A economia será um tema central nas eleições deste ano. Uma pesquisa do Datafolha mostrou que 51% dos brasileiros que reprovam o trabalho da equipe do presidente Michel Temer citam a insatisfação com os rumos econômicos na hora de justificar a avaliação negativa do governo, que atingiu nível recorde. O Brasil luta para virar a página da pior recessão da história e apresenta um descontrole das contas públicas, que ameaça a capacidade do Estado de manter projetos sociais.

A menos de quatro meses da votação, os pré-candidatos começam a apresentar suas propostas para recolocar o País na trajetória de crescimento. DINHEIRO reuniu as ideias preliminares de dez nomes na corrida ao Palácio do Planalto. Cinco temas centrais foram escolhidos: ajuste fiscal, reforma da Previdência, privatizações, política de preços da Petrobras e a relação entre Executivo e Congresso. As propostas estão em estágio inicial, mas vão mostrando uma divisão entre aqueles mais alinhados a políticas liberais e outro grupo defensor de uma presença maior do Estado na economia.

Do ponto de vista econômico, o que estará em jogo na campanha é a convicção dos candidatos de que o País precisa de reformas para voltar a crescer, assim como a capacidade de comunicar ao eleitorado a importância de medidas que impõem sacrifícios no curto prazo. Do outro lado, há o risco de que soluções fáceis sejam vendidas como argumento para conquistar votos. Esses dois espectros são incoporados em diferentes cenários para o futuro.

Nas previsões da consultoria econômica 4E, por exemplo, um populista deixaria o País mais próximo do cenário pessimista, em que a economia cairia em recessão. Um reformista poderia garantir um crescimento médio de 3,6% entre 2019 e 2022. “O cenário básico é de um candidato que consegue colocar uma reforma ou outra, com algum custo, mas que segue a trajetória de recuperação”, diz Bruno Lavieri, da 4E.

Sem uma clareza maior sobre as propostas e em meio a uma corrida eleitoral ainda embolada, com mais de dez pré-candidatos, o mercado vem reagindo com mau humor. O dólar subiu 6,57% e a Bolsa caiu 10,87% somente em maio, movimento que se acentuou nas últimas semanas. “A volatilidade reflete a incerteza”, afirma Joelson Sampaio, economista e professor da FGV. “A eleição está muito aberta.” Entre os candidatos na dianteira, a maior incógnita é justamente o líder das pesquisas, o deputado Jair Bolsonaro (PSL).

O desenho da candidatura do ex-capitão do Exército está sob a responsabilidade do economista Paulo Guedes, um veterano do mercado financeiro conhecido por suas convicções liberais. Em suas declarações, Guedes vem defendendo, por exemplo, as privatizações e um novo modelo fiscal para o País. Sobre a Previdência, já mencionou a criação de um sistema de capitalização, semelhante ao existente nos planos privados. Em sabatinas, Bolsonaro até citou esse regime, mas deixou claro que deve haver parcimônia nas revisões do sistema geral (INSS). Da mesma forma, o deputado não esconde ser contrário a privatizações em setores estratégicos.

São essas contradições que os analistas tentam digerir. Se eleito, qual opinião prevalecerá: a dele ou a do assessor econômico? “O mercado não tem certeza de quem é esse Bolsonaro”, afirma o cientista político César Alexandre Carvalho, da Análise Política. “Classifica como risco porque não sabe quem é.” O deputado vem se esquivando das perguntas de economia, alegando “humildade” e que o presidente não precisa entender de tudo para governar. Cita como exemplo de fracasso a ex-presidente Dilma Rousseff, economista de formação.

Se depender dele, a proposta econômica será apresentada apenas no último momento, para “não tomar pancada”. Em linha com Guedes, Bolsonaro cita a intenção de reduzir o tamanho do Estado, se diz contra aumentos na tributação e não esconde um fetiche pelo corte de impostos corporativos feito pelo presidente americano Donald Trump. Mais recentemente, incorporou no vocabulário o termo desregulamentação e passou a prometer um “pacotão econômico”, uma agenda parlamentar de projetos para estimular a economia.

Assim como Bolsonaro, Ciro Gomes (PDT), terceiro colocado nas pesquisas, é visto como um risco. Seu assessor econômico, Mauro Benevides, ex-secretário da Fazenda do Ceará, defende a divisão da Previdência em três faixas, em que a mais alta delas, acima de três salários mínimos, ficaria num sistema de capitalização. Outra semelhança com Bolsonaro é a aversão a privatizações, como as da Petrobras e da Eletrobras. As coincidências param por aí.

A equipe do pedetista defende uma tributação maior para heranças, a criação de um tributo temporário sobre movimentações financeiras, uma espécie de CPMF, a revisão do teto de gastos e a adoção de mandato duplo ao Banco Central, para incluir também a geração de empregos e não apenas o controle da inflação. São propostas como essa que fazem de Ciro um dos mais temidos pelo mercado. Numa sondagem da XP investimentos com pouco mais de 200 investidores institucionais, 56% indicaram que a Bolsa recuaria para menos de 65 mil pontos – atualmente o índice está próximo de 70 mil pontos – e 80% indicaram que o dólar ficaria acima de R$ 4.

A mesma sondagem da XP mostra maior otimismo em caso de vitória de Geraldo Alckmin (PSDB), quarto colocado nas pesquisas, e uma relativa neutralidade dos investidores em torno de Marina Silva (Rede), segunda colocada. Para afastar temores de uma gestão ruim na economia, Marina escolheu dois assessores renomados: Eduardo Giannetti da Fonseca, que a acompanhou nas últimas eleições, e André Lara Resende, um dos pais do Plano Real.

A dupla, embora ressalte o compromisso com a responsabilidade fiscal, considera “excessiva” a regra que impede o aumento real (acima da inflação) nos gastos públicos durante 10 anos, renovável por mais 10 anos, conhecida como PEC dos Gastos Públicos. Se eleita, Marina poderá propor ao Congresso Nacional a sua revisão. A equipe da Rede defende as privatizações, mas com a ressalva de que a Petrobras tem uma atuação monopolista. Isso, em tese, torna inviável a sua venda ao setor privado. Para a Previdência Social, a proposta é a adoção de um regime misto, com repartição e capitalização.

Na quarta colocação, Alckmin não representa riscos econômicos devido ao seu histórico de austeridade fiscal no governo de São Paulo. Sua equipe tem dois pais do Plano Real, Pérsio Arida e Edmar Bacha, e ainda conta com José Roberto Mendonça de Barros, que participou do governo Fernando Henrique Cardoso, em cargos no Ministério da Fazenda e na Câmara de Comércio Exterior (Camex). Se Alckmin for eleito, a meta é zerar o déficit público em dois anos. Para isso, as desonerações tributárias serão reduzidas e estatais serão privatizadas – Petrobras e Banco do Brasil serão preservadas.

Além dos mais bem colocados, a DINHEIRO também compilou as propostas de mais seis postulantes ao cargo de presidente, com baixa intenção de votos, segundo pesquisa do Datafolha (leia quadro abaixo). Com perfis alinhados a uma agenda reformista estão Alvaro Dias (Podemos), Henrique Meirelles (MDB), João Amoêdo (Novo) e Flávio Rocha (PRB). Do lado populista, estão Guilherme Boulos (PSOL) e algum candidato do PT – o partido lançou a pré-candidatura do ex-presidente Lula, que está preso, mas o nome pode ser Fernando Haddad ou Jaques Wagner ou até o apoio a outro partido.

Os planos de governo só devem ser oficialmente lançados no registro da candidatura, em agosto. A propaganda passa a ser liberada a partir do dia 16 de agosto, quando os interessados serão oficializados como candidatos. Em seguida, entra no ar o horário gratuito eleitoral, a partir do dia 30. Diante de um cenário com 13,4 milhões de desempregados, os eleitores estão à espera de boas soluções, num ambiente de total descrédito em relação aos políticos.

Uma pesquisa feita pelo Instituto Locomotiva, obtida com exclusividade pela DINHEIRO, mostra que 94% dos entrevistados estão insatisfeitos com os governantes e que 68% votam para presidente por exclusão e não por afinidade (leia abaixo). “Os eleitores não querem Estado mínimo nem Estados máximo”, afirma Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva. “Os brasileiros querem um Estado eficiente.” Há um dado na pesquisa que, se bem compreendido pelos candidatos, pode ajudá-los a reduzir seus índices de rejeição. Quase 90% da população gostaria de ser ouvida pelos governantes. “Está na hora de Brasília se aproximar das pessoas”, diz Renato Meirelles. Será que eles vão entender?