Quando se fala em ?corrida do ouro?, costuma-se pensar em uma guerra comercial onde se constróem fortunas. Mas a corrida do ouro travada hoje é para definir, entre as grandes empresas mineradoras do mundo, quem conseguirá ganhar escala suficiente para sobreviver. A previsão dos especialistas é que, nos próximos anos, haja uma quebradeira geral ? o valor do metal atingiu os níveis mais baixos dos últimos vinte anos ? e, para escapar dela, os sobreviventes estão partindo para fusões. Na semana passada a americana Newmont Mining, segunda maior do setor, comprou a Battle Mountain Gold por US$ 557 milhões e se aproximou da primeira no ranking do setor, a Anglo Gold, do grupo sul-africano Anglo American. Duas semanas antes, a terceira maior produtora mundial, a também sul-africana Gold Fields, havia se unido à canadense Franco-Nevada Mining, num negócio de US$ 3,7 bilhões. Especialistas acreditam que, em alguns anos, restarão apenas quatro grandes ? além da Anglo, da Newmont e da Gold Fields, os analistas apostam na canadense Barrick.

O valor do ouro está em queda livre desde 1996, quando os bancos centrais da Holanda, Canadá e Austrália decidiram se desfazer de suas reservas do metal. O Reino Unido, bastião do conservadorismo monetário, seguiu-os no ano passado. Desde então as cotações caíram 24%, figurando na lista dos piores investimentos dos últimos tempos. No mesmo período, o índice Dow Jones teve valorização de 87% e o Ibovespa subiu 60%. As indústrias precisam cortar custos para ganhar escala e sobreviver. Juntas, conseguem negociar preços e condições de pagamento mais atrativos.

O brilho do metal já não é o mesmo. Em plena época da explosão do consumo de luxo, o ouro, antes cercado de glamour e badalação, passou a ser encontrado em canetas e chaveiros com freqüência inacreditável alguns anos atrás. Enquanto outros produtos se sobrevalorizaram nos últimos anos, como o vinho de primeira linha francês, o ouro transformou-se em uma simples commodity, como o milho, o trigo, a soja e o arroz. Com o fim da guerra fria, sua posição como ?moeda mundial? e ?porto seguro? foi roubada pelo dólar. No início da década, 4,5% de todo o ouro no mercado era encarado como investimento. Hoje, dez anos depois, apenas 3,4% são usados como ativo financeiro. No Brasil o ouro também deixou de ter importância no mercado. A Vale do Rio Doce, por exemplo, deseja há algum tempo desfazer-se do setor que explora esse mineral, mas não encontra comprador.