O Banco do Estado do Paraná (Banestado) deu o maior prejuízo entre as instituições estaduais no ano passado. Fechou seu balanço com um buraco de R$ 535 milhões, cinco vezes pior que o do segundo colocado, o Besc, de Santa Catarina. Seus sistemas de informática estão desatualizados e sua folha de pagamento carrega espantosos 7.600 funcionários ? para que se tenha uma idéia, o BBVA, que é 30% maior em ativos e tem rede no País todo, com quase o dobro de agências, possui 5.500 empregados. Além do custo das demissões, será preciso gastar com dívidas trabalhistas de pelo menos R$ 100 milhões para as quais não há provisão. Apesar dessa coleção de números ruins, o Itaú concordou em arrematar o banco paranaense, no leilão de privatização, pagando R$ 1,67 bilhão. O número, que espantou os analistas, representou um ágio de R$ 1,2 bilhão, o maior já pago em uma privatização do sistema financeiro, equivalente a quatro vezes o preço mínimo. Por quê?

Uma explicação foi dada em alto e bom som pelo próprio presidente do Itaú, Roberto Setubal. Os créditos fiscais não contabilizados em poder do Banestado, que somam R$ 1,9 bilhão, são um atrativo excepcional. Segundo Setubal, poderiam ser usados, de uma vez, cerca de R$ 600 milhões desse total, o que reduziria o preço pago efetivamente a R$ 1 bilhão. Depois do saneamento no balanço feito antes da privatização, removendo uma montanha de créditos podres, restará ao novo controlador uma instituição limpa, com 550 mil correntistas e a exclusividade da folha de pagamento dos funcionários públicos do Paraná por cinco anos. Mesmo assim, o preço do Banestado foi quase o dobro do que o Itaú pagou pelo Bemge, dois anos atrás, e quase dez vezes o desembolsado em troca do Banerj, em 1997. Seria o banco paranaense tão mais interessante que os outros?

Na verdade, o que tornou o Banestado atraente foi a disputa pelo primeiro lugar no ranking dos bancos nacionais. Para não perder espaço para o Unibanco (que acaba de adquirir o Bandeirantes) nem deixar que o Bradesco crescesse até um ponto onde não poderia mais ser alcançado, a instituição da família Setubal aceitou pagar um valor que o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, avaliou como ?espetacular?. A compra produziu resultados importantes para o Itaú. Garantiu que, se comprar o Banespa, no leilão previsto para novembro, ele ultrapassará o Bradesco ? sonho que parecia distante desde que o banco de Osasco adquiriu o Boavista e fez uma campanha acirrada para atrair 2,1 milhões de novos clientes. Aumentou também a distância do Unibanco, que agora está ameaçado de perder o terceiro lugar, caso o Safra abocanhe o estatal paulista. Sob esse ângulo, o Banestado saiu caro, mas foi um gol.