Em 1995, o empresário Carlos Augusto Montenegro, dono do Grupo Ibope, foi convocado para uma reunião por Homero Icaza, diretor de tecnologia da empresa. Durante a conversa, Icaza disse ao chefe que a estrutura de processamento de dados do grupo estava sendo subaproveitada. 

 

Sua ambição era usar parte da parafernália para oferecer um novo serviço ao mercado. Nascia ali a GRV Solutions, cujo grande mérito foi a criação e a operação do Sistema Nacional de Gravames (SNG). O serviço funciona assim: no ato da concessão do financiamento de um veículo, o funcionário do banco aciona o SNG e registra a transação. 

 

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Ele gera um código que é enviado automaticamente para todos os 27 Detrans do País, indicando que aquele bem foi dado em garantia para uma transação. Isso impede, por exemplo, que o veículo troque de dono antes da quitação do débito. Por inclusão é cobrada uma taxa de R$ 34. 

 

O valor é relativamente pequeno. Mas Montenegro enxergou aí a chance de faturar com a alta demanda que existe nesse mercado. O dono do Ibope não participa do dia a dia do negócio, cuja gestão é profissionalizada. Como presidente do conselho de administração, contudo, acompanha as decisões estratégicas. 

 

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Bossle, CEO: executivo planeja investir R$ 150 milhões na expansão da empresa

 

A GRV Solutions, que atua independente do Grupo Ibope, vai faturar R$ 320 milhões. Valor próximo da receita do Ibope: R$ 425 milhões.Agora, a empresa pretende levar o serviço para o setor imobiliário. A ideia é interligar os cerca de dois mil cartórios brasileiros. “A verificação de restrições legais do candidato a mutuário, que hoje dura até 20 dias, poderá ser concluída em minutos”, diz Fabrício Bossle, CEO da GRV. 

 

Para viabilizar o negócio, o executivo prevê investimentos de R$ 150 milhões na compra de equipamentos e no desenvolvimento de softwares. Os primeiros acordos estão sendo assinados com cartórios de Paraná, Goiás e Distrito Federal. Os contratos com os bancos ainda estão em fase de negociação. 

 

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Montenegro, do Ibope: ele atua como presidente do conselho de administração

 

O principal desafio do executivo, no entanto, será levantar os recursos para bancar a expansão. A opção pela abertura de capital, que estava sob os cuidados do banco JP Morgan, acabou abandonada. “Como nosso foco era o investidor estrangeiro, fomos atropelados pelo IPO da Petrobras”, lamenta Bossle, da GRV Solutions. 

 

Para analistas, o cancelamento da operação não deverá ter impacto negativo na imagem da empresa. “Para corporações de médio porte, a abertura de capital só é viável quando o mercado está aquecido”, diz Lucas Copelli, diretor da Vallua Consultoria e Gestão. 

 

O Sistema Nacional de Gravames Imobiliário deverá entrar em operação até o final do ano. A ambição do CEO da GRV é que essa divisão responda por cerca de 8% das receitas em 2011, crescendo de importância na medida em que o serviço se populariza entre os agentes financeiros.