A tecnologia virou o cerne de todos os negócios. Não seria diferente com a educação. Na escola do futuro, será cada vez mais comum notar inovações como inteligência artificial e realidade aumentada. Um estudo realizado recentemente pela Pearson, dona das redes de franquias de ensino de idiomas Wizard, Yazigi e Skill, mostra que 83% dos brasileiros consideram que dispositivos inteligentes e aplicativos serão usados para auxiliar alunos num futuro próximo. Além disso, 77% dos entrevistados acreditam que a inteligência artificial tem um impacto positivo para a educação. “A tecnologia de idiomas no aprendizado já é uma realidade”, diz Piero Franceschi, vice-presidente de franquias da Pearson no Brasil.

A empresa acaba de investir R$ 2 milhões para desenvolver, em parceria com a startup Explore Aprendizagem Criativa, um projeto after school para a bandeira Yazigi. Voltado a crianças e adolescentes entre seis e 14 anos, o programa pretende estimular competências como empatia, autonomia, criatividade e o pensamento crítico dos alunos. “Segundo a nossa pesquisa, 48% dos pais entendem que as escolas básicas não preparam seus filhos para o que eles encontram nesse mundo complexo e volátil em que vivemos”, diz Franceschi.

A modalidade contará com uma carga horária de oito horas semanais, dividida em dois dias da semana, com aulas bilíngues. Durante esse período, as crianças terão atividades de tecnologia, com montagem e programação de robôs; artes, incluindo a encenação de peças autorais; e atividades físicas que estimulem o desenvolvimento da criatividade e autonomia. A Pearson pretende implantar o projeto em ao menos 50 das 290 unidades da rede Yazigi no País em 2020. Em três anos, toda a rede deverá estar adaptada.

Também há novidades para Wizard, principal bandeira do grupo, com 1.280 pontos físicos. A rede desenvolveu um novo programa educacional chamado Future 7, que aborda disciplinas de inteligência emocional, educação financeira, mentalidade digital e pensamento lógico. A estratégia é atender as necessidades do público adulto para o mercado de trabalho. “Sentimos que as universidades não oferecem soft skills, ligados a comportamento e comunicação, e os alunos sentem muita falta disso. Por isso, mudamos a forma como pensamos o nosso negócio para atender melhor esse cliente”, diz Fransceschi. “O programa que já está disponível em 600 escolas, mas a ideia é levá-lo para a rede inteira.”

Na rede CNA, a tecnologia vai muito além do ensino: é utilizada até na gestão das franquias. “Hoje, a comunicação entre franqueador e franqueado é totalmente on-line, tanto através de sistemas de gestão como por meio de portal”, afirma Décio Pecin, CEO do CNA. “Isso proporciona uma relação menos atritosa para que o franqueado possa cuidar do que é essencial para ele: a gestão da escola e dos alunos”. Em seus livros didáticos, a empresa também trabalha com QR Code para conectar os alunos até a página da plataforma CNA Net, onde eles podem acessar jogos, ilustrações e textos complementares às atividades trabalhadas no material didático.

AFTER SCHOOL Piero Franceschi, da Pearson, que investiu R$ 2 milhões em projeto para complementar o ensino básico com robótica, artes e comportamento (Crédito:Divulgação)

“Os jogos são uma parte utilizada, principalmente pelos alunos teen”, afirma Pecin. “Também estamos trabalhando com realidade aumentada nos nossos livros, o que proporciona sensações inovadoras”. Hoje com 585 escolas, a rede pretende chegar à milésima unidade em 2025. O CNA também desenvolveu recentemente um curso de aprendizagem 100% virtual. “São aulas ministradas por professores de verdade, em salas de verdade. Para isso, nós lançamos um portal do aluno extremamente renovado, que parece uma rede social e que entra no ar em janeiro de 2020”, diz o executivo.

Diante de tempos de crescimento econômico inócuo, o setor de educação segue ganhando espaço. No terceiro trimestre deste ano, o mercado de ensino movimentou R$ 3,2 bilhões, 5% a mais em relação a igual período do ano anterior. Segundo André Friedheim, presidente da Associação Brasileira de Franchising (ABF), as franquias de educação souberam se reinventar, desenvolvendo soluções que integram os canais físico e virtual. “A tecnologia que eles usam é aplicada em várias etapas do processo, incluindo aplicativos, EAD e realidade virtual”, diz. Ainda assim, aprender um segundo idioma continua a ser um desafio. Dados do instituto cultural British Council mostram que apenas 5% da população brasileira sabe se comunicar em inglês, e que apenas 1% o faz isso com fluência. “Como a quantidade de pessoas que domina outra língua ainda é muito pequena, o potencial de crescimento desse mercado é vasto”, afirma Friedheim, da ABF.

GAsTRONOMIA A rede de franquias paranaense Influx investiu R$ 500 mil para desenvolver sua plataforma Seven, um ambiente personalizável onde os alunos podem optar por aprender temas de maior interesse pessoal. Estão disponíveis ferramentas ligadas ao ensino de inglês com base no estudo de áreas como gastronomia, música e arte. “Ele tem um conceito de gamification. Conforme o aluno vai avançando, é como se ele escalasse uma montanha”, compara Leonardo Paixão, CFO e cofundador da Influx. “Os alunos aprendem inglês e espanhol de uma forma lúdica e dentro de um tema sobre o qual têm interesse. Então, o aprendizado fica mais fácil e dinâmico”. A rede passa por um momento de expansão avançada e deve terminar o ano com 170 unidades implantadas – hoje, são 155, sendo três operações próprias. A projeção de faturamento total para a rede este ano é de R$ 350 milhões, alta de 20% em relação a 2018.

Mesmo diante de assédio de concorrentes, a empresa se mantém firme. Segundo Paixão, há pouco tempo, os empresários Carlos Martins Wizard e Flavio Augusto fizeram, por meio do BTG Pactual, uma proposta de compra da empresa. Para Augusto, CEO e controlador da Wiser Educação, que comprou em 2017 a rede de escolas Number One, a consolidação do mercado será liderada por sua empresa. “Não temos hoje ninguém, além de nós, comprando. Vamos buscar consolidar e escolher as melhores operações para trazer para a nossa holding”, diz Augusto. Na Wise Up, principal bandeira da Wiser Educação, a tecnologia está sendo implementada para a parte de gestão da empresa. Prova disso é que 50% dos atendimentos aos mais de 120 mil alunos da rede são realizados por meio de robôs atualmente. Esses são os sinais de uma tendência inexorável para o mercado de ensino de idiomas no Brasil.