Vai encurtando o tempo até as eleições e ainda pairam dúvidas enormes sobre o que cada um dos candidatos ao Planalto pretende fazer, especialmente na economia, quando chegar lá. As convenções partidárias ocorrem dentro de poucas semanas. Os nomes serão formalizados e o ponto de interrogação persiste sob o aspecto programático. Está evidente para todo mundo que o País não tem como escapar de uma reforma da Previdência e outra fiscal já no início do próximo governo. A questão é quanto aos tipos de reformas, em que bases e extensão elas serão alinhavadas. Ficarão como meros remendos ou entrarão fundo em regras estruturais como o fim dos privilégios para determinadas castas?

Alguns presidenciáveis, de maneira populista para angariar simpatias, falam em simplesmente colocar uma pá de cal sobre tudo o que foi discutido até aqui, trazendo o assunto aposentadorias, por exemplo, à estaca zero. Não há tempo para arrastadas negociações. A bomba-relógio dos benefícios está para explodir faz alguns anos. O mercado inteiro aguarda ansioso pelas medidas do futuro mandatário antes de precificar o futuro do Brasil. Alguns tratam de apontar que o dólar pode passar de R$ 5,50 caso os problemas sigam em banho-maria. E ainda mais grave: analistas temem inclusive a ameaça de situação semelhante à da Venezuela caso nada seja feito. Igual preocupação eles reservam ao campo tributário.

As contas públicas encontram-se cambaleantes, com déficits crescentes, e o modelo de arrecadação está a exigir revisões. Simplificação é a palavra-chave que encanta tanto empresários como investidores. O imposto único, na forma de um IVA, conta com muitos adeptos. No repertório, não podem faltar acertos sobre as despesas vinculadas em educação e saúde, além dos gastos com programas sociais como o Bolsa Família e investimentos na área do PAC. A agenda vasta fica à espera de respostas concretas dos postulantes ao cargo. Eles retardam a discussão enquanto fecham alianças para viabilizar as respectivas candidaturas. Estão tratando do meio ao invés de focar nos fins.

É um problema que aflige toda a sociedade. São vagas as ideias disponíveis em tópicos genéricos como infraestrutura, segurança e saneamento básico. Temas delicados como privatização também são deixados de lado. De uns tempos para cá se inverteram as prioridades de uma eleição. Primeiro faz-se necessário saber com quem cada candidato conta para alcançar o posto máximo. Só depois é acertada a pauta de projetos. Um erro crasso. Típico do modelo de governo de coligação – que virou na prática de “cooptação”. Não se elege mais ninguém de acordo com suas propostas. O que conta e leva toda a atenção dessa turma é o tempo de TV, a base partidária e os acertos de toma-lá-dá-cá para alcançar e se manter no poder.

(Nota publicada na Edição 1077 da Revista Dinheiro)