Henrique Meirelles, o presidente do Banco Central do Brasil, encontra-se em situação paradoxal. Na sexta-feira 23, uma reportagem de IstoÉ demonstrou que ele e seu subordinado, Luiz Carlos Candiota, diretor de Política Monetária do BC, estavam envolvidos em algo que pode no mínimo ser chamado de omissão fiscal. Meirelles fez declarações de bens incongruentes para a Receita Federal e para a Justiça Eleitoral em relação ao ano de 2001 ? além de ter omitido fontes de receita na declaração de 2002. Já Candiota tinha contas não declaradas no Exterior, nas quais movimentou mais de US$ 1,2 milhão. Aí terminou a denúncia e teve início o paradoxo. Diante da acusação, Candiota renunciou ao cargo público e voltou à vida privada na condição de quase réu. Meirelles, não. Entrincheirado no prédio do BC, soltou uma nota dizendo que nada fizera de errado, nomeou o substituto de Candiota e, com total apoio do ministro Antônio Palocci, tenta levar a vida como se nada tivesse ocorrido ? arrostando, inclusive, uma segunda reportagem de IstoÉ, publicada neste final de semana, na qual fica claro que as incongruências de Meirelles não são pontuais. Depoimentos mostram que no mesmo ano de 2001 ele dizia trabalhar no Brasil, embora declarasse renda nos EUA. Ainda assim, Meirelles conta com suporte do mercado, que vê na sua omissão fiscal um pecadilho e na de Candiota um erro grave. Mas é ou não é um paradoxo exigir do subordinado um padrão de conduta mais elevado que o do chefe?

Os próximos dias deixarão claro se Meirelles sabe caminhar na corda bamba. A seu favor está o fato de que a economia, finalmente, dá sinais de crescimento, apesar da política ultracautelosa do BC, que estacionou os juros em 16%. Contra ele, além das suspeitas de comportamento inadequado, pesa o fato de, ao contrário de Armínio Fraga ou Gustavo Franco, Meirelles não ser a alma da política monetária. O mercado tem os olhos voltados para diretores como Eduardo Loyo e Afonso Bevilaqua, economistas que trabalham com modelos de inflação e imprimem o ritmo conservador da queda de juros. Para os operadores do mercado financeiro, a garantia de ?boa conduta? do BC vem desses homens, não necessariamente de Meirelles. Com a saída de Candiota, aliás, os monetaristas ganharam outro representante no Copom. O gaúcho Rodrigo Azevedo, economista-chefe do CSFB Garantia, foi anunciado na terça-feira como novo diretor de Política Monetária. Formado pela USP, ele sempre defendeu a manutenção de taxas de juros elevadas e sua presença vai reforçar no Copom as posições contrárias ao relaxamento da política monetária. Agora serão quatro ortodoxos em um grupo de nove. A entrada de Azevedo, diz quem o conhece, melhora o nível da análise econômica do Copom, mas enfraquece a capacidade de reação da mesa do BC, uma vez que se trata de um instruído economista, não de um operador. ?Se houver uma crise, estaremos piores do que antes?, resume um financista. Se Azevedo for conservador como parece, talvez o País já esteja pior, mesmo sem crise.