O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva está nos Estados Unidos para participar do encontro com o norte-americano Joe Biden, na Casa Branca, nesta sexta-feira (10). A reunião com Biden está marcada para às 17h30. Antes, Lula vai se encontrar com o senador Bernie Sanders, da esquerda americana, e com representantes da Federação Americana de Trabalho e Congresso de Organizações Industriais (AFL-CIO). A agenda do presidente americano prevê uma conversa de 1h com o chefe do executivo brasileiro.

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A comitiva que acompanhará o presidente é composta da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva; do ministro da Fazenda, Fernando Haddad; da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco; do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira; além do ex-chanceler Celso Amorim, do secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento Econômico e Comércio, Marcio Elias Rosa, do senador Jaques Wagner e da primeira-dama Janja Silva.

Defesa da democracia estará no centro da pauta

Os mandatários passaram por situações parecidas durante as eleições e em seus primeiros dias no poder: adversários de extrema direita, acusações sem provas de fraudes nas eleições e tentativas de golpes no Capitólio e na Praça dos Três Poderes. 

Por conta disso, há uma expectativa de que a defesa da democracia seja a pauta central do encontro entre os dois. Outros pontos serão a preservação da Amazônia e Direitos Humanos.  

“A defesa da democracia será o foco desse encontro. Se nós olharmos com bastante cuidado, o que aconteceu nos Estados Unidos com Trump e no Brasil com Bolsonaro é muito semelhante. Há elementos relacionados ao negacionismo, à pós-verdade, teorias conspiratórias e fake news tanto durante a pandemia quanto em relação ao sistema político e as próprias eleições, além dos ataques direitos às instituições”, explicou o cientista político e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie Rodrigo Prando. 

Preservação da Amazônia e transição energética

Uma das principais críticas da comunidade internacional ao governo do ex-presidente Jair Bolsonaro era a questão da devastação da Amazônia. Durante o seu governo, o desmatamento na região aumentou 59,5% em relação aos quatro anos anteriores, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Isso fez com que o Brasil perdesse financiamentos internacionais e ficasse ainda mais isolado globalmente.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, deve apresentar compromissos do país com a preservação ambiental e cobrar maior engajamento financeiro dos países desenvolvidos na área climática. Marília Pimenta, coordenadora do curso de Relações Internacionais da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), acredita que a transição energética também será discutida no encontro.

“Certamente haverá o incremento do diálogo e de possíveis ações conjuntas no campo da transição energética. Haverá discussões voltadas para o aprofundamento do recém lançado ‘Diálogo da Indústria de Energia Limpa Brasil-EUA’. No campo multilateral, o fortalecimento de instituições e das negociações climáticas e do problema do desmatamento no Brasil também deverão estar na agenda das conversas entre os dois chefes de Estado”, acredita.

Venezuela, China e Ucrânia serão assuntos sensíveis

Apesar das semelhanças, alguns assuntos que podem ser debatidos no encontro tem potencial para afastar os dois presidentes: Venezuela, China e Ucrânia. 

Desde que foi eleito para o novo mandato, Lula tem evitado falar sobre a situação no vizinho sul-americano por conta de seu alinhamento ideológico com o governo de Nicolás Maduro. Por mais que os Estados Unidos não reconheçam mais Juan Guaidó como presidente do país, eles não consideram Maduro como líder legítimo. 

Sobre a China, o assunto será mais voltado na área econômica. O desafio do presidente brasileiro será continuar mantendo as relações comerciais com EUA e China de forma equilibrada. Outro ponto é o desejo do Mercosul, no futuro, negociar um acordo de livre comércio com os chineses. 

Por fim, a invasão russa contra a Ucrânia, que já completou um ano, pode ser um outro assunto que vá gerar desconforto a Lula. Ele já deu seguidas declarações de que o Brasil não vai tomar posição nesse conflito, inclusive dizendo, em entrevista à revista Time em 2022, que o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky é tão culpado pela guerra quanto o russo Vladimir Putin.