No fim de novembro de 2016, o Grupo Pão de Açúcar (GPA), controlado pelo francês Casino, informou que estava avaliando a venda da Via Varejo, que reúne as operações da Casas Bahia, do Ponto Frio e do braço de comércio eletrônico Cnova. Desde então, a lista de supostos interessados já incluiu, entre outras especulações, a brasileira Lojas Americanas, a sul-africana Steinhoff, a chilena Falabella, a sul-coreana Samsung e o gigante chinês Alibaba. Os fundos de private equity americanos Advent e Carlyle também engrossaram essa relação.

Passados quase cinco meses do início do processo, o desfecho da negociação, no entanto, parece estar muito mais próximo de uma alternativa “caseira”. Instalado no quinto andar do prédio que também abriga a sede da Via Varejo, no centro de São Caetano do Sul, e de onde comanda os negócios da holding familiar Grupo CB, o empresário Michael Klein é o nome forte na disputa pela varejista, da qual detém 27,3% de participação. Primogênito de Samuel Klein, fundador da Casas Bahia, ele ajudou o pai a transformar a empresa criada em 1967 em uma gigante do varejo de eletroeletrônicos no País.

Em 2009, liderou as negociações da família com Abilio Diniz, na fusão com o GPA. E agora, costura um plano para voltar à operação como majoritário, restaurando seu poder de comando. “O interesse dele é real”, diz um executivo ligado à Via Varejo. “Ele tem buscado a associação com fundos de investimento nessa empreitada.” Procurado, Michael Klein não quis conceder entrevista. O Casino e o GPA afirmaram que não iriam comentar “rumores de mercado”. Porém, uma fonte próxima ao grupo francês confirmou que Michael Klein formalizou sua intenção junto ao controlador da Via Varejo.

“Com esse fato novo, eles decidiram estender o prazo para a apresentação de propostas, inicialmente previsto para 24 de março”, afirma. Segundo um executivo do setor, que pediu anonimato, o adiamento, porém, foi motivado pela falta de outras propostas. “O Casino está em uma sinuca de bico. E a auséncia de boas ofertas só reforça a possibilidade da volta de Michael Klein”, diz. “Estender o prazo é arriscado. Há uma boa chance de diminuir o preço do ativo.” A companhia está avaliada em R$ 4,5 bilhões.

Multicanal: a integração entre as lojas físicas e online é um dos desafios da empresa
Multicanal: a integração entre as lojas físicas e online é um dos desafios da empresa (Crédito:Divulgação)

Um eventual retorno de Michael Klein desperta uma questão em especial: o empresário seria a escolha mais adequada para liderar a recuperação da empresa? Em 2016, a Via Varejo reportou uma receita de R$ 23,2 bilhões, uma queda de 8,7% na comparação com 2015. No período, a varejista apurou um prejuízo de R$ 750 milhões. “Só o fato de ter uma liderança conhecida e percebida pelos stakeholders da companhia já seria uma grande vitória”, diz Eugênio Foganholo, diretor da Mixxer Consultoria, que destaca as constantes trocas no alto escalão da empresa desde a entrada do Casino. “Essa movimentação impactou a motivação dos profissionais e a percepção dos parceiros sobre a Via Varejo.”

Para Alberto Serrentino, fundador da consultoria Varese, a família Klein seria a opção menos traumática dentre todos os nomes especulados. “E traria um componente de resgate de autoestima e de mobilização para toda a equipe, especialmente aqueles com mais tempo de casa”, afirma o analista, que destaca ainda a provável adoção de estratégias mais agressivas, pelas quais os Klein ficaram conhecidos. À parte dessa injeção de ânimo, no entanto, os analistas ouvidos pela DINHEIRO têm ressalvas quanto à capacidade do empresário para comandar a adaptação da empresa à transformação digital do varejo.

Iniciada no segundo semestre de 2016, a tardia integração das operações físicas e online do grupo é, justamente, um dos principais desafios da Via Varejo apontados por esses especialistas. “É uma agenda urgente do setor. E, apesar de todo conhecimento do Michael, esse é um elemento que não está no seu DNA”, diz Serrentino. “Ele tem um modelo de gestão antiquado para a revolução que precisa ser feita”, afirma outra fonte do mercado. “Eles estão a anos-luz, por exemplo, da Magazine Luiza, que consegiu fazer essa transformação, mesmo em meio à instabilidade econômica.”

Na equação entre os benefícios e questionamentos, o único consenso é que a venda da Via Varejo ainda envolverá um longo processo. Sócio e analista da consultoria Upside Investor, Pedro Galdi ressalta o dilema entre a intenção declarada do Casino em se desfazer da companhia e o prazo limite que o grupo dará para alcançar um bom preço pelo ativo. em um acordo. “Dadas todas as circunstâncias, na mesa é bem provável que Michael e a família Klein regressem”, diz. “E, a despeito de qualquer avaliação sobre o potencial e os riscos do negócio, o varejo é a vida deles.”

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