Movidos por mensalidades pagas por milhões de trabalhadores, pelo Imposto Sindical e verbas do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), os motores da máquina sindical estão ligados. Não para promover greves ou campanhas salariais. A ordem unida em sindicatos e centrais é atuar na campanha eleitoral. Em todo o País, quase cem sindicalistas estão inscritos em vários partidos como candidatos às eleições. Um negócio atraente para ambas as partes. Enquanto os candidatos tentam ampliar a área de atuação para além das fronteiras de suas categorias profissionais, os partidos políticos que os recebem passam a contar com o apoio de entidades com sedes físicas, gráficas montadas, automóveis e militância acostumada ao contato popular. Estima-se que as duas maiores centrais sindicais do País, a CUT e a Força Sindical, administrem orçamentos de quase R$ 100 milhões. ?A estrutura dos sindicatos e das centrais pode substituir com ganhos a ausência de organização dos partidos, que muitas vezes nem sede possuem nas pequenas cidades?, avalia o cientista político Murilo Aragão, da Arco Advice.

Na safra deste ano, despontam dois dos mais conhecidos sindicalistas brasileiros. Com o apoio formal da Central Única dos Trabalhadores, Luiz Marinho tenta um salto da presidência do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC para o Palácio dos Bandeirantes. Ele pode se tornar vice-governador de São Paulo se o deputado federal José Genoíno ganhar o governo paulista pelo PT. Na tentativa de subir ainda mais alto, Paulo Pereira da Silva deixou temporariamente a presidência da Força Sindical para se tornar o vice do candidato Ciro Gomes à Presidência. Pela primeira vez desde a sua fundação, a CUT firmou oficialmente a posição de apoiar em primeiro turno o candidato Lula, do PT. Em alta velocidade, a central está montando em cada Estado comitês sindicais para o petista. Uma tarefa facilitada pelo fato de a entidade manter 3,2 mil sindicatos filiados no País. ?Trocar o sindicalismo pela política é uma opção natural num movimento que busca constantemente a renovação?, assinala Marinho, o companheiro de chapa de Genoíno.

 

A Força Sindical não fica atrás. ?Temos 50 mil militantes no Brasil fazendo neste momento a campanha da chapa Ciro-Paulinho?, assegura o presidente da central, João Carlos Gonçalves, o Juruna. Na semana passada, ao desembarcar em Recife para se reunir com sindicatos locais, o candidato a vice-presidente Paulinho usufruiu dessa máquina: cerca de 500 motoristas de táxi, cuja entidade sindical é filiada à Força, o esperavam para um buzinaço a partir do aeroporto. ?Comigo ao seu lado, Ciro ganhou uma estrutura que poucos partidos têm?, acredita Paulinho. Pretensão? Não para uma organização que receberá este ano mais de R$ 30 milhões em verbas do FAT, possui 1.790 sindicatos filiados e contabiliza uma base de 16 milhões de trabalhadores. A legislação veda a entidades sindicais o apoio financeiro a candidatos, mas não há meios de impedir que um sindicalista peça votos a um colega durante assembléias ou visitas a empresas, nem que seus correligionários ingressem em sua campanha. ?A ditadura impediu os sindicatos de fazerem política?, lembra Juruna. ?O que se vê agora é mais um lance de retomada do tempo perdido.? E com muito dinheiro em jogo.