Qualquer cervejaria estrangeira pensaria duas vezes (ou mais) antes de resolver entrar no mercado brasileiro ? e provavelmente desistiria antes de começar. Aqui, duas empresas, a Ambev e a Kaiser, dominam mais de 70% das vendas e ocupam praticamente a totalidade de gôndolas, balcões e mesas do País. Suas marcas estão carimbadas nas cabeças dos consumidores, e o fôlego financeiro de ambas lhes dá uma capacidade de investimento invejável, seja em produção, seja em marketing. Mas há agora uma oportunidade para se ingressar nesse mercado. A Cervejaria Cintra, a caçula do setor no Brasil, colocou à venda 20% de seu capital para possíveis interessados. O dinheiro arrecadado na transação servirá para sustentar um plano de investimentos de R$ 450 milhões nos próximos três anos. O
mandato de venda está nas mãos do HSBC e três cervejarias
já estão analisando o negócio. Até o final do primeiro semestre, o acordo deverá estar assinado. A preferência do pessoal da Cintra recai sobre um chamado ?parceiro estratégico?, ou seja uma companhia que já atue na área. Investidores puramente financeiros, como bancos ou fundos de pensão, não teriam a mesma receptividade. ?Além do dinheiro, gostaríamos que o futuro
sócio nos trouxesse sua experiência em tecnologia de
fabricação e distribuição?, afirma André Freire de Andrade, diretor geral da Cintra. A empresa e o HSBC não falam sobre os candidatos, mas no mercado comenta-se que a americana Anheuser-Busch (leia-se Budweiser) e a sul-africana SABMiller, além de um grupo europeu, estariam no páreo. ?As conversas estão embrionárias e muita coisa pode mudar?, diz Andrade.

Aos 34 anos, nascido em Lisboa, Andrade
chegou há oito meses no Brasil, enviado pela família Cintra, dona da cervejaria. A empresa é portuguesa, mas a cerveja é brasileira. Lançada em 1997, a marca chegou antes ao Brasil. Apenas no ano passado desembarcou em terras lusitanas. Nos cinco anos de atividade por aqui, conquistou 5% do mercado do Rio de Janeiro, mas está praticamente ausente do grande centro consumidor, o interior de São Paulo e a capital do Estado. ?Queremos atingir uma participação de 10% no mercado brasileiro em cinco anos?, revela Andrade.

O dinheiro recolhido na venda dos 20% será utilizado no aumento da capacidade de produção e em campanhas de marketing. Além disso, a Cintra conta com uma política de preços agressiva. Seus produtos são cerca de 10% mais baratos do que os da Brahma e Antarctica. Andrade acredita que a Cintra tenha uma vantagem a mais. ?As opções para o consumidor são as mesmas há 10 anos?, afirma. ?Eles estão sedentos por novidades. E nós somos a novidade.?