12/10/2017 - 19:00
Existe um Brasil que teima em crescer e prosperar, apesar de Brasília obrigá-lo a patinar de tempos em tempos. É o Brasil dos cidadãos comprometidos com o desenvolvimento do País, com o avanço social e econômico, custe o que custar. É o Brasil dos investidores em projetos de longo prazo, dos empresários e executivos visionários e inovadores, dos trabalhadores perseverantes e sonhadores, dos educadores obstinados. É o Brasil dos loucos resilientes que, quando caem diante das crises mais profundas, recusam-se a sucumbir à crueza de nossas mazelas políticas e financeiras, levantam-se e dão a volta por cima.
É este Brasil que volta a prevalecer depois de três anos de recessão e baixo astral, que teima em impulsionar o PIB, apesar dos ventos contrários da corrupção e do clientelismo, apesar do clima de incerteza gerado pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff e das denúncias contra seu sucessor, Michel Temer. Esse Brasil otimista, que olha além deste ano e de 2018, aposta que o próximo governo irá manter o rumo da estabilização econômica e garantir o poder de compra da nossa jovem moeda, o real.
O Brasil pós-Lava Jato será muito melhor que o atual, acreditam os que têm fé numa Nação mais desenvolvida e justa para todos. Mas há riscos enormes nesse caminho, e todos passam por Brasília. Nos próximos dias, os deputados irão decidir se aceitam ou não a segunda denúncia contra Temer, acusado de participar de organização criminosa e de obstrução de Justiça. O presidente, grampeado pelo empresário Joesley Batista, dono da JBS, numa controversa operação da Procuradoria-Geral da Justiça, nega as acusações e acredita que terá os votos suficientes dos congressistas da base aliada para barrar a tramitação do processo, que também inclui os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco.
Se vencer, como se espera – o voto do relator do processo, deputado tucano Bonifácio Andrada, foi contrário ao prosseguimento da denúncia –, o presidente poderá continuar no cargo, mas terá seu reencontro com a Justiça após descer a rampa do Palácio do Planalto, quando voltará a ser um cidadão comum e sem foro privilegiado. O risco, aqui, é que todo esse processo paralise novamente a tramitação das reformas econômicas enviadas ao Congresso para garantir a sustentabilidade das contas públicas no longo prazo, como a da previdência. Os representantes do povo não podem deixar para 2018 – um ano de paralisia eleitoral – para fazer o que é necessário.
Eles precisam agir, e rápido, pois têm nas mãos a responsabilidade de conter o crescimento do déficit público e da dívida federal, que ameaça passar de 100% do PIB se não vingarem as medidas de controle fiscal. Eles têm nas mãos a responsabilidade de aumentar a eficiência da economia aprovando uma estrutura tributária menos insana e mais justa. Caso contrário, o medo do calote da previdência e da dívida pública poderá assombrar novamente a economia. Com a desordem nas contas públicas, que irá minar o real e realimentar a inflação, o pessimismo tende a prevalecer sobre o otimismo no médio prazo. O Brasil que teima em crescer e prosperar continuará trabalhando e investindo, mas o sonho de um País melhor poderá ser adiado novamente.