Despesas para atender a estratégias populistas sempre estiveram nos planos eleitoreiros de governantes. Em tempos de crise, então, para tirar do atoleiro político aqueles que estão sob bombardeio, a trilha desses gastos fica ainda mais tentadora. Na gestão Bolsonaro não está sendo diferente. Depois de um anúncio pomposo – e, ao mesmo tempo, carente de substância –, o Programa Pró-Brasil, engendrado nos gabinetes do Ministério do Desenvolvimento Regional, de Rogério Marinho (foto), e sem qualquer anuência do czar da Economia, Paulo Guedes, parece que terá o destino previsível: a gaveta das “boas ideias” que nunca saem do papel. Marinho, com o entusiasmo e incentivo oportunista de ministros militares, resolveu oferecer essa saída para o encalacrado chefe-capitão, como uma espécie de antídoto a má-fase de imagem da presidência. Fez tudo da forma errada. Alinhavou propostas sem pé nem cabeça, às pressas, e entregou um embrulho de R$ 33 bilhões de gastos, cujos recursos não sabia sequer de onde viriam. Alegou que a iniciativa privada bancaria. E disse isso no mesmo dia em que o Ministério da Infraestrutura informou que não conseguiria levar adiante o planejamento de privatizações por falta de interessados. Em outras palavras: se está faltando fôlego e disposição da iniciativa privada para aquisições, imagina para o engajamento numa aventura de obras públicas que não apresenta, sequer, garantia de chegar a bom termo. O voluntarismo de Marinho se confrontou com o realismo de Guedes. O chamado “Posto Ipiranga”, vendo o risco de um golpe no seu esforço de adotar um modelo ultraliberal de Estado, bateu na mesa e impôs novas condições para seguir no cargo. O presidente Bolsonaro finalmente aquiesceu. Depois de perder a estrela de Sergio Moro, que deixou a pasta da Justiça, não queria arriscar ficar sem seu porto seguro da economia em um momento desses. Mandou congelar os estudos. Nos bastidores, Marinho e os militares seguem atrás de alternativas. Depois da ameaça de estouro nas contas da União, com o socorro de emergência bilionário pensado pelo Congresso para Estados e municípios, a ala da farra da gastança no Planalto segue animada com a ideia. Antes do “Pró-Brasil”, inúmeras saídas mirabolantes foram pensadas e boa parte deu com os burros n’água. Nos tempos de FHC, há cerca de duas décadas, um programa batizado de “Avança Brasil” fez muito barulho e, logo após, o “PAC” de Lula, também. Sempre cercados de cerimônias pomposas e metas grandiloquentes, frustraram as expectativas. Mesmo assim, na sua concepção, demandaram meses de trabalhos e consultas, antes de finalmente concluídos. Equipes multitarefas foram convocadas. Itens das respectivas propostas, negociadas com setores da sociedade civil antes da feitura. Consultas ao Supremo e ao Congresso, em ambos os casos ocorreram e até sindicatos de patrões e trabalhadores tiveram de opinar. No caso do Pró-Brasil de Marinho, que nada levantou além da intenção, o improviso estava latente. Em menos de 48 horas, o arrazoado de sugestões foi alinhavado. Decepcionou além da conta. Esses planos realmente carecem, na maioria, de seriedade. Nos idos de 1975, em pleno regime militar, foi apresentado um plano de desenvolvimento que levava a alcunha de PND II e saiu publicado até em livro. Indagado a respeito, o então ministro da Fazenda, Mário Henrique Simonsen, saiu-se com uma pérola: “Não leio ficção”.