De dentro de sua casa, sentado em frente a uma prateleira branca repleta de livros e vestindo uma camisa azul clara, Walter Schalka, CEO da Suzano, abriu a câmera de seu computador e anunciou para poucos convidados aquele que promete ser um dos maiores investimentos do País — em todos os setores — neste ano. “Vamos investir R$ 14,7 bilhões na construção de uma nova fábrica de celulose”, afirmou ele com a tranquilidade de quem participa de mais uma das inúmeras reuniões de trabalho, por volta das 11h da quinta-feira (13). A calma do executivo tem respaldo no timing do comunicado. O anúncio foi feito um dia após a empresa ter divulgado os resultados do trimestre com uma geração de caixa operacional recorde de R$ 3,9 bilhões, 65% a mais do que o do ano anterior. “Teremos o melhor ano da companhia e, sem arrogância, anunciamos esse projeto que reforça nosso compromisso com o reinvestimento constante no País a despeito de toda volatilidade econômica”, disse Schalka, que atribuiu a aprovação do projeto pelo Conselho à redução da alavancagem financeira da empresa de 4,3 vezes para 3,8 vezes na comparação dos dois últimos trimestres.

Além dos resultados internos, o bom momento do mercado florestal brasileiro contribuiu para a decisão de tirar o projeto do papel. Em 2020, o setor registrou receita de R$ 97,4 bilhões, 12,5% a mais do que no ano anterior. O resultado foi alavancado pelo bom preço da celulose — atualmente em US$ 826,74 por tonelada para a fibra curta;e US$ 1.029,85 por tonelada para a fibra longa —, pelo câmbio favorável e pela alta demanda do mercado internacional, sobretudo da China.

Para Marcelo Schmid, diretor do Grupo Index, a decisão da Suzano é um indicativo importante para os produtores de árvores. “Essa nova fábrica, assim como outras expansões esperadas, aumentará de forma significativa a demanda por madeira e o setor de floresta precisa se preparar para isso”, disse o executivo. Atualmente o Brasil tem 9 milhões de florestas plantadas, 4,7 milhões delas certificadas.

Com nova unidade instalada em Ribas do Rio Pardo, Mato Grosso do Sul, a empresa expande sua capacidade produtiva em 2,3 milhões de toneladas (hoje são 10,9 milhões). “Esse é um dos maiores projetos privados em curso no Brasil e, quando finalizado, será a maior linha única de produção de celulose do mundo”, afirmou Marcelo Bacci, diretor-executivo de Finanças e Relações com Investidores da empresa. A fábrica será capaz de entregar 10% de todo o volume produzido no Brasil em 2020 (21 milhões de toneladas). Quase a totalidade da produção será para o mercado internacional. Nesse contexto, nem mesmo a pressão externa por boas práticas preocupa a empresa. Ao contrário, tende a ajudar o escoamento da produção que será feita em área de cerrado.

ESG Uma vantagem da nova unidade para mitigar a mudança climática está relacionado ao aumento da oferta de geração de energia renovável. A planta terá capacidade para exportar 180 MW médios ao sistema elétrico nacional via combustível limpo. De acordo com a empresa, a planta, que ficará pronta em 2024, será a primeira do setor considerada livre de combustível fóssil no Brasil. O próximo passo será usar essa unidade para impulsionar ainda mais os planos já públicos da empresa para capturar 40 milhões de toneladas de CO2 nos próximos 10 anos. “Temos um compromisso com a atividade de baixo carbono. Em breve teremos calculado o incremento que conseguiremos com a uidade”, disse Schalka.

Se alguns setores e países estão olhando de cabelos em pé para seus balanços imaginando de onde vão tirar recursos para realizar a necessária transição da matriz energética, a Suzano sabe de cor a resposta. “Em nosso setor não há dicotomia entre eficiência e ESG. Quanto mais ambientalmente correto você é, mais eficiência você ganha”, afirmou Bacci, um diretor de Finanças que acaba de assinar um cheque de R$ 14,7 bilhões para o Brasil.