Nubank anunciou na quinta-feira (15) que vai pedir à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e à B3 uma mudança na categoria de seus Brazilian Depositary Receipts (BDRs). Os papéis serão rebaixados do nível III para o nível I. Na prática, a fintech está deixando o mercado acionário brasileiro. A decisão causou muita confusão nas redes sociais após a divulgação. Muitos entenderam que a empresa estaria deixando de operar no país, o que não é verdade. “A mudança vai apenas permitir que o Nubank não tenha mais nenhuma obrigação burocrática com o indivíduo que possui suas ações”, afirmou o sócio fundador da Catarina Capital José Augusto Albino.

Segundo Albino, o Nubank não será mais obrigado a divulgar o seu balanço em português. Os resultados trimestrais deverão ser divulgados, de forma obrigatória, somente em inglês e no órgão regulatório do mercado acionário americano, a U.S. Securities and Exchange Commission (SEC).

Os especialistas ouvidos por DINHEIRO se dividem com relação ao impacto da decisão sobre o bolso dos minoritários. O analista da plataforma de educação financeira Top Gain, Sidney Lima, afirmou que não haverá vantagens para os acionistas brasileiros e que eles devem ficar atentos. “O Nubank não vai precisar mais ser transparente com o investidor como o Bradesco, Magazine Luiza, Vale e outras empresas listadas na B3”, disse. Já o sócio e assessor de Renda Variável da Acqua Vero Investimentos, Heitor de Nicola, avalia que a mudança terá pouco impacto. “Nada muda para o investidor, tanto que o papel não apresentou nenhuma movimentação brusca”, disse.

JURO AMERICANO Até agora, os papéis do Nubank não têm apresentado um bom desempenho nos pregões. O banco abriu seu capital em Wall Street no fim de 2021. A queda acumulada desde então até a quarta-feira (21) é de 55,8%, considerando-se a cotação de fechamento do dia do Initial Public Offering (IPO). Isso não tem relação com a mudança do nível dos BDR.

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“A gestão e o desempenho do Nubank são bons, mas as ações seguirão fora de nossa carteira enquanto o aperto monetário do Fed não acabar” José Augusto Albino sócio fundador da Catarina Capital.

De acordo com Albino, da Catarina Capital, todo o setor de fintechs sofreu nos últimos meses. O motivo é o ciclo de alta de juros nos Estados Unidos. Quando o Nubank abriu o capital, os juros definidos pelo Federal Reserve (Fed), o banco central americano, estavam em 0,25% ao ano. Desde março deste ano, a equipe chefiada por Jerome Powell entrou em um ciclo de aperto monetário. Na reunião de quarta-feira (21), o Fed elevou a taxa mais uma vez em 0,75 ponto percentual deixando a taxa básica de juros americana em 3% ao ano. “Todo o setor de fintechs e bancos digitais sentiu o aperto monetário porque com ele o custo do capital aumentou e o segmento é um consumidor voraz de capital”, disse Albino.

Em meio a esse cenário macro adverso para o Nubank, Albino retirou as ações da companhia de seus fundos de investimentos. “A empresa possui uma boa gestão e tem performado bem, mas enquanto o aperto monetário do Fed não acabar, ela e outras fintechs devem ficar de fora da nossa carteira”, afirmou.

Outro problema para a empresa é que com a inflação e a alta dos juros, os clientes do banco no Brasil podem começar a encontrar dificuldades financeiras. O ciclo de alta de juros brasileiros foi aparentemente encerrado pelo Banco Central (BC), também na quarta-feira, com a manutenção da taxa referencial Selic em 13,75% ao ano.

→ Começou errado… US$ 4 deveria ser o teto do preço das ações do Nubank na abertura de capital, segundo Bruno Komura, da Ouro Preto Investimentos

→ … e não se acertou 55,8% foi a queda acumulada das ações do Nubank entre o fechamento do dia do IPO e a quarta-feira (21). A cotação caiu de US$ 11,85 para US$ 5,24.

Mesmo assim, os comunicados do BC indicam que a Selic deve permanecer em patamares elevados por mais tempo do que o esperado. Sendo assim, a inadimplência dos clientes tende a ser um grande problema para empresas como o Nubank. É por isso que o analista da Ouro Preto Investimentos, Bruno Komura, pede um pouco de cautela para o investidor. “Precisamos ver os próximos resultados da companhia para ver como a inadimplência está se comportando, se os números não forem ruins, até pode valer a pena”, afirmou.

Ele é mais cético que Albino com as perspectivas para o Nubank, e disse acreditar que o forte recuo das ações foi por causa de uma má precificação no IPO. “O papel deveria valer entre US$ 3,00 e US$ 4,00, e não US$ 9,00”, disse. Sua tese compara o Nubank com concorrentes como Itaú e Bradesco. “A empresa estaria negociando a cerca de três vezes o valor patrimonial. Os grandes bancos não negociam nesse patamar. O Itaú está próximo a 1,4 vez e o Bradesco a 1,2 vez”, afirmou. Lima, da Top Gain, também recomenda ficar longe das ações “Não vejo Nubank como um investimento seguro. Acredito inclusive que se olharmos para um segmento do setor financeiro existam empresas melhores”, disse ele.