A movimentação na sede brasileira do BankBoston, na zona Sul de São Paulo, aumentou sensivelmente nos últimos dias. O entra e sai mais intenso de funcionários e clientes marca o início de uma nova fase do banco no País. Depois de meses na defensiva, no período de indefinição que se seguiu à aquisição de seu controle pelo Bank of America em outubro do ano passado, o Boston partiu para o ataque. Em uma tacada só, está contratando mais de 400 funcionários, ?roubando? executivos de ponta da concorrência e ampliando sua área de atuação com clientes corporativos. Trata-se, ao mesmo tempo, de uma estratégia de crescimento e de uma tentativa de pôr um ponto final nas especulações de que o Boston poderia encerrar suas operações no Brasil ? seguindo os passos do Bank of America, que meses antes da fusão com o FleetBoston decidira sair do País. No centro do plano, um objetivo se sobressai: expandir a clientela no setor de pequenas e médias empresas.

Ao que tudo indica, os executivos brasileiros convenceram os novos controladores a ficar no País e entrar com força no segmento de companhias com faturamento entre R$ 2 milhões e R$ 300 milhões ao ano. ?A gente percebe um grande compromisso da direção do Bank of America com o Brasil?, afirma Pedro Meloni, vice-presidente do BankBoston. Bem posicionado entre as maiores empresas do País, o banco pretende explorar novos territórios. ?Agora queremos ser líderes entre as pequenas e médias?, anuncia Meloni. Para atrair esta nova freguesia, o banco vai abrir 25 escritórios especializados em atender esse público. Desde o mês passado, o Boston vem fazendo incursões nos principais bancos do País para formar um novo time de profissionais. Quando este processo estiver concluído, 448 novos funcionários, entre gerentes de relacionamento e analistas de crédito, estarão incorporados à sua folha de pagamentos. Entre eles, algumas estrelas do mercado, como Joaquim Paulo Kokudai, ex-Lloyds e Standard Bank, que está assumindo a tesouraria do banco.

Paralelamente, o Boston acaba de criar a área de fusões e aquisições, que vai ser comandada por Renato Ejnisman, veterano da antiga operação do Bank of America no País. Sua grande aposta, porém, é mesmo no atendimento de pessoas jurídicas. Até o organograma do banco mudou na semana passada, com a criação de uma vice-presidência exclusiva para empresas com faturamento de até R$ 30 milhões. Nesse segmento, o banco tem 12 mil clientes e espera conquistar outros 11 mil nos próximos cinco anos. ?A chance de sucesso é enorme. Temos quase um banco à parte só para atender essas empresas, com crédito, marketing, produtos e call center?, diz Celson Hupfer, superintendente executivo do Boston. Seu objetivo é aumentar o volume de empréstimos de R$ 1 bilhão para R$ 2,5 bilhões em cinco anos.

No segmento das médias empresas, o Boston quer dobrar sua clientela em dois anos. A base atual é de 1.500 companhias com faturamento entre R$ 30 milhões e R$ 300 milhões. Pela meta, o volume de crédito concedido a elas terá de chegar a R$ 9 bilhões em cinco anos. Parece muito, mas o Boston aposta na sua tradição em atender empresas. O banco chegou ao Brasil em 1947, atendendo multinacionais. Hoje tem como clientes 75% das maiores empresas do País. Foi só na década de 90 que o Boston entrou no nicho de pessoa física de alta renda. ?Este é o terceiro momento do banco no Brasil. Se der certo, ele tem chance de consolidar sua marca mais fortemente?, avalia Rodrigo Indiani, analista da Austin Rating.