Quando a empresa de telefonia Oi entrou com um pedido de recuperação judicial, em junho de 2016, havia uma única certeza: não seria fácil chegar a um acordo, dada as proporções envolvidas no processo. A começar pelo valor da dívida de R$ 65,4 bilhões com 67 mil credores. A lista inclui diversos fundos internacionais, bancos brasileiros, fornecedores de todos os tipos e tamanhos e a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o órgão regulador do setor. Soma-se a isso o fato de que os dois principais acionistas da operadora, a Pharol (ex-Portugal Telecom) e a Société Mondiale, do empresário Nelson Tanure, brigam para não diluírem demais suas participações na renegociação da dívida. É, sob qualquer ângulo, um rolo e tanto.

“A Oi tem condições de sair dessa situação, pois é uma empresa que gera caixa” Schroeder, CEO
“A Oi tem condições de sair dessa situação, pois é uma empresa que gera caixa”
Schroeder, CEO (Crédito:Divulgação)

O responsável por resolver esse imbróglio é o executivo Marco Schroeder, que assumiu o comando da Oi em junho, dez dias antes da empresa que já foi considerada a supertele nacional entrar com o maior pedido de recuperação judicial da história brasileira. Quatro meses depois de seu primeiro plano, que foi muito criticado pelos credores, Schroeder acredita que, agora, tem projeto viável para começar a tirar a operadora do buraco. “Ninguém, nem os acionistas, nem os credores, tem interesse que a Oi quebre”, diz Schroeder à DINHEIRO. “A Oi tem condições de sair dessa situação, pois é uma empresa que gera caixa.”

O novo plano de recuperação da Oi será apresentado na quarta-feira, 1º de fevereiro, em reunião do Conselho da Oi. Ele introduz algumas novidades em relação à primeira versão, que foi mal recebida pelos chamados “bondholders”, detentores de títulos da dívida internacional da Oi, que somam aproximadamente R$ 32 bilhões. Apresentado em setembro, ele propunha que parte dos créditos fossem convertidos em ações, até o limite de R$ 32 bilhões, ou fossem pagos a partir do 11º ano de recuperação, em parcelas semestrais corrigidas. Agora, a ideia de Schroeder é reduzir essa dívida para R$ 10 bilhões, um deságio de quase 70%, pagando R$ 5 bilhões em um prazo a ser negociado com os credores e transformando os outros R$ 5 bilhões em participação acionária.

A diluição dos acionistas atuais é o grande X da questão do novo plano de Schroeder. Hoje, a Oi vale R$ 2,6 bilhões na BM&FBovespa. Até agora, os dois lados da negociação têm sido duros nesse ponto. Tanto a Pharol, que detém 22,2% do capital total da operadora, como a Société Mondiale, dona de 6,3%, lutam para não perder tanto poder na nova configuração acionária. “Muita gente da companhia não quer largar o osso”, afirma uma fonte, que negociou com a Oi, referindo-se a dificuldade dos atuais acionistas de abrirem mão de suas participações. Mas, dado o tamanho da dívida da Oi, será difícil chegar a um acordo sem que os credores assumam uma fatia considerável da empresa.

Antes de entrar com o pedido de recuperação judicial, os bondholders queriam uma fatia de 90%, apurou a DINHEIRO. A Oi oferecia 60%. Não houve acordo, naquela ocasião. “Se ninguém ceder, a Oi vai quebrar ou o governo vai intervir”, diz outra fonte, que acompanha de perto os desdobramentos da situação da Oi. Outro ponto do plano de Schroeder são os ativos que devem ser colocados à venda. Na primeira proposta, 100% dos recursos arrecadados iriam para o caixa da Oi. Agora, a nova versão prevê que 50% fiquem com a operadora e a outra metade seja usada para amortização antecipada da dívida.

A tele brasileira é dona de operações na África e no Timor Leste, cujo valor contábil é de R$ 4 bilhões. Além disso, a empresa pode ainda se desfazer de torres de celulares e espera a aprovação da polêmica nova Lei Geral de Telecomunicações, que pode abrir espaço para a venda de imóveis, os chamados bens reversíveis. Hoje, a Oi é dona de mais de sete mil imóveis que poderiam ser passados adiante, reforçando o caixa da companhia. Por fim, Schroeder quer incluir no plano uma política de restrição de pagamentos de dividendos. Essa medida já ganhou até um importante defensor.

“Propomos que a companhia não distribua dividendos pelo período mínimo de cinco anos e que todo o caixa livre gerado seja investido na modernização e em melhorias de sua rede”, afirmou Tanure, em uma entrevista à versão digital do Jornal do Brasil, do qual é dono. No papel, o plano parece perfeito e de fácil execução. Mas a tarefa de colocá-lo em prática será difícil. Desde que entrou em recuperação judicial, diversos interesses, nem sempre convergentes, batalham pelo controle da Oi. Os credores estão organizados com diversos advogados e assessores jurídicos para olhar com lupa todas as vírgulas dos planos apresentados pela operadora.

Uma parte dos detentores de títulos da DIN1003-OI5dívida internacional é representada pela Moelis & Company. Esse grupo está unido ao egípcio Naguib Sawaris, que fez uma proposta alternativa para a recuperação judicial da Oi, que prevê aporte de US$ 1,2 bilhão. Outros bondholders estão com a G5, uma butique de investimentos, fundada por Corrado Varoli, ex-presidente da Goldman Sachs para a América Latina. Além desse grupo, dois fundos abutres, especializados em comprar empresas com dificuldades financeiras, têm interesse na Oi. Ambos sinalizam com aportes de recursos para ficarem com uma fatia do capital da operadora brasileira.

São eles o Elliot e o Cerberus. Este último está associado a Ricardo K., da RK Partners e ex-presidente da Brasil Telecom, que ajudou na reestruturação da dívida das empresas do enrolado Eike Batista (saiba mais sobre o empresário na página 38). Até agora, nenhum deles fez uma oferta formal. O Elliot, do bilionário americano Paul Singer, deve apresentar uma proposta de R$ 9,2 bilhões para ser apreciada pelos conselheiros da Oi, na quarta-feira 1º, na mesma reunião que terá a apresentação do plano de Schroeder. “Não há nenhum santo nessa negociação”, afirma uma fonte do setor de telecomunicações. “Todos defendem até o limite os seus interesses, o que é legítimo.”

Ao mesmo tempo em que negocia uma solução para sua gigantesca dívida, a Oi toca sua vida. Quando entrou com pedido de recuperação judicial, em junho, a operadora contava com R$ 5,1 bilhões em caixa. Até dezembro, a estimativa do mercado é que tenha R$ 7,9 bilhões. A companhia investiu R$ 4,7 bilhões em 2016. A meta é aumentar em 6% os investimentos neste ano, para aproximadamente R$ 5 bilhões. Como afirma um dito popular que todo mundo proclama: a vida continua na Oi. O que ninguém sabe ainda é como ela vai sair – e de que tamanho – desse rolo todo.

Correção: a primeira versão dessa reportagem tinha uma incorreção sobre a proposta da Oi, informando que ela pagaria R$ 5 bilhões em dinheiro aos bondholders. Na verdade, se aprovado, esse pagamento será feito ao longo do tempo, em prazo negociado com os credores.