e petróleo, é o segundo maior de capital fechado dos EUA, com receita de US$ 115 bilhões, atrás da Cargill. Os irmãos figuram entre os 20 empresários mais ricos do planeta, com uma fortuna de US$ 47,5 bilhões, cada. Eles investem na promoção do livre mercado e do governo mínimo, além das polêmicas iniciativas para desacreditar pesquisas sobre clima e regras para proteger os trabalhadores. Já teriam levantado mais de US$ 1,5 bilhão para influenciar políticas americanas. Também foram considerados responsáveis pela eleição de Donald Trump à Presidência, apesar de terem se posicionado contra o seu estilo de campanha. As organizações bancadas pelos Koch direcionaram US$ 250 milhões a Trump e US$ 42 milhões a candidatos ao Senado.

Em comunicado, a Koch Industries declarou que os irmãos não desejam ter uma participação ativa após a fusão. “Esse foi um investimento financeiro passivo. Similar ao de um banco”, informou. “Olhamos para negócios em todos os setores.” Mas poucos acreditam num interesse puramente financeiro na Time, que vem de duas décadas difíceis, desde que passou por uma fusão com a Warner e depois com a AOL, das quais acabou sendo separada para não prejudicar os resultados consolidados. “Conhecendo os Koch, acho que veem o negócio como algo que pode ajudar em seus interesses políticos”, disse, ao jornal The New York Times, Stanley Hubbard, dono de estações de rádio e televisão, e apoiador dos grupos dos irmãos.

Charles Alexander, um ex-editor da Time, escreveu para a revista The Nation que a questão não é os irmãos preferirem
o Partido Republicano, como também fazia Luce. Mas que “financiaram um campanha de desinformação para convencer políticos e a população de que não é preciso se preocupar com as mudanças climáticas”, apesar dos alertas dos cientistas.
A Time de Luce poderia ser acusada de parcial, o que nunca negou, mas sempre cuidou da precisão factual.