Há em Brasília um ditado para diferenciar os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff. “Enquanto Dilma quebra, mas não dobra, Lula dobra, mas não quebra”. Essa definição parece nortear as atuais decisões do virtual candidato petista à presidência. Com a parte mais conservadora do partido defendendo uma agenda econômica desenvolvimentista forte (com flexibilizações fiscais, incentivo direto aos industriais e aumento do crédito na praça), há no entorno do presidente vozes afirmando que a confiança do mercado e a retomada econômica exigem austeridade fiscal e comprometimento explícito com a dívida pública. Lula parece estar ouvindo todo mundo. E quer fazer os dois.

Fontes próximas ao ex-presidente confirmaram à reportagem que ele tem conversado com economistas das mais diversas linhas de pensamento e, como ainda não é oficialmente candidato, não tem motivo para pressa em anunciar um único caminho. Enquanto observa qual deles irá tomar, Lula tem feito promessas. Aos empresários da indústria, ele garantiu que haverá um fortalecimento do parque fabril brasileiro. Nas palavras de Lula, isso será feito com “a atenção que esse imenso contingente produtivo merece”. A redução da carga tributária e incentivos pontuais de estímulo estão entre os assuntos em discussão em todas as palestras e encontros a que o ex-presidente compareceu com empresários recentemente.

EX-TUCANO Para reforçar esse discurso, a aproximação de Lula com o ex-tucano Geraldo Alckmin tem caído bem entre os empresários. Dentro de entidades patronais, a discussão sobre o apoio ao ex-presidente já chegou às diretorias. E eles estão propensos a embarcar. Em condição de anonimato, um alto dirigente de uma das maiores entidades do Brasil confirmou que há interesse em pontos da agenda do PT. “Tudo ainda é embrionário, mas essa discussão já está em curso”, disse.

LÁ E CÁ O ex-presidente quer agradar trabalhadores e empresários. Sua aproximação com Geraldo Alckmin reforça essa dupla aposta. (Crédito:Ricardo Stuckert)

Dentro da cúpula petista, o plano inicial é tentar dar um choque de crescimento no primeiro ano de mandato, usando os setores que mais empregam como motor através de benefícios e inventivos, além de lançar um projeto de com pesquisa e desenvolvimento industrial. Também pretende liberar crédito para pessoas físicas e pequenas empresas por meio de bancos públicos e privados, além de manter os benefícios sociais para fortalecer o poder de compra no varejo.

Ainda que esse pacote criasse um aumento considerável da dívida pública, o plano do partido seria firmar um compromisso de médio prazo para redução desses indicadores, com inclusão de projetos de revisão tributária, por exemplo. Trata-se de uma ginástica que envolve muita flexibilidade. Sendo capaz de se dobrar para dois lados, talvez consiga não quebrar.