Brasil está sem moral no mercado internacional. Embora isso não seja uma grande novidade diante da diplomacia recente, o fracasso do mais recente leilão do pré-sal, na quinta-feira (7), comprova que nem mesmo o petróleo — cujo preço praticamente dobrou entre janeiro e o começo de outubro — convence as multinacionais a colocar dinheiro no País. Apenas cinco das 92 áreas ofertadas receberam proposta. O desinteresse, segundo especialistas, tem dois fatores: a insegurança de investir no Brasil e o risco de aumento da pressão para redução global das emissões de gases de efeito estufa, tornando o petróleo menos atrativo.

As petrolíferas estão, segundo o professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro Edmar de Almeida, mais seletivas em novos projetos de exploração e refino de petróleo para reduzir as chances de perdas bilionárias com negócios que levam décadas para dar lucro. A transição energética, de acordo com ele, que vem substituindo fontes minerais por alternativas de baixo carbono, é um fator de incerteza.

Na avaliação da economista Monise Castro, especialista em petróleo, a perspectiva de um novo governo mais voltado ao meio ambiente em 2022 faz com que muitas áreas de exploração no Brasil sejam vistas com cautela pelas gigantes do setor de energia. Tanto é que as áreas colocadas no leilão que estão próximas a paraísos naturais como a ilha de Fernando de Noronha, em Pernambuco, e o Atol das Rocas, no Rio Grande do Norte, não receberam nenhuma oferta.

Apesar do horizonte de incertezas no setor de petróleo, a companhia anglo-holandesa Shell foi a única operadora a realizar lances no evento, se comprometendo com o pagamento de R$ 37,14 milhões. A empresa arrematou um bloco em parceria com a Ecopetrol e os quatro demais sozinha. Todos estão na Bacia de Santos. Nem mesmo a Petrobras, que costuma fazer os maiores investimentos, deu qualquer lance. A julgar pelo apetite dos investidores no cobiçado pré-sal brasileiro, o velho slogan “o petróleo é nosso” vai refletir a realidade com exatidão. É nosso, e continuará sendo. Afinal, quase ninguém mais o quer.