Executivos das maiores empresas do Brasil celebraram a resistência contra a crise na cerimônia de premiação do ranking AS MELHORES DA DINHEIRO 2018, em 13 de setembro, em São Paulo. O evento destacou o desempenho das companhias ao longo de 2017, período marcado pelo fim da pior crise econômica do País. “Nos negamos a nos render e estamos aqui celebrando mais uma noite da resistência do Brasil produtivo e distribuidor de renda justa”, afirmou Caco Alzugaray, presidente-executivo da Editora Três. “É o que precisamos para crescer e nos tornar uma nação mais justa e feliz.” A fala do executivo resumiu bem o espírito no ambiente de negócios. Depois de dois anos de recessão, o Brasil voltou a respirar no ano passado. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1% e o faturamento das maiores companhias subiu 2,1%, para R$ 3,94 trilhões. Mas a lição de casa continua a ser feita diante de uma conjuntura ainda bastante desafiadora.

A melhora da economia perdeu força ao longo deste ano e vem frustrando as expectativas de uma retomada mais firme. O dilema fiscal segue como o maior obstáculo no caminho da confiança, um problema cuja solução caberá ao próximo Presidente da República. Assim esperam os principais executivos do País, para que possam retomar os investimentos pré-crise. A preocupação foi expressa pela mais alta voz da economia, o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia. “O atual sistema é desigual e insustentável do ponto de vista financeiro”, disse Guardia, em seu discurso. “Não resolveremos a questão dos gastos públicos se não atacarmos a questão fiscal.”

A incerteza sobre a sustentabilidade das contas públicas é uma barreira na decisão de investimentos das empresas. Sem a confiança de que a dívida brasileira vai parar de crescer, executivos traçam um cenário de inflação no futuro, que pode levar o País à recessão. Os reflexos são sentidos no curto prazo. O clima de desconfiança na economia vem comprometendo o desempenho da atividade neste ano. E, somado à greve dos caminhoneiros, justificaram uma revisão das perspectivas de crescimento de quase 3% no início do ano, para próximo de 1%. O ambiente hostil aos negócios explica a definição de resistência e coloca em destaque os resultados que ignoram a crise, como os da Telefônica Vivo, eleita Empresa do Ano pelo seu desempenho em 2017. “O grande feito da empresa foi crescer em receita num ano economicamente complicado”, disse Eduardo Navarro, presidente da companhia, à DINHEIRO.

Em 2017, o lucro líquido do grupo espanhol no Brasil avançou 12,8%, para R$ 4,2 bilhões. Ao receber o prêmio, o executivo fez questão de agradecer em nome dos 34 mil funcionários diretos e de outros 130 mil terceirizados. “O nosso compromisso começou há 20 anos, com a privatização da telefonia no Brasil”, afirmou Navarro. “Nesse período investimos mais de R$ 180 bilhões em valores não corrigidos, nos tornando a empresa estrangeira que mais investiu no Brasil, de todos os setores,”, destacou Navarro, ao receber o prêmio. Além de batalhar contra a conjuntura hostil, a companhia vem se dedicando a promover uma reinvenção digital.

Assim como Navarro, Guardia destacou a importância dos investimentos para o País. Para o ministro, estradas, ferrovias, usinas de energia e telecomunicações são fundamentais para que o PIB decole. “Temos um enorme desafio do investimento de infraestrutura para sanar os gargalos. Isso não será resolvido com dinheiro da União por conta da rigidez orçamentária”, afirmou Guardia. “O caminho é a atração do investimento privado. Para isso, precisamos abrir nossa economia para atrair o fluxo de comércio internacional.”

Os grandes conglomerados brasileiros decidiram não aguardar parados a chegada de mais investimentos e a consolidação fiscal. Mostram que também sabem operar na crise. Outras 26 empresas foram premiadas por setor de atuação, como Agronegócio, Combustíveis, Saúde e Varejo (confira a lista completa das vencedoras aqui). A ideia de que as reformas são urgentes é um consenso entre os maiores nomes do empresariado brasileiro. O presidente da Intelbras, ganhadora da categoria Tecnologia, Sofware e Serviços, Altair Silvestri destacou a importância da consolidação fiscal. “Sem isso, o Brasil não sairá dessa mesmice”, afirma Silvestri. “É um País de muito potencial, mas fica amarrado porque o Estado é muito grande e o setor privado não consegue se desenvolver.”

Cinco empresas também foram homenageadas como destaques na Gestão em cinco categorias: Sustentabilidade Financeira, Recursos Humanos, Inovação e Qualidade, Responsabilidade Social e Governança Corporativa. Outro quesito, o Super 20, classificou os 20 maiores conglomerados inscritos no anuário de AS MELHORES DA DINHEIRO 2018. Quem levou o troféu pelo terceiro ano consecutivo, foi a Ambev. “O prêmio é resultado de nossa paixão em produzir cerveja”, afirmou Daniela Rodrigues, diretora financeira da empresa. “Demonstra que estamos no caminho certo de saber como dar satisfação aos nossos clientes.” A cervejaria registrou uma receita de R$ 47,9 bilhões em 2017, uma alta de mais de 5%.

Vencedor como destaque na Gestão de Governança Corporativa, o Bradesco atribui uma coisa boa à crise: a necessidade de inovar. “Trabalhar muito a inovação é um caminho para se enfrentar crises”, afirmou André Rodrigues Cano, vice-presidente executivo do Bradesco. “Nelas você tem a chance de descobrir oportunidades.” A forma de aproveitar essa chance é o que demonstra a vocação dos executivos brasileiros. Como resumiu Caco Alzugaray, da Editora Três: “Os proprietários e CEOs de suas empresas formam a força de resistência a esta onda pesada. Ou melhor, um tsunami que tentou destruir o País.” Seu discurso deixou uma convocação aos empresários: “Não desistam do Brasil. Nós não desistiremos. Como dizemos na Três: vai dar certo.”