A pandemia fez o prejuízo das companhias nacionais superar os R$ 20 bilhões. Não existe como sair de uma crise dessas sem dores e mudanças. A Azul, por exemplo, trabalhou em três frentes: internalização de serviços de manutenção, renovação da frota e aumento da produtividade dos colaboradores, ou melhor, tripulantes, como são chamados na empresa. O ganho anual chega a R$ 1,2 bilhão, como afirmou à DINHEIRO Alex Malfitani, vice-presidente de finanças da companhia. “Estudamos ainda outras iniciativas, principalmente relacionadas à tecnologia, para aumentar a eficiência.”

O hangar em Campinas tem importante papel no processo de contenção de despesas. Em dois anos de operação, o espaço de 35 mil m² no interior paulista trouxe retorno importante com a internalização de serviços, o aprimoramento de processos e o menor tempo de parada das aeronaves para a realização de serviços técnicos. De acordo com o executivo, o hangar apenas se torna rentável com sua utilização plena, com turnos de trabalho e diversas linhas. “Não adianta fazer apenas uma manutenção por mês.” No caso da Azul, são 360 pessoaes em atuação em três linhas de manutenção ativas. Esses processos geram economia de recursos para a Azul, que não precisa levar a aeronave vazia para o exterior e, assim, evita que fique parada por muito tempo. A decisão traz economia anual de pelo menos R$ 100 milhões.

Os R$ 100 milhões estão subestimados. O montante foi calculado ainda com o dólar a R$ 4. Agora, com a moeda americana na casa de R$ 5, o ganho é maior. “Porque a manutenção de aeronave é paga em dólar, a exemplo das peças e da mão de obra.” A Azul era obrigada a levar o avião para o exterior, o que gerava custo de combustível, também pago em dólar. “Agora não precisamos mais fazer isso. E a mão de obra, brasileira, é paga em real. Não estou pagando mais aquela margem de lucro cobrada pelo fornecedor quando eu mandava a aeronave para fora.”

Luis Alberto NevesSOLUÇÃO CASEIRA Internalização de serviços de manutenção no hangar gera economia de R$ 100 milhões. (Crédito:Luis Alberto Neves)

O início do funcionamento do hangar ocorreu em meio ao processo de transformação da frota, iniciada em 2016 e com término previsto para o fim de 2025 ou começo de 2026. A substituição de modelos E1 pelo E2, também da Embraer, tem ajudado a empresa a reduzir a queima de combustível em pelo menos 20% ao ano. Uma economia de R$ 800 milhões frente aos R$ 4 bilhões gastos anualmente. “A geração nova reduz muito os custos de aluguel, de manutenção e de combustível.” O querosene de aviação representa o maior custo da companhia, 40%.

Outro foco estratégico no processo de redução de custos da Azul tem sido o aumento da produtividade. Parte desse objetivo envolveu redesenhar os projetos e reconstruir a Azul durante 2020 e 2021. Tecnologias novas, processos novos, comportamentos novos. Durante a crise de saúde, por exemplo, o passageiro se acostumou a fazer o check-in pelo aplicativo ou pelo computador. O novo comportamento diminuiu a necessidade de a empresa ter um atendente no balcão do aeroporto para realizar o serviço.

Com transformações do tipo, a produtividade da força de trabalho em 2022 está 15% mais alta do que em 2019, no período pré-pandêmico — economia anual de R$ 300 milhões em cima de uma folha salarial de R$ 2 bilhões por ano. A empresa chegou a demitir 1,5 mil pessoas durante a crise, mas já recontratou mais de 1 mil. De acordo com o executivo, cada funcionário processava cerca de 500 asks (assento voado por um quilômetro). Agora cada colaborador processa mais de 600 asks. “Consigo atender mais clientes com cada tripulante, voar mais assentos e isso se transforma em produtividade. Então, tudo junto acaba se transformando em centenas de milhões de reais de economia”, afirmou.

Uma situação necessária, segundo ele, em um mundo pós-pandemia de dólar mais alto (R$ 5 contra R$ 4 de 2019) e de petróleo mais caro (US$ 100 o barril, o dobro de anteriormente), por exemplo. “Tudo isso é um desafio para a indústria, e a Azul precisa tomar essas iniciativas para reduzir o custo.” Ao que tudo indica a empresa tem conseguido, simultaneamente ao aumento da procura por voos, e sem economizar no número de destinos atendidos, 153, ou 37 a mais do que antes da pandemia.