O papel do CFO está mudando na era digital. Em outras palavras, foi-se o tempo que dinheiro era o único assunto de um Diretor Financeiro. Isso porque, nos últimos anos, coube ao CFO ajudar a impulsionar mudanças importantes nas companhias, principalmente no que diz respeito à transformação digital.

Dados da Raconteur demonstram que este raciocínio faz total sentido. De acordo com a agência, que fornece informações estratégicas para decisores, 41% das atividades dos atuais CFOs não estão ligadas exclusivamente a finanças. Estamos, aqui, falando de liderança estratégica, transformação organizacional, gerenciamento de desempenho, alocação de capital financeiro e humano, tendências tecnológicas, entre outras coisas.

Muita gente sequer imagina, mas existem diversas formas de fazer com que finanças e inovação colaborem em harmonia em torno de objetivos comuns das empresas. Se, por um lado, tudo o que se refere à inovação remete a um planejamento mais complexo – e colocando em pé de guerra CFOs e Heads de Inovação -, por outro lado essa batalha corporativa imaginada pelo senso comum tem um quê mais fantasioso do que realidade. Pela minha experiência como CFO, asseguro que é possível haver não só colaboração para um trabalho em harmonia e em parceria, mas especialmente para alcançar objetivos comuns, o que é crucial diante do cenário de transformação digital.

A responsabilidade pela busca da inovação não é algo específico do time de Digital. A oportunidade está, na verdade, em todo o processo. É preciso que tanto o departamento financeiro quanto a área de inovação estejam conectados. A inovação precisa ter a liberdade da criação, não podendo ser cerceada pelo financeiro. Em contrapartida, como a inovação é estruturada por um propósito, ela gera, automaticamente, a sustentabilidade do negócio.

Integrar melhor as duas áreas requer resiliência por parte dos líderes, que são constantemente desafiados quando falamos de transformação digital. A efetividade do processo está diretamente ligada ao modelo mental da empresa, não só das duas áreas. Embora o financeiro sempre olhe por margem e retorno, também precisa entender como funciona a inovação, porque às vezes o retorno de uma ação demora a vir. E quem está à frente da inovação também precisa pensar da mesma forma. Se todos se entendem sobre como tudo está sendo conduzido, o potencial de atrito é bastante atenuado.

O CFO precisa deixar de ser visto apenas como uma espécie de guardião das chaves dos cofres da companhia. Como todo executivo C-level, o CFO naturalmente tem uma compreensão de como um negócio gera valor. E hoje, entender sobre o negócio em sua plenitude também significa entender sobre as tecnologias envolvidas e a inovação da área.

Diretores financeiros são naturalmente avessos ao risco, mas, também asseguro que uma parte significativa de uma transformação digital bem-sucedida envolve assumir riscos calculados, que certamente irão contribuir para o futuro da companhia. Se o CFO não compartilha dessa visão, pode tomar decisões que irão atrasar esse processo, e se ele não compreende a relevância da transformação digital, pode se tornar uma pedra no caminho.

Por isso, nosso papel estratégico nos processos de transformação digital deve ser o de um facilitador. Trabalhando em parceria com as áreas de inovação para reconhecer os investimentos primordiais, conseguimos disponibilizar da melhor forma os recursos necessários para a implementação de novas tecnologias e modelos de trabalho. Para isso, precisamos nos adaptar e expandir a nossa atuação adotando uma visão digital. Dessa forma, estaremos preparados para direcionar os recursos de maneira segura e eficiente, e deixaremos de ser apenas os donos da chave do cofre para legítimos CFOs.

  •  Fabio Alvarez é Chief Financial Officer da Neo