29/07/2022 - 4:50
Charles Bukowski (1920-1994) foi um escritor nascido na Alemanha e que a partir dos 3 anos viveu nos Estados Unidos. Ele tem uma frase que vai ajudar muito Mark Zuckerberg. “O que mais importa é o quão bem você caminha através do fogo.” Porque a terça-feira (27) entrará para o calendário do criador do Facebook como um dos mais baixos em sua trajetória de visionário e bilionário. Foram apresentados os resultados da Meta Platforms, o conglomerado tecnológico que detém empresas como o Instagram e o WhatsApp, no segundo trimestre. As receitas oscilaram negativamente 1%, de US$ 29 bilhões para US$ 28,8 bilhões.
Parece pouco, mas isso nunca havia acontecido na história da companhia. E foi agravado pelas despesas, que cresceram acima de 22%. O resultado foi um tombo no lucro líquido de 35,7% — de US$ 10,4 bilhões (2021) para US$ 6,7 bilhões (2022). No consolidado semestral o resultado não foi muito diferente: -28,5%, de US$ 19,9 bilhões (2021) para US$ 14,1 bilhões (2022). “Entramos em uma crise econômica que terá um amplo impacto no negócio de publicidade digital”, disse Zuckerberg na teleconferência de resultados. “A situação parece pior do que no trimestre anterior.”
-1% queda na receita trimestral. Apesar de pequena, foi a primeira variação negativa na história da empresa desde seu IPO, há dez anos
-36% queda no lucro líquido do segundo trimestre
2,880 bilhões usuários ativos diários nas plataformas de redes sociais da Meta
-52% queda no preço das ações entre janeiro e julho
E o cenário para o terceiro trimestre não deverá ser muito diferente. Foi o que disse o CFO da empresa, David Wehner, em comunicado a acionistas. “Há uma incerteza macroeconômica mais ampla.” O reflexo será colocar freios de expansão. “Reduzimos nossas contratações e planos gerais de crescimento de despesas este ano para levar em conta o ambiente operacional mais desafiador.” O número de usuários ativos diários de suas plataformas de redes sociais ainda é impressionante, de 2,880 bilhões de pessoas. Mas há problemas: reter esses usuários, atrair jovens e impedir (ou pelo menos reduzir) sua migração para o TikTok. Acrescente-se a isso questões regulatórias cada vez mais duras para o setor.
O resultado desse pacote foi duro. De janeiro até a quinta-feira (28), as ações derreteram 52%. O que pode ser maluco numa empresa que ainda coloca no caixa, de domingo a domingo, US$ 160 milhões e deixa líquido US$ 37 milhões (quase R$ 200 milhões). A cada 24 horas! O mercado nem sempre é justo, mas sempre trabalha com perspectivas e expectativas. Mandeep Singh, analista sênior de tecnologia do Bloomberg Intelligence, afirmou que os investidores têm dado mais peso a detalhes como o fato de que os anúncios do Facebook diminuíram de preço em 14%. “Indica que eles estão fazendo seus números aumentando as cargas de anúncios”, afirmou. Então, Singh disse, “eles têm um problema de engajamento”.
Para quem leu Bukowski, associá-lo a Zuckerberg pode parecer heresia. Mas eles têm, de certa forma, um traço em comum. O escritor foi conhecido por usar sem rodeios os acontecimentos e aspectos da sua vida na ficção. O criador do Facebook é conhecido por usar sem rodeios os acontecimentos e aspectos da vida dos outros na realidade. Agora caberá a Zuckerberg seguir o lema de Bukowski e saber atravessar o fogo. Pode até se sair bem, mas haverá cicatrizes.
GOOGLE E MICROSOFT
Além da Meta, o grupo Alphabet (Google e YouTube) e a Microsoft (dona também do LinkedIn) anunciaram seus resultados. Na Alphabet, as receitas trimestrais cresceram 12,6% em relação ao segundo trimestre de 2021, para US$ 69,9 bilhões. O lucro líquido, porém, caiu dpara US$ 16 bilhões, retração de 13,6%. No resultado semestral, as receitas somaram US$ 137,7 bilhões (+17,5% sobre 2021) e o lucro líquido foi de US$ 32,4 bilhões (queda de 11%). Na Microsoft, os números encerram também o ano fiscal da empresa. No trimestre, as receitas subiram 12,4% (para US$ 51,9 bilhões) e o lucro liquido cresceu 1,7% (para US$ 16,7 bilhões). No consolidado em 12 meses, o faturamento saltou 18% (para US$ 198,3 bilhões) e o lucro líquido acompanhou, crescendo 18,7% (para US$ 72,7 bilhões).
