Lula queria um superministério. E para lá deslocou um homem de confiança, o economista Guido Mantega, que o assessorou em todas as suas campanhas presidenciais. À frente do Ministério do Planejamento, será ele o encarregado de colocar em ordem o orçamento da União, com receitas de R$ 350 bilhões previstas para 2003. Trata-se de sua tarefa emergencial. Mas Mantega terá também que solucionar o que ele próprio vem chamando de ?apagão? no planejamento de longo prazo do Estado brasileiro. ?O Brasil vem sendo gerido há muitos anos pela ótica do curto prazo?, disse à DINHEIRO (leia entrevista ao lado). ?Vamos mudar esse enfoque.? Significa então que o Brasil voltará a ter Planos Nacionais de Desenvolvimento, assim como se fazia no passado, com uma intervenção pesada do Estado na economia? Mantega diz que não. No governo do PT, o que se pretende é coordenar melhor todos os gastos dos ministérios, assim como os programas sociais. Outra das idéias de planejamento estratégico que Mantega tem em mãos é de autoria de Henrique Meirelles, presidente do Banco Central. Meirelles sugere que o governo defina orçamentos de três ou quatro anos com antecedência, de modo a assegurar aos investidores internacionais que as metas de austeridade fiscal são sagradas e não serão colocadas em xeque no futuro.

No segundo ministério mais importante da área econômica, submetido apenas à Fazenda, Mantega jogará afinado com Antônio Palocci. É uma formação bem diferente da de outros governos, em que as duas pastas eram foco de disputas intensas de poder. Foi assim com Pedro Malan e José Serra, no primeiro mandato de Fernando Henrique, e com Gustavo Krause e Paulo Haddad, na gestão de Itamar Franco. E antes de que Mantega fosse escolhido, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a cogitar para o cargo o nome do economista Luciano Coutinho, uma das estrelas da Unicamp. Coutinho só não foi para o governo porque poderia se criar a percepção de divisão na equipe. Com Mantega, reforçou-se a idéia de unidade e coesão. Foi uma vitória pessoal de Palocci, sacramentada apenas quando ficou claro que o PMDB não participaria do governo Lula ? o Planejamento chegou a ser oferecido ao partido durante as negociações. Tanto assim que o próprio Mantega acabou surpreendido com o convite. ?Nem me ligavam mais?, dizia ele, às vésperas da formação definitiva da equipe ministerial.

Cuidadoso, aguardando a transmissão de cargos marcada para o dia 7, Mantega ocupou pela primeira vez o gabinete na quinta-feira 2. Recebeu a visita do colega José Márcio Rego, que assim como ele é economista da Fundação Getúlio Vargas. Mantega leciona Economia Brasileira. Os dois escreveram o livro Conversas com economistas brasileiros e Rego, ao que tudo indica, será um de seus principais assessores. No seu primeiro dia de trabalho, Mantega reuniu-se com técnicos da equipe do ex-ministro Martus Tavares e reviu números do Orçamento, buscando encontrar formas de viabilizar os programas sociais prometidos por Lula. A meta é encontrar R$ 10 bilhões para gastos em ações como o Fome Zero e a Bolsa Escola.

?É HORA DE FALAR EM RECOMEÇO?
Como será o seu Ministério?
Não será intervencionista, apesar de privilegiar o planejamento de longo prazo. Estamos vivendo um longo apagão de planejamento. Temos que recuperá-lo. A idéia é fazer um modelo moderno. Definir estratégias para todos os setores e trabalhar em cima de metas.

Quando essas suas idéias estarão em prática no Planejamento?
Acredito que em cerca de 60 dias o ministério estará funcionando de uma maneira mais prática. Estará encerrada a etapa de transição.

A revisão do orçamento será a sua primeira tarefa?
Tenho como prioridade aumentar as verbas para os projetos sociais. Não posso falar muita coisa antes de passar pela transição do cargo. Preciso primeiro conhecer o ministério. Recebi os documentos do orçamento há uma semana. Além disso, devo seguir à risca a orientação de cortar 10% dos gastos com cargos em comissão.

A atual crise mundial assusta?
Não é hora de falar em crise. Ainda estamos comemorando a posse, o processo de recomeço.

É possível pensar em crescimento?
Minha missão inicial é conseguir viabilizar verbas para os projetos sociais que são prioridades, como a Bolsa Escola e o Fome Zero. O ideal é conseguir fazer economia de gastos públicos e crescer ao mesmo tempo.