07/10/2022 - 4:20
Se existe um setor que navega numa transformação como nunca antes é o campo da saúde. Não apenas pelo mundo pós-pandemia, que mudou a relação de todos com o própria corpo. Mas também pelo avanço tecnológico e científico acelerados e que levam a novos tratamentos e soluções. Tudo amplificado pelo aumento da expectativa de vida, que fará com que as empresas do segmento mudem até mesmo seu modelo de negócios para atender, e entender, esse novo cenário. É em meio a tantas variáveis que Jeane Tsutsui conduz o gigante Fleury no cargo de CEO. “O propósito une e motiva nossa organização”, disse a executiva à DINHEIRO. “E ele significa ser mais acessível, integrado e sustentável.” Literalmente, ter o paciente no centro das decisões, filosofia que levou à terceira conquista consecutiva no setor Saúde de AS MELHORES DA DINHEIRO 2022.
Quando trata de sustentabilidade, Jeane fala principalmente de resultados consistentes para a companhia, que caminha para seu centenário — o grupo nasceu em 1926. A receita bruta em 2021 foi recorde, chegando a R$ 4,2 bilhões, crescimento de 30,1% sobre 2020. O crescimento orgânico, quando se desconsideram as aquisições, foi de 24%. O Ebitda somou R$ 1,1 bilhão, e o lucro líquido ficou em R$ 374,7 milhões. A quantidade de exames se aproximou de 100 milhões (99,2 milhões), sendo 1,9 milhão apenas de testes de Covid. Os resultados no primeiro semestre deste ano continuam agressivos. A receita bruta cresceu 20,3% sobre o primeiro semestre do ano passado e atingiu R$ 2,370 bilhões, com Ebitda de R$ 624,6 milhões, ou 16,8% mais que em 2021. O lucro líquido variou levemente para baixo (-1,7%), fechando em R$ 181 milhões.
“Cada vez mais teremos uma jornada integrada para oferecer saúde de qualidade dentro de um ecossistema” Jeane Tsutsui, CEO.
Números superlativos, em especial num momento econômico desafiador, já que o acesso do brasileiro a planos de saúde está muito vinculado a pacotes corporativos. De acordo com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o número de beneficiários de planos privados fechou em dezembro com 49 milhões de vidas, alta de 1,5 milhão sobre 47,5 milhões de 2020, mas ainda assim representa menos de um a cada quatro brasileiros. Do total de beneficiários, 69% tinham um plano coletivo empresarial. A conta é simples: o mundo privado sustenta o sistema. No fim do ano passado, o desemprego atingia 12 milhões de pessoas — caiu para ainda elevados 9,7 milhões em agosto.
Por esse motivo o Fleury também busca ampliar não só o número de atendimentos, seja de forma orgânica ou por aquisições, mas principalmente mexer no portfólio de produtos e serviços. “Nosso core é a medicina diagnóstica”, disse Jeane. “Mas cada vez mais teremos uma jornada integrada para oferecer saúde de qualidade dentro de um ecossistema.” Hoje, 93% das receitas do grupo ainda derivam do segmento de medicina diagnóstica. Por esse motivo novas unidades começam a ganhar destaque.
Os Novos Elos, como são chamados dentro do Fleury, englobam especialidades como fertilidade, infusão, oftalmologia, oncologia e ortopedia, áreas em que fatores como novos hábitos ou principalmente o envelhecimento populacional são determinantes. “Até 2025, nós vamos dobrar a população acima de 65 anos.”
A medicina diagnóstica continuará sendo, segundo Jeane, o core da operação. As novas áreas servirão à ampliação dos serviços “para pacientes que já confiam nas nossas marcas”. Porque a mudança do perfil populacional levará a mais cuidado das pessoas com a saúde e a busca por mais qualidade de vida. Isso está intrinsecamente vinculado à medicina preventiva. No mundo todo, os custos de saúde crescem acima da inflação. No Brasil, não é diferente. Segundo o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), a inflação médico-hospitalar ficou 2,7 vezes acima do IPCA. E aí entra o posicionamento do Fleury. O diagnóstico precoce está na raiz de manter os custos sob controle. “Isso garante a sustentabilidade de todo o sistema”, disse Jeane.
A executiva, CEO desde abril de 2021, entrou no Fleury em 2001. Nessas mais de duas décadas, viveu a empresa nos detalhes. No tático e no estratégico. Esse profundo conhecimento da história é que dá consistência para os planos de futuro da empresa. Hoje, o Fleury tem de cientista de dados ao uso de inteligência artificial para incorporar a transformação digital ao segmento e ao dia a dia da corporação. “A gente não apenas sabe onde quer chegar, e os resultados que temos entregado, mas igualmente sabemos que precisamos fazer ainda mais”, disse a CEO. “Vivemos num País que pede isso.”