Quando o 3G começou a se popularizar no Brasil, a partir de 2007, atores do mercado de telefonia móvel faziam as primeiras comparações das possibilidades que se abriam ao mundo real com a famosa série americana de desenho animado Os Jetsons. Criada na década de 1960, ficou conhecida mundialmente por introduzir no imaginário das pessoas, de maneira bem humorada, uma era futurista. A terceira geração de internet proporcionava a transmissão de voz e imagem em tempo real e colocava o futuro vivenciado pela família Jetson em Orbit City como realidade nas mãos dos consumidores. Passada quase uma década e meia, o tema da animação volta à tona e virou inclusive peça de marketing do Bradesco.

Guardados alguns exageros da licença poética na criação do desenho, estamos em pleno uso do 4G e prestes a alcançar as faixas do 5G com a expectativa de criar conexões e interações entre os objetos, cidades inteligentes, carros autônomos, cirurgias remotas de alta complexidade e outros avanços. “Vai ser um pouco melhor que Os Jetsons”, afirmou à DINHEIRO Eduardo Ricotta, presidente da Ericsson para a região sul da América Latina, ao relembrar o cartoon.

APLICAÇÕES: A Ericsson faz testes do 5G na Usina São Martinho (no alto) e fábrica da empresa em São José dos Campos está sendo modernizada para fabricar equipamentos da nova tecnologia (no alto à dir.). Na capital paulista, a empresa tem 100% de cobertura de redes de infraestrutura (Crédito:Divulgação)

Apesar da descontração na entrevista por videoconferência (uma das tecnologias futuristas utilizadas pelos Jetsons), o trabalho da companhia sueca é sério e lidera o mercado brasileiro de infraestrutura para telecomunicações, com mais de 50% de market share – sendo 100% na cidade de São Paulo, tendo como principais clientes todas as operadoras de telefonia móvel. Ela tem propriedade para analisar e projetar evoluções, já que foi fundada em 1876, em Estocolmo, como uma loja de reparos em telégrafos, e está presente em solo brasileiro há 96 anos. “Mais importante do que possibilidades, o 5G vai trazer inovação fantástica para o Brasil em diversos pontos da economia e deixar o País mais eficiente e mais competitivo.”

No Brasil, a empresa é pioneira em implementar 2G, 3G, 4G e 5G DDS (Dynamic Spectrum Sharing, frequência ainda inferior ao 5G tradicional) e pretende manter a vanguarda e o protagonismo com a quinta geração de internet – o leilão deve ocorrer neste semestre. Para absorver a demanda por equipamentos da nova tecnologia, como antenas e rádios transmissores, a Ericsson investe R$ 1 bilhão na modernização da fábrica de São José dos Campos (SP) e em pesquisa e desenvolvimento de produtos e serviços. Da produção local, 40% são exportados para outros países sul-americanos. “Somos um player importante para o Brasil e essa relevância queremos manter”, disse Ricotta.

A empresa faz testes para aplicação da nova tecnologia. O principal deles em parceria com a São Martinho S.A, que está entre os maiores grupos sucroenergéticos nacionais. A Ericsson viabiliza a cobertura 5G de toda a operação da usina localizada na cidade de Pradópolis (SP). Por lá, entre os casos de uso do 5G estão veículos autônomos como tratores e caminhões e drones para controle inteligente de pragas, além de processos de plantio, colheita, moagem, transporte e embalagem.

O 5G vai demandar novos hubs, data centers, antenas e rádios. Apenas no setor de antenas, serão necessárias 700 mil novas. Hoje são 100 mil instaladas no Brasil para atender as redes 3G e 4G. Uma estrada pelo céu em frequências do 5G e também uma larga via de oportunidades para a Ericsson, embora as dimensões continentais do País imponham desafios adicionais a essas estratégias. Fernando Moulin, professor da Live University e ESPM em disciplinas de campos digitais, ex-executivo com passagens pela Vivo, Claro e Nokia, diz que entre as definições das regras do leilão está a implantação de redes modernas standalone [mais caras também] alinhadas com mercados como China e Estados Unidos. “Isso favorece os fabricantes, que têm alta demanda e podem reduzir preços, e as operadoras, que fazem investimento único em novas redes.”

ESTUDO Segundo estudo feito pela Ericsson, a digitalização das indústrias criará potencial de R$ 67 bilhões até 2030, em receitas endereçáveis para as operadoras. As receitas de negócios gerados a partir da quinta geração de internet atingirão R$ 153 bilhões, dos R$ 391 bilhões da digitalização nos próximos dez anos. Esses números são apenas do reflexo no mercado brasileiro. Globalmente, as cifras são estratosféricas. E a companhia sueca olha para as planilhas financeiras com otimismo para continuar sua retomada de crescimento observada em 2019 e 2020, após prejuízo de US$ 730 milhões em 2018.

“O portfólio 5G nativo da nuvem tem alta taxa de ganho, e novos contratos de clientes começarão a gerar receitas nos próximos 12 a 18 meses” – Börje Ekholm, CEO global da Ericsson (Crédito:Pontus LUNDAHL / various sources / AFP)

Líder em 5G no mundo, a empresa fechou o ano passado com 127 contratos comerciais e 79 redes operacionais no planeta, resultados comemorados pelo presidente e CEO global, Börje Ekholm. “O portfólio 5G nativo da nuvem tem uma alta taxa de ganho e novos contratos de clientes começarão a gerar receitas durante os próximos 12 a 18 meses”, afirmou. “Por meio de investimentos seletivos em P&D para acelerar nosso portfólio de crescimento, nosso objetivo é capturar novas oportunidades.”

A consultoria Gartner destacou o trabalho desenvolvido pela Ericsson no 5G em seu relatório de fevereiro que analisou a infraestrutura de rede para provedores de serviços de comunicação. A companhia foi listada como líder do quadrante mágico, com a finlandesa Nokia e a chinesa Huawei, três gigantes que disputam tanto o mercado global quanto o espaço de atuação no Brasil. A Gartner afirmou que “as ofertas 5G de ponta a ponta da empresa com seus serviços profissionais ajudam a manter uma posição forte para conquistar negócios 5G”. Um passado consistente e oportunidades futuras. Muito além das possibilidades visionárias lançadas em Os Jetsons há 60 anos.