Se existe um setor que navega numa transformação como nunca antes é o campo da saúde. Não apenas pelo mundo pós-pandemia, que mudou a relação de todos com o própria corpo. Mas também pelo avanço tecnológico e científico acelerados e que levam a novos tratamentos e soluções. Tudo amplificado pelo aumento da expectativa de vida, que fará com que as empresas do segmento mudem até mesmo seu modelo de negócios para atender, e entender, esse novo cenário. É em meio a tantas variáveis que Jeane Tsutsui conduz o gigante Fleury no cargo de CEO. “O propósito une e motiva nossa organização”, disse a executiva à DINHEIRO. “E ele significa ser mais acessível, integrado e sustentável.” Literalmente, ter o paciente no centro das decisões, filosofia que levou à terceira conquista consecutiva no setor Saúde de AS MELHORES DA DINHEIRO 2022.

Quando trata de sustentabilidade, Jeane fala principalmente de resultados consistentes para a companhia, que caminha para seu centenário — o grupo nasceu em 1926. A receita bruta em 2021 foi recorde, chegando a R$ 4,2 bilhões, crescimento de 30,1% sobre 2020. O crescimento orgânico, quando se desconsideram as aquisições, foi de 24%. O Ebitda somou R$ 1,1 bilhão, e o lucro líquido ficou em R$ 374,7 milhões. A quantidade de exames se aproximou de 100 milhões (99,2 milhões), sendo 1,9 milhão apenas de testes de Covid. Os resultados no primeiro semestre deste ano continuam agressivos. A receita bruta cresceu 20,3% sobre o primeiro semestre do ano passado e atingiu R$ 2,370 bilhões, com Ebitda de R$ 624,6 milhões, ou 16,8% mais que em 2021. O lucro líquido variou levemente para baixo (-1,7%), fechando em R$ 181 milhões.

JEANE TSUTSUI Empresa: Fleury. Cargo: CEO. Destaques da gestão: Crescimento de 30% na receita bruta, Ebitda de R$ 1,1 bilhão, novos elos de negócios para atender envelhecimento populacional. (Crédito:Divulgação)

“Cada vez mais teremos uma jornada integrada para oferecer saúde de qualidade dentro de um ecossistema” Jeane Tsutsui, CEO.

Números superlativos, em especial num momento econômico desafiador, já que o acesso do brasileiro a planos de saúde está muito vinculado a pacotes corporativos. De acordo com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o número de beneficiários de planos privados fechou em dezembro com 49 milhões de vidas, alta de 1,5 milhão sobre 47,5 milhões de 2020, mas ainda assim representa menos de um a cada quatro brasileiros. Do total de beneficiários, 69% tinham um plano coletivo empresarial. A conta é simples: o mundo privado sustenta o sistema. No fim do ano passado, o desemprego atingia 12 milhões de pessoas — caiu para ainda elevados 9,7 milhões em agosto.

Por esse motivo o Fleury também busca ampliar não só o número de atendimentos, seja de forma orgânica ou por aquisições, mas principalmente mexer no portfólio de produtos e serviços. “Nosso core é a medicina diagnóstica”, disse Jeane. “Mas cada vez mais teremos uma jornada integrada para oferecer saúde de qualidade dentro de um ecossistema.” Hoje, 93% das receitas do grupo ainda derivam do segmento de medicina diagnóstica. Por esse motivo novas unidades começam a ganhar destaque.

Os Novos Elos, como são chamados dentro do Fleury, englobam especialidades como fertilidade, infusão, oftalmologia, oncologia e ortopedia, áreas em que fatores como novos hábitos ou principalmente o envelhecimento populacional são determinantes. “Até 2025, nós vamos dobrar a população acima de 65 anos.”

A medicina diagnóstica continuará sendo, segundo Jeane, o core da operação. As novas áreas servirão à ampliação dos serviços “para pacientes que já confiam nas nossas marcas”. Porque a mudança do perfil populacional levará a mais cuidado das pessoas com a saúde e a busca por mais qualidade de vida. Isso está intrinsecamente vinculado à medicina preventiva. No mundo todo, os custos de saúde crescem acima da inflação. No Brasil, não é diferente. Segundo o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), a inflação médico-hospitalar ficou 2,7 vezes acima do IPCA. E aí entra o posicionamento do Fleury. O diagnóstico precoce está na raiz de manter os custos sob controle. “Isso garante a sustentabilidade de todo o sistema”, disse Jeane.

A executiva, CEO desde abril de 2021, entrou no Fleury em 2001. Nessas mais de duas décadas, viveu a empresa nos detalhes. No tático e no estratégico. Esse profundo conhecimento da história é que dá consistência para os planos de futuro da empresa. Hoje, o Fleury tem de cientista de dados ao uso de inteligência artificial para incorporar a transformação digital ao segmento e ao dia a dia da corporação. “A gente não apenas sabe onde quer chegar, e os resultados que temos entregado, mas igualmente sabemos que precisamos fazer ainda mais”, disse a CEO. “Vivemos num País que pede isso.”