Nas últimas semanas, desde que a entrada na fase verde afrouxou as restrições do isolamento social na capital paulista, várias rotinas têm sido ajustadas. Para Thiago Nigro, 30 anos, a principal mudança foi sentida nos pés. Acostumado a percorrer caminhando a distância que separa sua casa, no Brooklin, da empresa O Primo Rico, instalada na sede da XP Investimentos, na vizinha Vila Olímpia, ele agora só faz o trajeto motorizado. Como os dois bairros estão entre os favoritos de startups, fintechs e, por consequência, de profissionais dispostos a investir seus proventos no mercado financeiro, as caminhadas de Nigro passaram a ser interrompidas por seguidores mais afoitos. Gente que o conheceu nas redes sociais e que não quer perder a oportunidade de pedir um conselho, uma selfie, ou ambos. Hoje, O Primo Rico gera mais de 211 milhões de visualizações mensais no YouTube, onde soma 5,2 milhões de seguidores. No Instagram o número é ainda maior: 7,2 milhões. Se existe alguém na China que supere essas marcas é difícil saber. “Eu suspeito que não. Nos Estados Unidos, o maior tem algo próximo de 3 milhões no YouTube. No Brasil, somos líderes no Instagram. E a soma dos nossos canais, incluindo os podcasts no Spotify, nos coloca no topo do segmento”, afirmou Nigro à DINHEIRO. Além desses números, o negócio que ele comanda deverá gerar Ebitda de R$ 100 milhões em 12 meses, o que significa um valor de mercado R$ 1,2 bilhão.

Para entender essa cifra é preciso primeiro ter uma noção daquilo que, de fato, O Primo Rico entrega. “Quem investe precisa de conhecimento. Por isso, uma das linhas de negócios da nossa empresa passou a ser educação”, disse Nigro. “Só que, no Brasil, não basta saber onde investir. É preciso saber gerenciar suas finanças pessoais e aprender a fazer melhores negócios.” O foco nesse tripé tem sustentado a escalada do empreendimento, que hoje soma 72 mil clientes investidores. Pesquisas realizadas com uma amostra significativa deles comprovam que a satisfação passa de 90%. Esse é o NPS (Net Promoter Score, métrica de lealdade do cliente definida por Fred Heichheld em um artigo publicado em Harvard, em 2003) do Primo Rico. Por outro parâmetro, o CSat (Customer Satisfaction Score), a aprovação é de 93%. Uma pesquisa com 8 mil dos cerca de 20 mil clientes que receberam a mentoria de Nigro comprova que ela dá resultado. Para 98,3%, os investimentos melhoraram, enquanto 93,2% disseram estar gastando melhor. A renda aumentou para 66% dos entrevistados. E o grande benchmark de todos eles é o próprio Nigro, que há três anos decidiu tornar públicos seus investimentos.

PELE EM RISCO “As pessoas não aprendem com o que você diz e sim com o que você faz. Uma criança não irá falar palavrão se o pai não falar. Por isso decidi investir meu patrimônio publicamente. Todos os meses eu mostro para as pessoas as decisões que tomo como investidor profissional”, afirmou Nigro. Desde que abriu sua carteira, há três anos, o rendimento acumulado beira 200%. Ao demonstrar, na prática, o quanto ganha por meio de suas aplicações no mercado financeiro, Nigro coloca a própria pele em risco. No mercado financeiro, essa prática é conhecida como “skin in the game”, termo popularizado a partir do livro homônimo do libanês naturalizado nos EUA Nassim Taleb.

Nigro, além de demonstrar onde investe e o quanto ganha com isso, também é autor de uma espécie de manual do investidor. Seu livro Do mil ao milhão – sem cortar o cafezinho (HarperCollins Brasil), lançado em novembro de 2018, lidera a lista de mais vendidos entre autores brasileiros, com 600 mil exemplares. O livro segue um tom coloquial e didático, listando exemplos práticos e exercícios para fixar as ideias. Cumpre o objetivo de traduzir para o público leigo conceitos complexos do mercado financeiro. Mas o seu maior mérito talvez seja demonstrar como algumas escolhas podem fazer a diferença entre ganhar ou perder dinheiro. Isso fica claro na demonstração do que ocorre, na ponta do lápis, ao financiar a compra de um carro. O exemplo vem de uma simulação publicada pelo jornal Folha de S. Paulo: um modelo de R$ 62.990, com entrada de R$ 18.900, saldo em 30 parcelas fixas de R$ 1.208 e um residual de 12 parcelas de R$ 1.914. Até a quitação, em 42 meses, ele terá custado R$ 78.108, mas valerá apenas R$ 42 mil, devido à depreciação. Ao investir os R$ 18.900 da entrada, aplicando o valor de cada parcela mensalmente, o comprador teria, segundo Nigro, R$ 95.750 no mesmo período. O conselho do autor é raciocinar sobre os gastos, já que “ter dinheiro e exibir bens de luxo não é, necessariamente, sinônimo de riqueza”.

Desse aforismo nasce a pergunta: “E agora, primo, vamos investir?” A resposta a esse convite tem sido positiva. Eles não apenas decidiram investir, mas investir com o Primo Rico. “Quero inspirar as pessoas”, afirmou. “E parte da minha estratégia é gerar autoridade, mostrando a construção do meu patrimônio passo a passo”. disse. “Ao escrever o livro precisei refletir muito sobre o meu método de investir, que eu chamo de arca”. O nome, inspirado em Noé, que segundo a Bíblia sobreviveu ao dilúvio, é também a sigla para o portfólio de investimentos de Nigro, que contempla quatro segmentos: Ações (a); real estate, geralmente fundos imobiliários (r); caixa (c); e ativos internacionais (a). “Talvez eu não tenha a maior rentabilidade, mas estou entre as maiores. Como falo com muita gente, tenho o compromisso de não induzi-las ao erro. Já errei, mas nunca me exponho ao risco da ruína.”

O CÓDIGO DA RIQUEZA Quando começou a colocar vídeos na internet, ele pensava em atingir um público já familiarizado com o mercado financeiro. “Eu não era o Thiago de hoje. Era um técnico, mergulhado em planilhas de Excel, vestindo terno e gravata. Nos meus primeiros 100 vídeos eu só falava sobre finanças para grandes investidores.” Naquela época havia 500 mil CPFs na bolsa de valores. Hoje são 3 milhões. Nos Estados Unidos, 115 milhões de pessoas investem no mercado de capitais. “Eu olhei para isso com tristeza, mas também como uma grande oportunidade”, afirmou. A audiência do Primo Rico disparou quando o foco passou a ser o público que buscava caminhos para se iniciar no mundo das finanças. Mais anunciantes passaram a se interessar pelos canais de Nigro na internet e ele, de rico, se tornou bilionário.

A ponto de dialogar de igual para igual com gigantes do setor empresarial e do mundo das finanças. É comum encontrar em suas lives convidados como Abílio Diniz, João Appolinário (dono do grupo Polishop), Janguiê Diniz (da Cogna Educação) ou ainda seu grande mentor, Guilherme Benchimol, fundador e CEO da XP Inc. — empresa da qual Nigro também é sócio e que, por sua vez, tem uma participação no Primo Rico. Algumas dessas lives atingiram 100 mil pessoas simultaneamente. “Uma das coisas mais legais que tenho hoje é o acesso a pessoas muito melhores que eu. É muito bom poder ser aconselhado por elas”, afirmou Nigro.

A curiosidade sobre como os bilionários chegaram lá foi uma das motivações de Nigro quando ele ainda era um assessor de investimentos em início de carreira. “Eu fui até o México passar uma semana na casa do CEO do Walmart para a América Latina. Queria saber qual o código da riqueza.” Com as respostas que obteve, lançou um documentário. Foi sua primeira grande produção para a internet. O sucesso ajudou a impulsionar a audiência do canal no YouTube, que na época girava em torno de 100 mil seguidores. “Construímos nosso branding pensando no futuro. E um dos fatores que pesaram nessa expansão foi o meu conhecimento sobre marketing digital, entender o algoritmo das redes sociais que eu utilizo.” Outro pilar de crescimento, segundo ele, foi o das associações, caso da XP e de outros empreendedores que admira. Uma dessas parcerias está prestes a chegar ao mercado. Será um livro de educação financeira para crianças, criado com a equipe de Mauricio de Sousa, que colocará um novo personagem na Turma da Mônica: o Primo Riquinho.

Outra parceria recente é no mercado de moda, com o designer de sapatos Alexandre Birman, dono da grife Fiever. Já em pré-venda, a coleção de tênis da marca Primo Rico é formada por seis modelos de R$ 398. “Eu nunca gostei de ostentar. Uso a mesma roupa todo dia. Quando você ostenta, atrai pessoas que amam as coisas e usam as pessoas. Minha crença é inversa: amar as pessoas e usar os objetos.”