Criado para fornecer internet a regiões remotas, sistema Starlink também estaria sendo usado para encontrar e destruir tanques russos, segundo imprensa britânica.Parece ficção científica, mas está acontecendo na Ucrânia: imediatamente após a invasão russa, o vice-primeiro-ministro ucraniano, Mykhailo Fedorov, pediu através do Twitter que o empresário texano Elon Musk ativasse seus satélites Starlink para ajudar a Ucrânia. O americano respondeu logo em seguida, também pelo Twitter: “O serviço Starlink está agora ativo, mais terminais estão a caminho”. Desde então, vários sistemas de recepção e baterias poderosas chegaram à Ucrânia, e Fedorov agradeceu ao americano no Twitter: “O Starlink está aqui. Obrigado, Elon Musk”.

Nada de mensagens secretas, sem longos debates, sem controle de governos ou parlamentos. Simplesmente um acordo fechado aos olhos do público entre um político cujo país é atacado e um bilionário excêntrico que também já desafiou o agressor Putin para um duelo.

Importância militar

O que inicialmente parecia um golpe de relações públicas agora parece estar desempenhando um papel fundamental na defesa nacional da Ucrânia.

É claro que todas essas histórias de sucesso dificilmente podem ser verificadas independentemente, mas de acordo com relatos da mídia britânica, as forças armadas ucranianas estão usando o Starlink com muito sucesso para ataques de drones contra tanques e posições das forças russas. Starlink estaria sendo de grande importância militar, especialmente em áreas estruturalmente fracas, sem conexão com a internet, de acordo com o jornal britânico The Telegraph.

Em particular, a unidade Aerorozvidka, responsável por reconhecimento aéreo, estaria usando a rede Starlink para monitorar e coordenar veículos aéreos não tripulados, que lançariam bombas antitanque de forma bastante precisa, segundo o periódico. A comunicação estável só seria possível nesses casos graças às altas taxas de dados do Starlink.

E no jornal londrino Times, um oficial da unidade Aerorozvidka descreve a operação: “Usamos equipamentos Starlink e conectamos a equipe de drones com as tropas de artilharia. Os drones podem assim determinar alvos e passar a posição para um soldado de artilharia”.

De acordo com o militar, até 300 missões de reconhecimento são lançadas todos os dias. Os ataques ocorreriam principalmente à noite, já que os drones, alguns dos quais equipados com câmeras de imagem térmica, dificilmente podem ser vistos no escuro.

É importante ressaltar mais uma vez: a veracidade de tais declarações não pode ser verificada por um órgão independente.

Mas mesmo que parte disso seja pura propaganda: o uso do Starlink realmente desempenha um importante papel militar – mesmo que apenas psicologicamente.

Sistema para uso civil

Os satélites Starlink destinam-se, na verdade, a fornecer internet a regiões carentes e distantes das cidades. O sistema também poderia ajudar a fornecer informação a populações sob a censura de regimes autocratas. Mas certamente os criadores não se pensaram em uma zona de guerra europeia na qual o agressor ataca propositalmente o infraestruturas de energia e internet.

Graças ao Starlink, a população ucraniana ainda tem ou recuperou o acesso à informação. De acordo com The Telegraph, o Starlink está entre os downloads de aplicativos mais populares na Ucrânia.

Mais de 100 mil pessoas podem descobrir o que está acontecendo na guerra e manter contato com o mundo exterior. O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, também usa os satélites Starlink para dirigir seus discursos aos seus compatriotas ou aos parlamentos de todo o mundo.

Starklink é, portanto, já de grande importância – além do uso militar – ,não só para o moral da resistência ucraniana, mas também para o apoio mundial à Ucrânia.

Starlink como alvo russo

O sistema de Musk provavelmente se tornará ainda mais importante nos próximos dias, já que a Rússia continuará tentando destruir a infraestrutura da Ucrânia, incluindo fornecimento de energia e internet.

Ao mesmo tempo, é claro, isso significa que os sistemas de recepção da Starlink também se tornarão alvo dos ataques russos.

O maior perigo, no entanto, é que os dispositivos receptores podem ser localizados quando estão em operação. “Liguem o Starlink apenas quando necessário e coloquem a antena o mais longe possível das pessoas”, recomendou Elon Musk em um tuíte no início de março.

Bate-boca no Twitter

Além dos ataques direcionados, o lado russo aparentemente também está tentando obstruir com interferências o acesso ao sinal de internet vindo do espaço. Mas de acordo com a SpaceX, a empresa já tem uma solução pronta: uma nova atualização de software reduz o consumo de energia e pode contornar as interferências russas, segundo Elon Musk no Twitter.

O apoio ativo de Elon Musk à Ucrânia é visto do lado russo como um ato claramente agressivo: de acordo com Dmitry Olegovich Rogozin, chefe da agência espacial russa Roskosmos, as atividades do Starlink são uma interferência ocidental na guerra. “Quando a Rússia implementa seus mais altos interesses nacionais no território da Ucrânia, @elonmusk aparece com seu Starlink, anteriormente declarado como puramente civil”, reclama o russo.

O chefe da SpaceX reagiu à dura acusação no Twitter da maneira lacônica de sempre: “A internet civil na Ucrânia apresentou estranhas falhas – talvez por causa do mau tempo? – então, a SpaceX está ajudando a repará-la”.