A secretaria de ciência e tecnologia de Pernambuco se transformou nos últimos tempos na principal fonte de boas notícias dentro do governo estadual. A mais recente novidade foi desembarque de uma das maiores empresas de tecnologia do país, a Itautec. A empresa decidiu concentrar em duas universidades do estado toda a sua pesquisa e desenvolvimento de produtos fora dos seus
laboratórios em São Paulo. No primeiro ano, serão investidos
R$ 5 milhões, o equivalente a 10% da verba anual de pesquisa da companhia. ?É um monopólio pernambucano. Não há planos imediatos de fazer algo parecido em outro lugar?, afirma o presidente da Itautec, Paulo Setúbal.

Essa decisão gerou euforia no ecossistema local. O investimento representa 2,5% da receita anual
(R$ 200 milhões em 2002) das empresas de tecnologia instaladas no estado, mas chama atenção pela sua importância política. ?É uma decisão surpreendente e inédita?, afirma o pesquisador-chefe do Centro de Estudos Avançados do Recife, Silvio Meira. Conhecida como Cesar, a instituição é uma organização não-governamental vinculada ao departamento de informática da universidade federal de Pernambuco.
O Cesar funciona como uma incubadora de empresas e de lá saiu, por exemplo, o engenho de busca Radix financiado pelo banco Opportunity e depois vendido para a empresa de softwares Datasul.

As companhias em funcionamento em Pernambuco estão instaladas na Região Metropolitana do Recife. As duas mais conhecidas nacionalmente são a Procenge e a CSI. A primeira tem 31 anos de operação e desenvolve softwares para diversas setores, inclusive o financeiro. A Procenge instalou em sete grandes bancos do país o Sistema Brasileiro de Pagamentos. A CSI ganhou fama por produzir programas para a área de automação comercial. A verba da Itautec será dividida entre os departamentos de informática da universidade Católica e a da Federal. Na primeira fase do projeto, as duas receberão R$ 2,5 milhões. A UFPE ficará com R$ 1,1 milhão e se encarregará de promover testes certificados internacionalmente de computadores corporativos, os servidores. Outro R$ 1,4 milhão irá para a Católica para a montagem de um laboratório de softwares de automação comercial. A entrada da Unicap nesse jogo chama mais atenção. A instituição é administrada por jesuítas e quebrou paradigmas internos e externos no acordo com a Itautec. Antes, a universidade nunca havia se aproximado tanto de uma companhia privada. No caso da UFPE, esse tipo de envolvimento não é uma novidade. ?Não pretendemos parar na Itautec. Queremos ser monopólio de outras empresas da mesma importância?, afirma o secretário de Tecnologia de Pernambuco, Claudio Marinho.

Há alguns números a favoráveis sobre esse raciocínio. O Cesar concentra a maior quantidade no Brasil de especialistas na linguagem de programação Java, que está se tornando padrão no desenvolvimento de vários projetos na área de tecnologia. São 150 engenheiros treinados com 80% deles certificados pela Sun Microsystems, a criadora da linguagem. Recife tem 15 cursos universitários voltados para a área de tecnologia que formam 750 profissionais a cada ano. A maioria deixa a sala de aula com um emprego garantido no mercado local ou em alguma multinacional. Muitos vão trabalhar no exterior. ?Há uma vocação natural no estado de formar mão de obra altamente qualificada?, afirma Descartes Teixeira, diretor do Instituto de Tecnologia de Software, em São Paulo.

Nos dias que passou em Recife, na segunda semana de maio, acompanhado dos seus executivos, Paulo Setúbal conheceu a estrutura do Porto Digital no histórico Bairro do Recife no qual nasceu a cidade. Nesse local estão sendo concentradas as empresas e os investimentos estaduais para desenvolver os negócios tecnológicos. Durante as conversas, Setúbal fez comparações entre o mercado da Índia e o brasileiro. ?Os indianos são fornecedores de mão de obra tecnológica e nós podemos disputar projetos mundiais prestando serviços na área do conhecimento?, afirmou. Nesse caso, Pernambuco também quer o monopólio.