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Arison, dono da Carnival: 45 barcos e companhia que vale US$ 15,4 bilhões

 

Quando o navio MS Zuiderdam, um gigante de 82 mil toneladas avaliado em US$ 400 milhões, zarpou do porto de Fort Lauderdale há poucos dias, um seleto grupo de pessoas se reuniu para comemorar o batismo do maior transatlântico da Holland America, com capacidade para 1,8 mil passageiros. No salão repleto de paredes envidraçadas, móveis clássicos e vista privilegiada para o mar, homens com seus melhores ternos e mulheres em longos vestidos de gala brindavam com champanhe o acontecimento. Entre eles, um senhor de barba e óculos poderia passar desapercebido. Os conhecidos o chamavam de Micky, e para ele a festa era mais do que entretenimento. Micky é o dono do navio. Aliás, ele é dono de muitos outros transatlânticos como aquele. Para quem não o conhece, vamos às apresentações: o senhor Micky Arison, de 53 anos, é o maior armador do mundo, com uma frota de 45 navios de cruzeiro. Em seu portfólio de negócios, também aparecem o time de basquete Miami Heat, a rede de hotéis West Mark e até uma empresa de ônibus com 300 veículos de luxo. Juntas, suas empresas faturam US$ 4,37 bilhões, lucram US$ 1,02 bilhão e foram responsáveis por transformá-lo em figurinha carimbada da lista dos 100 mais ricos dos EUA. Em 2002 sua fortuna somou US$ 3,5 bilhões, o que o colocou na 46ª posição.

Micky é o que se pode chamar de capitão dos mares. Para muitos é um novo Onassis ? em alusão ao polêmico armador grego que fez fortuna nos oceanos. Dono da Carnival Corporation, empresa listada na Bolsa de Nova York com valor de mercado de US$ 15,4 bilhões, Micky comanda seis companhias de cruzeiro: Carnival, Holland America, Windstar, Seabourn, Cunard e a Costa Cruzeiros. Isso mesmo, aquela Costa Cruzeiros, que faz parte do cenário do litoral brasileiro, é a ponta de lança da Carnival Corporation por aqui. Para ela, Micky reservou planos ambiciosos neste início de ano: com investimentos de US$ 1 bilhão, ele encomendou dois navios para reforçar a frota da Costa, e atuar no Brasil. ?Vamos inaugurar o Costa Mediterrânea e o Costa Fortuna até o fim de 2003?, revelou Micky em entrevista exclusiva à DINHEIRO.

A estratégia do comandante é alavancar o número de passageiros da Costa Cruzeiros e, por tabela, aumentar a participação deste segmento no mercado brasileiro de turismo. ?O setor de cruzeiros no Brasil ainda engatinha. Estamos trabalhando para que ele cresça rapidamente?, diz. Comparado ao mercado americano, o Brasil tem um enorme potencial de expansão. Dados do Conselho Internacional das Linhas de Cruzeiro (ICCL) mostram que a indústria nos EUA em 2002 movimentou US$ 20 bilhões e transportou 7,6 milhões de passageiros. No Brasil, o número de pessoas que navegaram na temporada passada foi de 90 mil. Para este ano, a previsão é de um crescimento de 25% no mercado nacional, que alcançaria 120 mil passageiros. Nessa maré de otimismo a Costa navega em velocidade máxima. ?Estamos com dois navios nessa temporada e criamos novos roteiros?, diz Renê Hermann, presidente da Costa no Brasil. Com isso, espera o executivo, o faturamento saltará de US$ 18 milhões para US$ 22 milhões. ?Navegar proporciona diversão, boa comida e mordomias a bordo. É mais do que um resort em terra firme oferece e por um preço menor?, diz Micky.

 

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Em terra firme: Bilionário investiu US$ 215 milhões em um estádio (à esq.) para o seu time de basquete Miami Heat

 

O armador fala com a autoridade de quem se tornou referência no assunto. ?Quem pensa em cruzeiros não pode deixar de mencionar Micky ?, elogia Adam Sacks, analista da consultoria americana Dri-Wefa, especializado na indústria de turismo. Micky faz parte de uma linhagem que se formou nos mares. Seu pai, Ted Arison, criou a Carnival, em 1972, com um único barco usado, e reinventou o conceito turístico das grandes viagens marítimas. Na época, os cruzeiros serviam principalmente como um meio de transporte. Roteiros? Duravam de 20 dias a 30 dias. Foi Ted quem revolucionou essa indústria e inaugurou a era das viagens curtas. Junto com ele, Micky guiou a Carnival ao porto seguro da liderança de mercado. Não é difícil entender como chegaram lá. Quem vê o armador cantando ?Bye Bye Miss American Pie?, um clássico da música americana, ao lado dos passageiros em um dos bares do navio MS Zuiderdam compreende rápido sua fórmula: simplicidade e presença constante para entender o que as pessoas querem de um navio. ?Passo vários dias navegando ou supervisionando meus barcos?, diz ele.

Foi assim desde o seu ingresso na companhia, em 1974, quando deixou os estudos para aprender na prática como se fazia negócio. De gerente de vendas ele subiu degrau por degrau até chegar a CEO do grupo em 1990. Em quase 13 anos sentado na principal cadeira da companhia, Micky fez com que as receitas da Carnival Corp crescessem 650%, ou, em média, 50% ao ano. Foi justamente a façanha de erguer o maior grupo naval da atualidade que levou muitos a rotularem Micky como o novo Aristóteles Onassis. A comparação é inevitável: Onassis também começou sua aventura nos mares com um navio usado. Assim como o pioneiro grego, Micky é agressivo nos negócios. Em 1987, por exemplo, ele ofereceu 20% das ações da companhia ao mercado e recebeu uma injeção de capital de US$ 400 milhões. Com isso, foi às compras. Levou a centenária Holland America e a Windstar em 1989. Continuou sua expansão adquirindo a Seabourn, em 1992, e comprou a Costa Cruzeiros em 2000. O próximo alvo é a britânica P&O Princess, que havia recebido uma proposta de US$ 3,6 bilhões da rival Royal Caribean. Micky contra-atacou com US$ 4,9 bilhões. Agora só falta o aval das comissões antitrustes americana e européia.

 

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Lançamento: Dentro do Zuiderdam estão expostas obras de arte avaliadas em US$ 3 milhões

 

Enquanto o negócio não sai, ele vai investir US$ 5,8 bilhões em 13 novos navios até o fim de 2006. Demanda não falta. ?A indústria de cruzeiros vai transportar 8,3 milhões de passageiros, em 2003, 8% a mais do que em 2002?, diz o analista Adam Sacks. Nesse cenário a Carnival está bem servida, pois suas companhias oferecem os mais diversos tipos de cruzeiros, dos mais luxuosos aos espartanos. Enquanto a Costa é ?popular?, a Holland America, por exemplo, é considerada a melhor companhia na categoria cinco estrelas. ?A Holland é uma companhia super premium e diferenciada das demais?, diz Martha Koszutski, dona da agência Pier 1 e representante da marca no País.

Quando pisa em um de seus navios, Micky só se apresenta com ternos bem cortados e gravatas de seda italiana. Anda pelos corredores como um autêntico anfitrião, proporcionando o melhor para seus convivas. Esse Micky é bem diferente daquele que assiste aos jogos do Miami Heat. Nessas ocasiões, ele senta-se à beira da quadra no American Airlines Arena, estádio que consumiu investimentos de US$ 215 milhões. Em poucos minutos, esquece sua condição de dono do time e se transforma num fanático torcedor. Na temporada de 2000, os Heat perderam dos New York Knicks por 83 a 82 na semifinal do campeonato. Nervoso, Micky esbravejou: ?O juiz foi o culpado pela nossa derrota?. O desabafo lhe custou caro. Levou um puxão de orelha e foi multado em US$ 25 mil pela NBA, liga de basquete americano. O armador desconversa: ?O meu hobby é assistir aos jogos dos Heat?. Assim como também é seu hobby colecionar dezenas de navios que valem milhões de dólares.