No início da semana passada, uma economista goiana de 1m67, cabelos claros e respostas diretas defendeu, nos salões de Genebra, a política comercial brasileira. Diante dela estavam dezenas de representantes de países membros da Organização Mundial do Comércio. Para Lytha Spindola, 43 anos, travar embates com homens de terno é apenas uma parte de sua rotina de secretária de Comércio Exterior. Como braço direito do ministro do Desenvolvimento nessa área, Lytha tem a função de injetar ânimo numa balança comercial que insiste em pender para o lado errado, o das importações. Mãe de dois filhos adultos, divorciada, Lytha só interrompe a rotina acelerada do seu dia para atender a família. Organizada e metódica, põe ordem na agenda e a segue religiosamente durante semanas. Tem também uma preocupação: dividir o mérito do seu trabalho com seus superiores e colegas de ministério.

Lytha trata o desempenho da balança comercial, que vai fechar o ano com saldo negativo, com a mesma firmeza de opinião que usa nas negociações em Genebra. Para ela, não se deve olhar o resultado ? que deveria ser superavitário em US$ 4 bilhões, mas terminará com déficit provável de US$ 200 milhões ? com frustração. Ela diz que o copo está meio cheio e evita falar da metade que ficou vazia. Pelo contrário: ?O desempenho este ano é positivo. O valor das exportações devem ser 20% maiores em relação a 1999. Se continuarmos assim, dobraremos o volume de exportações nos próximos quatro anos?. Para ela, as exportações vão crescer rapidamente, por meio de novas ?respostas criativas?. Essa convicção ganhou força em 1995, quando a secretária ajudou a implementar o Siscomex, um sistema eletrônico de comércio exterior que enterrou carimbos e papelórios antes usados na venda e compra de produtos. Na época, Lytha trabalhava como secretária-adjunta da Receita Federal, onde iniciou a carreira como auditora concursada, em 1982. ?Ela sempre traz uma solução e exige que todos façam o mesmo?, diz um dos colegas.

É no oitavo andar do Ministério do Desenvolvimento, chefiado por Alcides Tápias, que Lytha traça planos. Entre eles, um projeto se destaca: a criação de armazéns de produtos brasileiros em outros países. Espera com isso resolver o problema de demora na entrega das mercadorias nacionais. Em algumas situações, compras são canceladas porque o produto não chegou no prazo previsto. Dois bancos oficiais poderão participar do projeto. ?Estamos negociando financiamento com o BNDES e a flexibilização das regras de câmbio com o Banco Central?, diz. Outra saída para a exportação brasileira já está no computador. Sua secretaria vai criar um portal na Internet voltado para o comércio exterior. As vendas para outros países serão feitas pela Internet, com um simples clique. A batalha leonina, porém, está em um campo que ela conhece bem: tributação. Amiga e ex-colega de trabalho do secretário da Receita, Everardo Maciel, Lytha pretende convencê-lo da necessidade de acabar com os impostos incidentes na exportação. ?Precisamos acabar com a cunha fiscal. Todos os países já fizeram isso?, afirma. A aposta, em Brasília, é que o leão da Receita vai rugir mais alto do que a leoa do Comércio Exterior. A conferir.

 

A DAMA DAS EXPORTAÇÕES COM A PALAVRA
OMC ? ?As economias ricas têm muito peso dentro da OMC. O Brasil tem que trabalhar para evitar que prevaleçam as políticas desejadas por países que querem a abertura das economias mas não abrem as suas próprias portas.?

SUBSÍDIOS ? ?Temos poucos recursos públicos para financiar a área de tecnologia. Outros países subsidiam porque precisam exportar para sobreviver.?

EXPORTAÇÕES ? ?Não podemos dar as costas à agricultura, mas temos que investir em tecnologia. A exportação de produtos agrícolas cresce 3% a 4% ao ano. Já as vendas de produtos de tecnologia crescem 30%, 40%. Precisamos atuar nas duas frentes?.

EMBRAER VERSUS BOMBARDIER ? ?Por trás do conflito Embraer há uma guerra de competitividade de preços. A nossa empresa é craque e não será afetada pelo caso. Ela vai roubar o espaço de outras.?