“Doutor Henrique chegou”, anuncia a secretária, enquanto mostra apressada o caminho que leva à sala do dono da construtora Tenda. Ali está o homem, metido num elegante terno escuro, gravata de seda combinando, gel no cabelo e… um discreto aparelho nos dentes. O doutor tem só 28 anos. Seu nome é Henrique Alves Pinto, é mineiro de Belo Horizonte, engenheiro de formação, piloto de helicóptero nas horas vagas e, apesar da pouca idade, um veterano no mundo dos negócios. Quer ver só? Aos 16 anos, montou uma empresa de factoring. Aos 20, assumiu a presidência da Tenda, construtora pertencente a seu pai, especializada em imóveis populares e então restrita a Belo Horizonte. Hoje, o jovem e experiente empresário é dono de um império que fatura mais de R$ 170 milhões ao ano. Em suas mãos, a Tenda deixou de ser uma empresa mineira. Invadiu São Paulo, está prestes a entrar no Rio de Janeiro e em breve estréia na Flórida. O grupo familiar também não parou no ramo da construção civil. Henrique investiu R$ 30 milhões nos últimos quatro anos para diversificar as atividades. Tem uma indústria de bebidas energéticas, a Energy Line. Controla um shopping center, hotéis, uma academia de ginástica e escolas de inglês. E ainda possui, em Miami, uma financeira que concede crédito a pequenas companhias, além de uma importadora que leva aos EUA vários artigos brasileiros, de sapatos a móveis de madeira. O que une atividades tão distintas sob a mesma empresa é um público que Henrique conhece de longa data: as classes B e C. Foi financiando apartamentos para este nicho que ele chegou ao topo da construção civil e é para os mesmos consumidores, agora, que o empresário vai vender bebidas, serviços e entretenimento.

A regra do bom e barato não vale só para o Brasil. Agora mesmo Henrique está negociando com os sócios americanos ? que ele não revela quem são ? a entrada da Tenda no EUA. Começará pela Flórida. ?Lá não existem imóveis por menos de US$ 40 mil. Nossa idéia é fazer apartamentos abaixo dos US$ 30 mil?, conta o empresário. Por aqui, a prioridade em 2003 é conquistar o Rio de Janeiro. ?Já compramos vários terrenos por lá.? Desde 1995, quando Henrique foi convidado pelo pai a assumir o comando dos negócios, a Tenda vem crescendo em média 25% ao ano. Em quatro anos de atuação em São Paulo a empresa alcançou a terceira posição do ranking, atrás apenas de Cirella e Gafisa. Os dados são da consultoria Embraesp. A Tenda é hoje a maior construtora popular do País. Especializou-se em erguer apartamentos para famílias com renda mensal de até R$ 1 mil. Seu segredo é uma afinada sintonia com fornecedores, o que lhe garante o baixo custo dos imóveis (R$ 18 mil em Belo Horizonte e R$ 24 mil em São Paulo por apartamento de 48 m2) e o financiamento próprio. ?O consumidor de baixa renda é excelente pagador?, diz Henrique. Hoje, o índice de inadimplência na empresa bate nos 10%, contra média de 19% do setor.

Diversificação. Não é por outro motivo que os demais negócios do empresário obedecem o mesmo princípio e o mesmo fim: negociação árdua com fornecedores para conquistar as classes B e C vendendo bons produtos a preços extremamente convidativos. A Energy Line, por exemplo, nasceu há quatro anos fazendo bebidas energéticas pela metade do valor das marcas consagradas. Depois, evoluiu para as sodas alcoólicas, montou parceria com uma vinícola francesa ? a Vanel ? para fazer vinhos brancos, tintos e espumantes e já pensa em produzir cervejas. ?Somos as tubaínas dos líderes?, rotula Henrique. Todos os produtos são feitos em parceria. A fórmula das bebidas vem da Alemanha. Garrafas, latas e tampas são produzidas em fábricas de médio porte no Brasil e em algumas delas Henrique tem uma pequena participação acionária. A Energy Line cuida basicamente do marketing e da distribuição. É uma estratégia que vem dando certo. No ano passado, a empresa faturou R$ 24 milhões e neste ano já começa a dar os primeiros passos no mercado internacional, com vendas para Europa.

Das bebidas, o empresário salta para os hotéis. Está construindo dois em Belo Horizonte. ?As diárias serão de R$ 50?, revela Henrique. Na mesma cidade, o empresário mantém um complexo de entretenimento que reúne quatro salas de cinema, boliche e 10 restaurantes. Os preços dos ingressos e dos pratos cabem certinho no bolso das famílias de baixa renda. O mesmo modelo de negócios segue na Academia Fitness e nos demais restaurantes do grupo. ?A classe C foi o segmento que mais cresceu em 2002?, atesta Fernando Barreto, vice-presidente do The Boston Consulting Group. Segundo pesquisa do BCG, esta camada da população responde por 28% do consumo nacional, gastando cerca de US$ 226 bilhões por ano. Entre as prioridades no orçamento estão alimentação e moradia, responsáveis por 65% dos gastos mensais. Ponto para o dono da Tenda.