Se o toque do seu celular ou de algum amigo é uma música, agradeça (ou culpe) o sul-africano Ralph Simon. Foi ele quem criou essa tendência há mais de dez anos. Em meados dos anos 90, Simon teve a ideia de usar músicas famosas como toques para celular. As gravadoras americanas chiaram e o negócio não foi para frente. Mais tarde, em 1998, ele conseguiu uma autorização de uso de músicas para esse fim na Austrália. Logo o negócio se espalhou. Primeiro pela Ásia e depois por todo o mundo. As gravadoras haviam encontrado uma nova forma de ganhar dinheiro com a nascente música digital. Muitas outras empresas entraram nesse filão. Em 2003, Simon vendeu a sua empresa Yourmobile para a gigante francesa do setor de telecomunicações, Vivendi. “Ganhei um bom dinheiro e vivo muito bem”, contou Simon, sem revelar valores, em entrevista exclusiva à DINHEIRO. Ele esteve de passagem por São Paulo em setembro para participar do Mobilefest, um festival de tecnologia móvel. 

 

No auge, o mercado de ringtones (como são conhecidas as músicas usadas como toque de celular) chegou a faturar mundialmente cerca de US$ 5 bilhões em 2006, de acordo com a consultoria The Arc Group. Hoje, as estimativas indicam que ele ainda é bilionário, mas com receitas próximas de US$ 1,5 bilhão.

 

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Ralph Simon, fundador e CEO da Mobilium

 

Os ringtones não deixaram de ser moda, como os dados podem fazer supor. Eles ainda são ouvidos nos celulares de milhões de pessoas ao redor do mundo. Mas a facilidade de criar seu próprio ringtone e a disseminação de músicas de forma gratuita – e, muitas vezes, ilegalmente na web – fizeram com que o mercado encolhesse. 

 

“As coisas mudaram, mas sempre soube que a importância dos celulares no nosso dia a dia cresceria”, afirma Simon. Ele também se reciclou. Fundou uma empresa chamada Mobilium, baseada em Londres, que presta consultoria  digital para grandes nomes, como a cantora Lady Gaga e a banda U2. 

 

Gaga, aliás, é um fenômeno da música digital. Além de ser a primeira artista a romper a marca de um bilhão de clipes vistos online, sua música Poker Face foi a mais vendida digitalmente em 2009, com quase dez milhões de faixas. Mas, afinal, qual música toca quando alguém liga no celular do pai dos ringtones? Uma chamada providencial esclarece. “London Calling”, da banda britânica The Clash, começa a ser ouvida durante a entrevista Simon saca um telefone com uma capa rosa do seu paletó, mas é o aparelho errado. 

 

Rapidamente, um modelo amarelo aparece e ele atende a ligação, com um pedido de desculpas. Quando retorna, diz que tem cinco celulares, cada um com uma música diferente. No Brasil, está apenas com dois. No seu aparelho americano, a canção escolhida é “Poker Face”, de Lady Gaga. 

 

O mercado de ringtone pode estar em queda, mas o uso de músicas que insistem em tocar – não raro quando o dono do aparelho está distante ou ocupado – segue forte. 

 

 

A evolução da música digital


Conheça os principais marcos da música na era da internet

 

1993: MP3 – O formato que permitiu a popularização da música digital é criado pelo instituto alemão Fraunhofer

 

 

1998: Ringtone – Ralph Simon obtém na Austrália a autorização para usar músicas como toque de celular

 

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1999: Napster – Site populariza a música digital e a troca de arquivos pela web. Em 2000, havia 50 milhões de usuários 

 

 

2001: iPod – Apple lança um tocador de música digital.  Em quase dez anos, a empresa vendeu mais de 250 milhões de aparelhos

 

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2002: Last.fm – As rádios online se popularizam. O serviço hoje pago indica músicas do seu gosto e é uma comunidade online de música

 

 

2004: iTunes Store – Loja da Apple que já vende 12 bilhões de faixas. Atualmente, comercializa filmes e programas

 

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2007: Grooveshark – Site que permite ouvir músicas online, diretamente no seu computador ou smartphone