Atrajetória do carioca Fabio Szwarcwald é comum — para executivos do mercado financeiro americano. Ele trabalhou mais de duas décadas em bancos de investimento brasileiros como o Votorantim, atualmente BV, e subsidiárias de instituições financeiras internacionais, como Gulfinvest e Credit Suisse. No auge da carreira, trocou o mercado financeiro pela arte. Desde o início de 2020, Szwarcwald comanda o histórico Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

O MAM-RJ é um dos principais museus da América Latina. Abriga 16,5 mil obras de arte moderna e contemporânea brasileira, um centro de pesquisa e documentação e uma cinemateca. Fundado em 1948, mesmo ano que o Museu de Arte de São Paulo (Masp), o MAM-RJ abriga um dos maiores acervos de arte moderna do Brasil. São três coleções complementares: a do museu, com 7.137 obras, a Gilberto Chateaubriand, com 6.621 obras e a Coleção Joaquim Paiva, dedicada exclusivamente à fotografia, com 2.687 obras — e crescendo.

Para um país que assistiu impassível à destruição do Museu Nacional por um incêndio, não surpreende que o MAM-RJ estivesse sem foco nem governança definida. “O museu possui um equipamento cultural maravilhoso, mas não atuava como deveria, não inovava, não criava oportunidades para o público se desenvolver”, disse o executivo. Para piorar a situação, ao receber o convite para cargo, ele foi avisado que não haveria dinheiro público.

Para Szwarcwald, nada muito surpreendente. Ao deixar o private bank do Credit Suisse, ele foi convidado para resolver um problema financeiro com outra instituição cultural carioca, o Parque Lage, de cujo conselho já participava. O governo do estado havia se comprometido com algumas despesas, mas o dinheiro não saiu e o parque estava endividado e com as contas atrasadas. O autor dos convites foi André Lazaroni, então secretário estadual de cultura durante o controverso mandato de Luiz Fernando Pezão. As condições para assumir o Parque Lage não foram exatamente tentadoras. “Ele disse logo que não havia dinheiro nem para pagar os meus serviços”, afirmou Szwarcwald, que tempos depois, foi chamado para o MAM. Nas mesmas condições. E aceitou.

Apesar de a situação financeira não estar tão apertada, o museu padecia de alguns problemas. Em primeiro lugar, era visto como um lugar de e para a elite, e recebia poucos visitantes. “Precisávamos fazer com que o MAM voltasse a ser um local onde as pessoas quisessem se conectar”, disse. Dentre as medidas para isso, uma óbvia: baratear a entrada. Agora, o MAM segue o exemplo de museus como o Metropolitan de Nova York e opera com base em um sistema de contribuição sugerida. O visitante paga o quanto achar justo, e se não quiser pagar nada, tudo bem. “Vir até o centro do Rio de transporte público é algo que já faz diferença no orçamento de uma família de quatro pessoas de baixa renda, então não sobra muito para pagar entradas”, disse o executivo. Outra medida foi colocar o enorme acervo cinematográfico na internet, para aumentar o número de espectadores. Há programações semanais, gratuitas.

FINANCIAMENTO Como financiar tudo isso? A saída foi semelhante à das empresas que querem captar recursos no mercado: aprimorar a governança. O universo das artes e dos museus é um clube seleto e fechado. Para aumentar a transparência, as contratações passaram a ser feitas em processos públicos, e não mais por indicação. Outra mudança foi no direcionamento de recursos, em que os patrocinadores eram convidados a se associar a projetos educacionais e de transformação. Em agosto do ano passado, oito meses após sua chegada, o executivo montou a área de relações institucionais do MAM e saiu em busca de patrocínios. Os resultados vieram. Quando Szwarcwald assumiu, o museu tinha três patrocinadores. Atualmente são 28. Além de tradicionais financiadores da cultura, como a mineradora Vale (que nunca havia patrocinado o MAM antes), empresas como B3, XP e Wilson, Sons estão entre os patronos. Nada mau para alguém que admite ter começado a colecionar obras de arte por acaso. “Adquiri um apartamento novo e fui a uma galeria, porque precisava de alguns quadros para decorar as paredes.” Porém, o que era apenas um acessório em uma casa nova logo passou a ser uma paixão. Szwarcwald começou a frequentar exposições, conviver com artistas e a investir. O resto é história.