No plano das intenções, o que está desenhado para a economia brasileira em 2019 pode ser encarado como o melhor dos mundos. Do setor público ao privado, a palavra de ordem parece ser uma só: investir, com todos os efeitos positivos decorrentes desse movimento. É uma disposição que, em muitos casos, já evoluiu à prática. Ainda no apagar das luzes do ano passado, a FGV foi a campo checar o estado de confiança industrial e trouxe números reluzentes. Das corporações pesquisadas, nada menos que 31% delas informaram ter certeza de que realizarão investimentos ao longo do atual exercício.

Várias entre essas confirmaram já estar executando os desembolsos. Outras 43,1% se disseram “quase certas” de novas inversões. No universo consultado encontravam-se companhias de diversos setores, dos transportes ao de máquinas pesadas, siderúrgicas, mineradoras etc. A melhora no ambiente para fazer negócios parece ser uma sensação que predomina majoritariamente nas empresas ouvidas. E as condições positivas nesse sentido vão da inflação controlada aos juros em patamares quase civilizados, estoque de reservas cambiais confortáveis e, principalmente, a mudança de governo. Há uma declarada aposta na gestão que se inicia e ela está ancorada em pressupostos que o mercado compra como ideais.

O programa liberal do ministro Paulo Guedes, por exemplo, que inclui privatizações em série e desafogo tributário para as corporações, soa como música à produção. Foi essa a tese econômica que os empreendedores compraram na eleição e é ela que eles querem ver adotada o quanto antes. O roteiro otimista de crescimento inclui, obviamente e como pilar basilar, a reforma da Previdência. A premissa de que tanto o mandatário Jair Bolsonaro como o seu ministro Guedes darão prioridade máxima ao assunto trás uma certa tranquilidade aos agentes econômicos. Se tudo correr bem, dentro do script, eles acreditam em um avanço da ordem de 2,5% a 3% no PIB no ano. Seria a confirmação de que a estabilidade se consolidou após o longo período recessivo.

Alguns receios ainda permanecem especialmente quanto ao impacto de eventuais crises externas. O FMI tem falado sistematicamente em recuo do crescimento no mundo. As mexidas de rumo nos EUA preocupam. As diferenças já manifestadas com a China, também. O concerto das Nações no âmbito do Mercosul deve sofre novo solavanco a partir da intenção do presidente Bolsonaro e de Guedes de rever os modelos de parceria. São fatores que não podem ser desconsiderados. Mas, se ao final deste primeiro semestre, o Governo tiver conseguido avançar ao menos na implantação das reformas e na recuperação dos empregos, já terá tido uma vitória digna de nota e fará jus, com louvor, às expectativas depositadas nele pelo empresariado.

(Nota publicada na Edição 1102 da Revista Dinheiro)